O Senhor foi claro quanto às dificuldades que enfrentaríamos no seu seguimento. Ouvimos dele, por exemplo, “se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, e quem perder a sua vida por causa de mim vai ganhá-la”! (Mt 16, 24-25); ou, “todo aquele que deixa casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos por causa de mim e do evangelho recebe cem vezes mais agora... com perseguições” (Mc 10, 29-30); ou ainda: “as raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9, 57-58). Definitivamente, o seguir a Jesus é exigente e nunca foi algo do tipo: era uma vez... e foram felizes para sempre! Seguir o Mestre é uma atitude exigente!!!
Mas estou convencido de que entre todos os preceitos que Jesus nos deixou e que nos configuram como cristãos, como “seguidores do caminho” (como eram chamados os primeiros cristãos), está, talvez, o mais exigente: o preceito do perdão, deixado pelo Mestre pouco antes de entregar seu espírito ao Pai no calvário: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem”! (Lc 24, 34). Temo que não levemos tão a sério esta atitude de Jesus no extremo de seu sacrifício! E suspeito por qual razão: “autodesconfiança”! É como se nos questionássemos lá do fundo da alma: somos capazes de igualável expressão de amor? Somos capazes de perdoar assim e expressar tamanho amor? O perdão não supera nossa própria capacidade? E, no entanto, o veredicto já foi proferido: muito perdoa quem muito ama, e mais amor expressará quem muito amar! (cf, Lc 7, 47).
Sei que esta suspeita beira quase uma heresia por quase nos fazer crer que Jesus, sendo o Filho Bendito de Deus Pai, “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”, como professamos no credo, supera infinitamente nossa capacidade de colocar em prática tal preceito, por ser infinitamente diferente de nós. “ Quem somos nós, pobres mortais!!” Dizem alguns! Dessa forma nos consolamos interiormente, justificando nossa renúncia à dádiva do perdoar e ser perdoado.
A questão está posta: estamos espiritualmente convencidos de nossa capacidade de dar e receber perdão?
Salvo engano, na campanha da fraternidade de 1997, cujo lema era – Cristo liberta de todas as prisões, foi apresentado um fato da vida real. Ater-me-ei ao conteúdo principal deste fato, relatando-o do meu jeito: Um sacerdote visitava um presídio que ficava na região de seu pastoreio. Entre os vários presidiários, havia um jovem preso em flagrante por ter assassinado, por engano, o filho único de uma senhora. Era seu aniversário e estava sendo visitado pela sua mãe, presumiu o sacerdote, vendo aquela senhora já de idade avançada carinhosamente entregar para o jovem um pedaço de bolo e abraçá-lo demoradamente. Pensou o sacerdote: ‘ quanto sofrimento devia haver no coração daquela mãe’. E foi movido de compaixão por ela. Aguardou, então, pacientemente que aquela senhora terminasse sua visita e, aproximando-se dela lhe dirigiu algumas palavras de consolo, desejando amenizar um pouco sua dor. Foi quando, para seu espanto, ouviu daquela senhora: “ Não, padre, ele não é meu filho não. Ele é, na verdade, o assassino do meu filho. Quando cheguei perto de meu filho, no dia que ele morreu, ele ainda estava vivo e me disse: “Mãe, perdoa ele! Amo a senhora!” - E morreu em meus braços. - “Não foi fácil, padre! Gastei algum tempo para entender o seu pedido e mais ainda para fazer o que ele me pediu. Resistia... até o dia em que numa celebração, estando muito triste e com o coração doendo de saudade, ouvi do Evangelho uma única frase: ‘-Pai, perdoai-lhes. Eles não sabem o que fazem!’ Entende padre? Meu filho era Jesus que morria de novo e, declarando-me amor, me pedia para perdoar. A partir de então venho aqui todos os dias visitar aquele rapaz que também precisa ser amado. Estou aprendendo a amá-lo como filho. Hoje estou em paz, e meus filhos também!!!”
Se não fosse um relato baseado em uma história real pareceria “história de pescador”. Mas não é. Assim como não é “história de pescador” o amor de Deus por nós e a cruz na qual pendeu o nosso salvador. É real a dádiva do perdão, embora nada fácil! Exige, verdadeiramente, “entranhas de misericórdia” e um coração que não duvide do amor de Deus que por primeiro nos amou e nos ensinou a amar na mesma proporção.
Nossa terna Mãe, Maria, que também aprendeu a dádiva do perdão, aos pés da cruz, ouvindo o pedido de seu divino Filho dirigido ao coração do Pai, nos ensine a abrirmo-nos a esta graça. Cresça em nós o amor, neste tempo favorável, pois somente nele podemos colocar em prática o dar e o receber o perdão! CONTINUA.
Diácono Robson Adriano