Diácono Robson Adriano
Jeanne Calment foi uma simpática francesa que morreu, em 1997, com 122 anos! Idade esta, atestada por seus documentos. Isto mesmo: 122 anos!! Creio que quase todos nos perguntamos: apenas uma sortuda, ou haveria um segredo para se alcançar tal longevidade? E como a sorte não depende de nós, apanharíamos, aqui e ali, conselhos, dicas, mandingas, “bio-conselhos” e até simpatias para prolongarmos ainda mais nossa vida! Desculpem-me, mas não é esta minha intenção aqui.
Não sou francês, e com toda sinceridade, não sei se teria o perfil (ou a genética) que me permita pôr-me em conta dessas pessoas que, assim como Jeanne, extrapolariam a média de vida do ser humano. Portanto, a referência a esta simpática senhora é mais provocativa, em meu caso, do que realista. E por falar em ser realista, terei de encarar, ao que parece, um fato: o de que a média ou expectativa de vida do ser humano gira em torno dos 80 a 90 anos, não obstante afirmem alguns que esta expectativa tende a aumentar e pode variar significativamente de acordo com várias circunstâncias!!!
Por força desse ponto de vista realista, bem como a realidade de minha idade atual, tive que concluir de mim para comigo mesmo, valendo-me, curiosamente, de um dito popular: COMEÇEI A DESCER O “CABO DA BOA ESPERANÇA”!! Neste ano (2019) completo 46 anos: passei da metade de minha vida!!!
De alguma forma, meu cronômetro biológico opera agora num duplo sentido: quanto mais idade eu contar 46 (2019), 47 (2020), 48 (2021) e assim por diante, menos tempo terei para viver, tendo que contar também na ordem decrescente da idade (2019) 44, 2020 (43), 2021 (42) e assim por diante, tomando por base minha otimista “máxima-média” de 90 anos. Então terei de contar assim: 46-44, 47-43, 48-42 etc. Isso significa que quanto mais a contagem de minha idade for crescendo, mais estarei descendo o bendito cabo!!!! Menos tempo de vida, aqui nesta vida, eu terei!!!! Obviamente já era assim, mas agora de uma forma mais explícita e intensa! “Cruz credo”!!!, posso ouvir alguém dizendo. Entretanto, não me culpem, por favor, só estou sendo realista!!! Isso acontece com todos nós!! Todos mesmo!!! Nestes termos, completo este ano 46-44 anos!!!!
E sendo, agora, diminuto o tempo que me resta, desconfio ter que começar perguntando-me sobre a forma com que GASTAREI esse precioso tempo que diminui a cada dia! Consequentemente terei que ser mais seletivo: com o que gastarei, com quem gastarei e como gastarei esse precioso tesouro, o tempo, que ainda tenho? Deverei, então, começar revendo MINHAS ATITUDES em relação às possibilidades que a vida me apresenta, sobretudo aquelas que me dão a impressão de estarem repletas de todo sentido de plenitude e, consequentemente, de eternidade! Complicado? Nada!!!! Explico-me!!!!!
Sabe aquele “beijo esquimó (ou beijo de nariz), ou ainda sua versão mais estendida, o beijo “iglu”, que nos damos de vez em quando? Aquele de boca fechada, naquele friozinho gostoso, onde os narizes ou os rostos vão roçando suavemente um no outro, como se estivéssemos numa expedição de reconhecimento afetivo único, transmitindo calor, presença, afeto, carinho, tato e prazer, tudo coladinho na epiderme? Pois é, a partir de agora vou GASTAR ainda mais tempo neles!!! E aquele abraço de corpo inteiro, que as mulheres costumam se dar, sem medo e sem preconceito (pois nós homens, os jurássicos machos, abraçamos pela metade, pois sempre viramos meio de lado com medo de que as nossas “coisas” se encostem)? Também receberão um quinhão maior de tempo a partir de agora: GASTAREI mais tempo com eles!! E aquela escuta para com alguém que chega, tantas e tantas vezes, sem querer de nós, muitas vezes e tão somente acolhimento, mas preocupados com o tempo, queremos dar apenas, e o mais rápido possível, respostas, soluções? GASTAREI mais tempo com elas também!! E aquele barro super-seco quebrado com a planta dos pés andando de lá para cá? GASTAREI tempo em visitá-lo mais vezes com os pés desnudos tateando o mundo, como um elefante decifrando os sentidos do mundo na planta das patas!!! E quando “lagartixamos” pela manhã ao calor do sol GASTANDO nosso tempo em esquentar gostosamente nossa epiderme, tão somente entregues à presença deste astro-Rei? Ou ainda quando sentimos aquela alegria verdadeira, duradoura, profunda pelo bem que fazemos sem exigir algo em troca, GASTANDO pelos outros, nosso tempo?
Pequenos exemplos de como nosso tempo não deveria nunca ser GASTO com banalidades e futilidades, murmurações e derrotismos, mas com o que verdadeiramente vale a pena!!! E o que vale verdadeiramente a pena parece ser viver intensamente cada detalhe dos sentidos, das emoções, dos sentimentos, da beleza do mundo e da vida em todas as suas dores e alegrias, em toda sua pujança. Vale a pena mesmo é ser autêntico, pois a autenticidade, na ordem de ser, nos convida a abraçarmos a eternidade.
Sei não, mas descendo o cabo da boa esperança, tenho a impressão de que o tempo assim gasto, não é um gasto, mas um INVESTIMENTO. E diferentemente dos investimentos em poupança, em renda fixa, em ações e mais, o resultado deste INVESTIMENTO NUM TEMPO DE QUALIDADE, talvez seja, para além do que vamos acumulando na ordem do ter, o sentido desta nossa vida na ordem da realização de ser. E nesta ordem, o tempo que ainda resta vai se enriquecendo de sabedoria e fruição do próprio existir, do prazer de viver e coisa e tal, a tal ponto que, paradoxalmente, quanto mais tempo “gastamos/INVESTIMOS” nessas “atitudes eternais” (pois já são certa antevisão e antecipação da beatitude que nos espera em Casa) mais o nosso limitado tempo vai sendo estendido para além do lado de cá. Aí vamos nos familiarizando cada vez mais com um tempo que, embora começando aqui, não terminará jamais do lado de cá, mas se eternizará na casa do Pai.
Seja bem-vindo o tempo de arrumar a casa para ir para Casa. Ah!!!! Já ia me esquecendo: parabéns para mim!!!!!!!