A Palavra de Deus nos revela, numa das menores expressões bíblicas, mas talvez a mais profunda, que “Deus é amor”! (1João 4, 8). E não se trata de um amor abstrato, ou um amor platônico, ou ainda uma quimera. O amor de Deus é a sua verdade, existindo numa expressão absolutamente concreta, real, humanamente tangível: Deus nos ama com a compaixão de seu Filho Jesus e a ternura do Espírito Santo. Deus nos ama terna e compassivamente! Jesus no-lo atestou e o Espírito no-lo confirma, cotidianamente; incontestavelmente.
Em tempos difíceis de todos os tempos, mas sobretudo neste nosso tempo, em que o coronavírus testa nossa fé, nossa humanidade, muitos tendem a duvidar da verdade do amor de Deus e de sua boa vontade sobre nossas vidas, sobretudo aqueles e aquelas que contam vítimas entre os seus. Nosso saudoso arcebispo e servo de Deus, Dom Luciano, costumava dizer que não apenas o dinheiro, as honrarias ou o poder atestam a verdade do coração e do caráter de uma pessoa, mas igualmente a dor e o sofrimento. O próprio Jó, que ficou popularmente conhecido como o paciente, revoltou-se contra Deus amaldiçoando o ventre que o gerou para a vida e os seios que o amamentaram, preferindo não ter conhecido a vida. (Jó 3, 3ss).
Não apesar de tudo isso, mas em tudo isso, lembra-nos Paulo, somos mais que vencedores: “Quem nos separará do amor de Cristo (que é Deus como Deus)? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a miséria, o perigo, a espada? (essa pandemia?) ... eu tenho certeza: nem a morte nem a vida, nem os anjos nem as dominações, nem o presente nem o futuro, nem as potências nem as forças das alturas nem as das profundezas, nem outra criatura alguma, NADA PODERÁ separar-nos do amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor.” (Romanos 8, 35.38-39).
Deus ama-nos quando, permitindo o sofrimento, não nos quer testar com o sofrimento, mas fazer-nos crescer no amor; ama-nos quando nos enche o coração de alegria e de saudade destas alegrias, fazendo-nos reconhecer, com humildade que tudo, absolutamente tudo, alegria e dor, contentamento e descontentamento é dádiva do único amor que quer profundamente o nosso bem; ama-nos quando, nas encruzilhadas da vida sussurra-nos com a ternura do próprio espírito que é seu e de seu Filho, o rumo certo que devemos trilhar, e ainda que titubeantes, sempre na sua eterna companhia, como nos promete Jesus; ama-nos quando, suscitando em nós compaixão, edifica-nos na misericórdia e no socorro para com os mais necessitados e sofredores; ama-nos pura e simplesmente porque Deus, não havendo necessidade alguma que o obrigue a tal, mas sem porquês, nos ama, esperando de nós, silêncio adorante e solidariedade santificante; ama-nos quando nos inspira ações e sentimentos maiores que nossos maiores medos e faz-nos perceber que o gosto das lágrimas pode ser o sagrado soro a purificar a alma e a “hidratá-la” com o seu amor; ama-nos quando nos faz perceber que toda dor, sorvida por nós como fel, mas vivenciada com fé, não macula nossa esperança, mas nos dá a certeza de que se dele, de Deus, recebemos os bens, por que não poderíamos receber os males? Eles podem nos santificar; ama-nos quando nos dispõe pacientemente à conversão diária e cotidiana, fazendo-nos perceber que ela, a conversão, não acontece da noite para o dia, e está marcada por quedas e recaídas, começos e recomeços, sempre na condição de nos fazer um pouco melhores a cada dia; ama-nos, quando faltando-nos palavras, converte a insuficiência do que podemos dizer, faz-nos sentir o terno abraço de seu espírito, confirmando o que sempre cantamos: a tua ternura, Senhor, vem me abraçar. E a tua bondade infinita me perdoar...
Sim! Deus nos ama... ontem, hoje e sempre, pois eterno é seu amor. Sim, Deus nos ama e nos ensina a jogar fora todo medo. Sim! Deus nos ama, mesmo quando as circunstâncias parecem tal amor contradizer. Troquemos as dúvidas por esta certeza; o medo pela coragem; a desesperança pela esperança; a ansiedade pela serenidade; a tristeza pelo consolo; o desamor pelo amor; a incredulidade pela fé; a maldição e reclamações pela “bendição” e as palavras edificantes; a revolta pela confiança; a confiança em nós mesmos e em nossos projetos, pelo abandono em Deus e a construção de seu Reino.
Até quando teremos que passar por tudo isso? - Perguntavam-me amigos meus. A resposta que dei a eles foi clara: não sei; não sabemos; ninguém sabe! E se assim for, vivamos da única certeza, da qual não podemos duvidar: Deus nos ama e cuida de nós! Façamos desta quarentena, “cinquentena”, “sextena”, sei lá o quê, por mais difícil que seja, um tempo especial de crescermos em humanidade e fé. Nossa mãe, Maria, nos ajude neste verdadeiro vale de lágrimas, amém.
Diácono Robson Adriano