Tema: “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor”.
Lema: “Cristo é a nossa Paz: do que era dividido, fez uma unidade”. (Efésios 2,14)
A Campanha da Fraternidade é realizada anualmente no Brasil, no período da Quaresma, desde a década de 1960. A cada ano vem propondo temas que nos ajudam a viver nossa espiritualidade refletindo sobre um problema concreto da sociedade e buscando meios de solucioná-lo, inspirados por um lema extraído de uma passagem bíblica.
Neste ano de 2021, a Campanha da Fraternidade é ecumênica, como já ocorreu algumas vezes. Isso significa que outras igrejas cristãs se uniram à Igreja Católica para promoverem a Campanha da Fraternidade, que dessa vez nos convida a refletir sobre o DIÁLOGO em nossas vidas e comunidades.
Você concorda que estamos vivendo em um mundo polarizado, onde cada um quer fazer valer a sua ideologia, seus valores, suas convicções, muitas vezes ignorando e desprezando a diversidade?
Estamos fazendo a nossa parte para alcançarmos a verdadeira unidade dos cristãos?
Que tal escutarmos a palavra do nosso querido pároco sobre esse intrigante tema?
O padre Marcelo Santiago, gentilmente, concedeu uma entrevista à Pascom para nos ajudar a compreender o tema da Campanha da Fraternidade 2021.
Pascom: Padre Marcelo, qual a importância de uma Campanha da Fraternidade ecumênica?
Pe Marcelo: A cada 5 anos, a Campanha da Fraternidade (CF) é realizada ecumenicamente, ou seja, em comunhão com outras igrejas cristãs, a partir do CONIC – Conselho Nacional das Igrejas Cristãs. Deste Conselho, participa também a Igreja Católica.
A Campanha deste ano é ecumênica e chega em boa hora, propondo reflexões que nos ajudam, em tempos de polarizações, de muita intolerância, de ideologias em conflito e divisões, a buscar em Jesus Cristo, nossa paz, caminhos de mais diálogo, unidade, fraternidade e comunhão. Precisamos nos converter, com passos largos, para viver, na fidelidade da fé e como irmãos e irmãs, o amor, a acolhida e o serviço.
O Ecumenismo como também o diálogo entre as religiões é expressão da vontade de Deus. Jesus assim rezava ao Pai; “Que todos sejam um, para que o mundo creia” (Jo 17,21). Nós, todos nós, devemos trabalhar pela unidade e comunhão dos cristãos e pela manutenção do diálogo com as outras religiões. Assim também nos orienta o Espírito Santo, através do Concílio Vaticano II, nos documentos Unitatis Redintegratio e Nostra Aetate. Devemos ser “pontes” que unem, não “muros” que dividem, gerando, infelizmente, na sociedade, exclusão, preconceito e ódio.
Queremos, com esta Campanha, mais nos irmanarmos em Jesus Cristo, no compromisso de amar e servir, testemunhando, em gestos concretos, a salvação do nosso Deus e Senhor que veio para “que todos tenham vida e vida de verdade, vida em plenitude”. (Jo 10,10).
Pascom: De acordo com a Campanha desse ano, o que o Diálogo tem a ver com o Amor?
Pe Marcelo: O amor é o distintivo da vida cristã. Jesus nos recorda: “Nisto reconhecereis que sois os meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). Nossa fé é então autêntica quando ela se comprova em ações que testemunhem o Plano de Deus; quando nos identificamos com Jesus, nosso Deus e Senhor, no seguimento a Ele, como seus discípulos missionários. “O que eu fiz, vocês vão e façam” (Jo 13,15).
É impossível verdadeiramente amar, sem dialogar com todas as realidades e contextos que marcam a existência humana; sem “tocar” a carne ferida de irmãos e irmãs nossos, vítimas da vulnerabilidade social, das misérias e exclusões deste mundo; sem juntar forças para libertar a todos de suas muitas escravidões.
“O que fizeres ao menor dos pequenos, é a mim que o fizestes”, diz Jesus (Mt 25,40). É preciso ver Cristo no outro, sobretudo no outro “lascado”, vítima das violências, injustiças, misérias humanas, racismo e preconceitos... Unidos podemos mais, no compromisso de amar como Deus nos ama, servir como Deus nos serve.
Pascom: Na opinião do senhor, pode haver fraternidade sem diálogo?
Pe Marcelo: A falta de diálogo gera divisão e conflitos entre nós. A gente experimenta isso, por exemplo, na família. Na falta do diálogo religioso assim também acontece, além de não nos permitir, na vivência e testemunho da fé, alcançar frutos de mais fraternidade e serviço entre irmãos e irmãs e de atenção e cuidado para com a vida, sobretudo a vida ameaçada.
