Sabemos que não basta tão só se aplicar em conhecer, intelectualmente, os ensinamentos de Deus, através das Sagradas Escrituras e da longa Tradição da Igreja, mas empenhar-se por acolhê-los no coração e aplicá-los na vida. A espiritualidade do seguimento de Jesus implica em fazer, no cotidiano da vida, a experiência d’Ele e em verdadeiramente amar, fazendo-nos próximos dos irmãos/as, com gestos e atitudes concretas de compaixão, misericórdia, testemunhando, à luz da fé, a alegria de sempre servir.
Unir fé e vida é um desafio constante à nossa espiritualidade cristã. Alimentados pela vida orante e sacramental e a escuta da Palavra de Deus, somos chamados a continuar a missão de Jesus e d’Ele dar testemunho até os confins de toda a terra.
Só numa vida de proximidade com Deus, como discípulos do Senhor, conseguiremos vicejar em boas obras, realizando, em tudo, a sua santa vontade e cumprindo a missão comum confiada a cada um e a todos nós, pelo Batismo, de Evangelizar.
Em tempos que se marcam sobretudo pelo relativismo e pelo secularismo, somos tentados a “manipular” a Palavra de Deus ao nosso gosto; por vezes, assumir uma espiritualidade desencarnada, desvinculada da própria vida e do compromisso cristão de buscar a conversão a cada dia e de ser instrumento de Deus para que todos “tenham vida e vida em plenitude” (Jo 10,10).
A normativa cristã, por excelência é Jesus. Ele é o “Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,16). O jeito de ser e de agir de Jesus é a grande iluminação para todos nós. Ele não veio para fazer a sua vontade, mas a vontade do Pai (Jo 6,38); não veio para ser servido, mas para servir (Mt 20,28); teve compaixão e a muitos curou e a outros, libertou do espírito maligno (Mc 1,29-39); a todos, anunciou a misericórdia do Pai que nos ama, com amor infinito, e deseja vida e salvação para todos os seus filhos e filhas. Foi com esse propósito que obediente ao Pai e por amor de nós, ele entregou a sua vida, imolando-se em morte de cruz (Rm 4,25).
Esse Jesus que morreu por nós está vivo, glorioso, ressuscitado. E é Ele quem nos conclama: “O que eu fiz, vão e façam” (Mt 28, 19-20). Discípulos d’Ele, somos enviados em missão para levar a “Boa Nova” aos corações humanos, vivendo uma espiritualidade que nos leve à ação e uma ação cheia de espiritualidade que testemunhe Deus para o mundo.
Renovemos esses propósitos de amar e servir, numa vida tão perto da graça de Deus e também solícita diante dos seus apelos, face a uma realidade de dor e sofrimento, de muita violência, injustiça e exclusão. Não nos deixemos abater com as “tempestades do mundo”. Na barca da nossa existência humana está Jesus que nos consola, traz a calmaria necessária, mesmo em meio às muitas agitações, e nos lança como semeadores do seu Reino de Vida, Verdade e Salvação.
Não nos cansemos de sermos bons e de fazer o bem. “A fé sem obras é morta” (Tg 2,26).
Pe. Marcelo Moreira Santiago