O que segue, mais uma vez, brotou das contemplações de partes do Evangelho em momentos de retiros espirituais no ano de 2001. Não se trata, pois, de dogma de fé, mas um partilha fraterna que o Senhor, creio, me inspirou e que agora, fraternalmente, partilho com os irmãos neste mês de maio, dedicado às devoções à nossa terna mãe. Jesus criança, depois de ter, curiosamente estado recolhido e em silêncio, como por vezes Maria o via fazer, chega até sua mãe e com um olhar penetrante e o rosto radiante pergunta a Maria: Mãe, qual é o nome de Deus? Maria percebe na pergunta de Jesus algo mais que mera curiosidade. O menino já havia escutado várias vezes seu pai - José - dizer que o nome de Deus, por ser impronunciável por qualquer judeu religioso, segundo a tradição hebraica, era Adonai, que significa o Senhor!! Com os olhos fixos em Jesus, amparando maternal e ternamente o rosto de seu pequeno entre as mãos, sorriu para o filho, beijou-o como as mães costumam fazer com seus filhos, sentou-o em seu colo, sentindo que era chegada a hora do pequeno Jesus dar mais um passo rumo à maturidade espiritual. Maria aguardava pacientemente este momento, e pedia ao Deus de Abraão, ao Deus de Isaac e ao Deus Jacó; ao Deus de seus pais, que seu filho pudesse compreender a grandeza do mistério de amor que a havia envolvido deste àquela hora bendita. Até aquele momento, somente José, seu amado esposo, havia ouvido a narração daquele momento tão carregado de amor e ternura; tão repleto de Deus e de seu mistério. Assim, abrindo o coração, e deixando brotar de lá tudo que até então guardara, pôs-se a contar a experiência que teve com o Adonai, o Senhor!!!
O sol baixava-se suavemente e boreal nas colinas de Nazaré, fazendo Maria lembrar-se do prestigioso dia em que Adonai lhe visitara na figura de um anjo. E começou a dizer ternamente ao menino: houve um tempo, filho, muito especial para tua mãe. Foi o dia em que o céu veio me visitar e fazer sua morada em mim. Espero que compreendas, filho, mais ainda que eu mesma, pois a grandeza e a profundidade de amor que me envolveram naquele dia me ultrapassam, e meu coração de menina naquele dia, foi transpassado por uma ternura tão fecunda, um afago tão profundo na alma, devido tamanha generosidade da parte do Senhor, que não pude resistir. A sombra do onipotente me cobriu e então meu ventre acolheu a vontade de Deus sobre mim, pois como uma serva, dispus-me a que fosse feita em mim a vontade do Senhor. Teu pai-José e eu não sabíamos o que pensar, e resolvemos guardar todas essas coisas no coração. Compreendas, filho, que existem coisas nesta vida que não podem sair nunca do coração d’agente, a não ser para ir parar em outros corações.
Continuou Maria: Deus, filho, é como uma mãe que nos carrega no colo, brincando com o rosto no rosto d’agente, saltitando conosco ao joelho, imitando cavalgar, amamentando-nos carinhosamente com sua benfazeja presença, bem assim como várias vezes mataste a fome com meu leite, conchegado em meu colo. Teu pai-José reza salmos de louvação em momentos assim, depois da lida, e tu, te alimentavas de meu leite e da força poderosa e misteriosa que emanava dos salmos cantados por ele. Todas as vezes que ficávamos assim, os três, tínhamos, teu pai-José e eu, a impressão de que Adonai era mesmo Emanuel, Deus conosco, e estava mais presente, mais pertinho, amando-nos ainda mais no amor d’agente. E nós te víamos assim quieto, eu e ele, cansados por causa da lida, instigados pelo mistério, alegres e confiantes no Senhor. Então, cantávamos o “Shema Yisrael adhonay elohenu adhonay ehadh”! E sabemos o que isto significa, filho: ouve, Israel, o Senhor é o nosso Deus, um é o Senhor! Portanto, amarás o Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a força e com toda a alma. Dele falarás aos teus filhos... compreendes, filho? E Maria apertou o menino fortemente entre seus braços.
José chega da entrega que fora fazer, beija demoradamente a testa de “seu filho”, pondo-lhe a bênção de Adonai e depois beija delicada e carinhosamente os lábios de sua amada esposa, desejando-lhe a paz, shalon! José troca o olhar com Maria e percebe que eles conversavam sobre os mistérios do Senhor que guardavam no coração. José, então, envolve Maria e o menino num abraço e, por um instante, a Sagrada Família fita o horizonte e o sol baixando nas colinas de Nazaré. Então disse José: sabe, filho, quando ficamos, assim, os três, sentimos que o Senhor está mais presente... (pausa) amando mais no amor d’agente (repetiram os três quase em um só instante). Maria e José viram os olhos encherem-se de lágrimas e o coração de muita paz, na certeza do imenso amor do Deus Emanuel.
Maria, nossa terna Mãe, nos ajude a guardar sempre no coração os mistérios do amor de Deus.
Diácono Robson Adriano