Esse diálogo entre os cristãos, que chamamos ecumenismo, não é, em princípio, vejo, “vestir a mesma camisa”, marcados pela uniformidade, mas, sim, buscar a “unidade”, entendendo que somos todos irmãos e as, devemos viver a fraternidade na grande família de Deus, viver a unidade na diversidade, ver e proclamar que, em verdade, temos mais coisas que nos unem, do que as que nos distanciam. Muito a propósito o lema desta campanha: “Cristo é nossa paz, do que era dividido, fez uma unidade (Ef 2,14a).
Precisamos, então, viver com mais maturidade a fé e assim oferecer, de nossas identidades cristãs, a contribuição teológica e prática necessárias, nestes tempos, que nos ajude, no respeito mútuo e na fraternidade, a viver, com fidelidade, o seguimento a Jesus Cristo e continuar a sua obra salvadora nesse mundo.
Pascom: No Brasil e em todo o mundo, há muitos problemas sociais, que vão desde a miséria extrema a todas as formas de violência, agravados pela pandemia de Covid 19, e que minam a dignidade humana. De que forma a Campanha da Fraternidade pode nos ajudar a despertar para a reflexão e ação frente a essa realidade?
Pe Marcelo: Não é sem razão que a CF acontece no tempo da quaresma, que nos pede uma conversão pessoal e social, a partir da vivência intensa das obras, recomendadas por Jesus, da oração, do jejum e da esmola (Mt 6,1-6.16-18). Elas marcam o nosso relacionamento, respectivamente, com Deus, conosco mesmo e com os irmãos. No Brasil, a CF nos impulsiona a nos debruçar diante de uma realidade social que nos desafia, enquanto cristãos, a testemunhar o Reino de Deus presente em nosso meio.
Como Jesus anuncia a chegada do Reino? Curando as pessoas de suas enfermidades, expulsando demônios, os males, e anunciando o evangelho da vida, ou seja, o amor de Deus, o Pai por todos e para todos. A CF nos aponta para esse caminho, para nos tornarmos pessoas sensíveis e disponíveis para servir, no amor e à luz da fé, como irmãos/as, a toda humanidade, em especial aos mais pobres e fragilizados.
Concretamente, entres outros, comprometermo-nos mais com a vida humana e do planeta, ou seja, com ações concretas de amor ao próximo; criar mecanismos que nos ajudem a uma conversão sincera de uma cultura do ódio, para uma cultura de amor; estimular e fortalecer a convivência ecumênica e inter-religiosa, convivência entre cristãos e também com outros irmãos de outras religiões.
Pascom: Deixe uma mensagem aos paroquianos a fim de nos motivar a vivermos plenamente essa Campanha da Fraternidade.
Pe Marcelo: Um pedido que faço é de que não entrem nas polêmicas que as redes sociais vêm trazendo a respeito da CF. Vamos caminhar com a Igreja, fieis aos seus ensinamentos, unidos ao Papa Francisco e aos nossos bispos no Brasil, através da CNBB e abertos ao diálogo com os nossos irmãos de outras confissões cristãs. Acolhamos, portanto, esta proposta para vivermos mais intensamente a quaresma, obedientes à fé e em comunhão, nos preparando para as celebrações da “Semana Maior”, a Semana Santa, quando haveremos de celebrar intensamente os mistérios pascais, da Paixão, da Morte e da Ressurreição do Cristo, nosso Deus e Senhor.
Nós, meu irmão e minha irmã, somos “tentados” a viver apenas no nível privado a fé, não dados ao compromisso de amar e servir. Aprendamos de Jesus a sermos bons e a fazer o bem, a sermos próximos uns dos outros, em especial, de quem sofre. Fazer o bem, amar e servir, não é ser “comunista”, nem “esquerdista”, é ser filho e filha de Deus; é trazer na vida e no coração, os sentimentos do Coração de Jesus – de compaixão, de misericórdia e solicitude. São Thiago nos recorda: “a fé sem obras é nula (Tg 2,26). Que a Campanha nos ajude a sermos mais irmãos e irmãs, a crescer na fé e no amor.
Proponho a todos, com esta quaresma e o exercício da Campanha da Fraternidade, a cuidar da vida, reavivar a esperança e testemunhar o amor; a intensificar suas orações e vivência sacramental; a praticar jejuns e mortificações, na superação dos vícios e controle dos instintos e a agir com generosidade, testemunhando sua fé, acolhendo esta campanha e ajudando o próximo. Deus os abençoe nessa caminhada quaresmal.
Obrigada, Padre Marcelo!
Pascom – Paróquia Sagrado Coração de Jesus - Mariana