DEUS TEM BRAÇOS, PAPAI?
“Deus tem braços, papai”? Essa foi a intrigante pergunta de uma meiga menina, a Gabriela, para o seu pai, o João, um estimado amigo meu. E ela perguntou isso depois de ter perguntado à mãe, a Paola, se Deus era invisível!!!! Bom, na cabecinha desses pequeninos, bailam alguns pensamentos como: se Deus é invisível, como ele tem braço? Ou melhor ainda, se o braço de Deus é invisível (porque Deus é invisível), como ele faz para abraçar? Quando a gente chegar lá no céu, na casa de Deus, como nós vamos ver Deus, se ele é invisível? E se a casa dele também for invisível, como vamos achá-la? Meninas como a “Gabi” devem fazer o coração de Jesus encher-se de contentamento!! As perguntas das crianças nunca brotam de uma inquietação cética, ou seja, da dúvida que questiona a existência ou não de Deus. As crianças ainda conservam muito do espanto, da admiração e do encantamento necessários para crer, para não se afastarem do mistério. Mistério este que, à medida que nos tornamos adultos, vamos aprendendo a justificar com nossa razão. Gabi e todos os pequeninos nos ajudam a redescobrir o encantamento e o “maravilhamento” da fé.
Ora, sabemos que Deus está além de todos nós e de todas as coisas. Além, no sentido de ser superior a todas as realidades criadas, na exata proporção de ser autor de todas elas, ser fonte: “Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas”! (Romanos 11, 36). Consequentemente, como autor e princípio de tudo, Deus não pode ser visto com o órgão de nossa visão, os olhos. Não pode porque a realidade divina supera nossa capacidade humana de ver, assim como o brilho da luz solar supera nossa capacidade de enxergar o sol, de olhar diretamente para ele. Essa impossibilidade de ver a Deus é atestada pela Palavra na afirmação de que “ninguém jamais viu a Deus”! (João 1, 18). Deus é invisível!!!! É “uma forma de vida invisível aos olhos humanos”! (João 4, 24; 1Tim 1, 17). É aquele que habita uma luz inacessível”! (1Tm 6,16). “Ninguém, jamais, viu a Deus”. (1João 18).
Mas vejamos bem: aprendemos de um grande cristão, o Saint Exupéry, aquele mesmo do Pequeno Príncipe, “que o essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração”! E como cristão, certamente aprendeu isso de Jesus: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelastes aos pequeninos”! (Lucas 10, 21.).Que coisas seriam estas? Certamente as coisas do coração, as essenciais. Ver com o coração é enxergar com amor, pois o amor é a “essência” mesma de Deus. No mistério de sua existência, Deus não quis manter-se oculto! Foi exatamente do mistério de “amor fontal” de Deus, o Deus invisível, que Ele tomou a iniciativa absolutamente livre e decidiu “abraçar-nos”, pois embora habitando em luz inacessível, Deus deseja ardentemente estar e viver em comunhão conosco! Assim não fosse, não nos teria criado, não nos envolveria.
Mas como, se Deus não tem braços?!?! Como, se Ele não pode ser visto? Como, se Deus está além de nós?
Segundo Santo Irineu, as duas vias através das quais Deus conquista-nos para si, aproximando-se de nós, é o Cristo e o Espírito Santo. Eles são, assim, as duas mãos e os dois braços com os quais o Pai se nos dá a conhecê-lo: o Cristo, tendo vindo da parte do Pai e sendo o único a conhecê-lo assumiu nossa carne, dando forma humana ao Deus escondido! O Espírito, que faz-nos reconhecer Jesus e compreender sua obra, assumiu nosso coração, fazendo dele a morada do Deus Altíssimo e acendendo nele a chama do amor que não cansa e nem se cansa. E neste “eternal abraço” de amor de Deus-Pai compreendemos seus cuidados. Haverá Deus que se compare ao nosso Deus? Interroga os tempos antigos que te precederam, desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra, e investiga de um extremo ao outro dos céus, se houve jamais um acontecimento tão grande, ou se ouviu algo semelhante (...) A ti foi dado ver tudo isso, para que reconheças que o Senhor é na verdade Deus,e que não há outro Deus fora ele. (...) Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima do céu e cá embaixo na terra,e que não há outro além dele. (Deuteronômio 4,32-40).
Compreendemos, assim, que toda forma de falar de Deus tendo por base analogias e comparações com o universo humano atestam, antes, no âmbito da revelação, não uma invenção humana, mas a humana linguagem de Deus para nos falar ao coração e ser humanamente compreendido! Em Cristo, e no Espírito, vemos a Deus que não enxergamos e sabemos que Ele nos ouve e atende, nos abraça e acolhe, nos redime e conquista, nos cria e recria incessantemente. Pois não nos teria criado sem que pudéssemos ser alvos de seu amor.
Diácono Robson Adriano