Unidos no Amor: a missão em Parintins como expressão de uma Igreja em saída
No último mês de julho, o Seminário Maior Dom André José Coimbra, motivado e organizado pela COMISE – Comissão Missionária dos Seminaristas realizou uma missão em Parintins, estado da Amazônia. Cerca de 20 seminaristas, dois diáconos, um sacerdote e Dom Cláudio, bispo de Patos de Minas, foram acolhidos pelo bispo de Parintins, dom Juliano e pela paróquia de Nossa Senhora de Lourdes e depois enviados às comunidades ribeirinhas, bem como às várias comunidades urbanas da paróquia num período de 10 dias. Foi uma experiência missionária riquíssima que tive a oportunidade de fazer e que passo agora a compartilhar com vocês. O tema da missão foi “Unidos no amor”! Um amor que nos conclama a assumirmos nossa vocação e a vivermos nossa vida de serviço como um Dom e não como uma temerosa obrigação.
Da beleza natural e riqueza incomensurável do “Rio-Mar” Amazonas
Por um lado, a beleza do Rio amazonas é inegável. Sua extensão é impressionante, fazendo-nos render graças a Deus pela obra de sua criação; por outro compreendemos porque o rio suscita tanta ambição no coração daqueles que veem nele uma oportunidade de enriquecimento, tão somente, acompanhada pela floresta amazônica. Foi inevitável, inúmeras vezes, no nascer e no por do sol, elevar o coração a Deus e fazer uma prece de agradecimento.
Da acolhida das comunidades urbanas e ribeirinhas
O povo parintinense, com o qual tivemos a oportunidade de conviver naqueles dias de missão, não deixa nada a desejar em relação à acolhida, afeto e carinho com que nos recebeu e nos acompanhou todos os dias da missão. Mesmo nas situações mais desafiadoras, devido às visíveis dificuldades materiais, desdobraram-se para nos fazer sentir a alegria do convívio e do cuidado com o outro.
Da cultura popular como expressão viva do vínculo com a fé cristã católica
Inúmeras noites culturais e apresentações locais nos mostraram a riqueza de uma fé e da cultura popular na manutenção dessa mesma fé. Este último aspecto, ao meu ver, de uma importância singular, pois na enorme extensão do estado e com um clero reduzido, a expressão popular preserva a fé em seus elementos essenciais permitindo que as comunidades se mantenham vivas apesar da escassa presença dos ministros ordenados. Tivemos contato com comunidades, por exemplo, que não celebravam a eucaristia há mais de 2 dois anos. Ainda assim, a expressão da fé era viva e arraigada, demonstrando o qual fecundo fora o papel das missões naquele estado.
Do desafio de usufruir e cuidar da riqueza natural
Em se comparando com a extensão do Rio e da própria floresta amazônica, conheci uma vírgula, por assim dizer, de sua riqueza e potencial natural. Mas o bastante para compreender o porquê de tantos interesses nesta parte do Brasil. Mas percebi que tal riqueza natural não está ameaçada apenas pelos interesses gananciosos de políticos, grileiros e CIA, mas pelo “descuido” com o que o Rio é tratado pela própria população que dele retira seus recursos naturais para a sobrevivência. O descaso e o maltrato chegam a ser escandalosos: muito lixo jogado no rio, esgoto ao céu aberto sem nenhum tipo de tratamento antes de desembocar no rio, pouca fiscalização e políticas insuficientes de cuidado e zelo com essa parte do Brasil considerada, sem exagero, coração do mundo!!! Fui em missão para perceber também que há muita missão a ser assumida pelos de lá mesmo!!!
De uma Igreja engajada na vida do povo e atenta às suas necessidades
É inegável a presença da Igreja Católica na vida dos parintinenses. Para começar, ao lado de cada Igreja, uma escola. E não se trata apenas de configuração arquitetônica não. A Igreja investe muito e constantemente na educação e em recursos financeiros para tal. Somam-se a isso, investimentos na área da saúde e na ajuda a diversas famílias que encontram, em terras adquiridas pela Igreja para tais fins, acolhimento e guarida para viverem a vida. Tal presença é refletida na manifestação da fé através de uma expressão popular de fé, como já observamos, e numa devoção mariana (à Nossa Senhora do Carmo) cuja manifestação fica em terceiro lugar em todo o Brasil.
Do desafio da “drogadição”
Infelizmente a droga chega facilmente aos recantos do Brasil. Pior ainda, as drogas lícitas como o álcool, por exemplo, que tem ceifado inúmeras vidas de mestiços e nativos nas aldeias, perdidos pela invasão de seu território, apresentando-lhes, muitas vezes, uma vida sem sentido e um apelo consumista que ilude e distancia-se de seu estilo natural de viver. O acesso à bebida é, tantas vezes, facilitado por pessoas da própria comunidade que, não percebendo o mal que a bebida pode fazer e/ou aproveitando-se desta ocasião com interesses financeiros, colocam em risco a vida de tantos.
Da alegria de viver a experiência de uma Igreja em Saída
Partilhei apenas uma parte da experiência vivenciada nas missões em Parintins. Muitas outras vivências poderia ainda partilhar, mas as que aqui reporto são o suficiente para chegar à conclusão de que nosso Mestre tem razão: há mais alegria em dar do que em receber, em encontrar que ser encontrado, em visitar que ser visitado, em sair do que ficar, em partilhar que guardar, em servir que ser servido. Cada um possa descobrir a alegria da própria vocação e de colocá-la a serviço dos irmãos e irmãs.
Muito obrigado a todos que contribuíram para que eu pudesse realizar esta missão, bem como a todos os que rezaram pelos missionários. Deus os abençoe e os desperte sempre mais para o dom do serviço.
Diácono Robson Adriano F. D. Silva