Conta-se, aqui e ali, que a Virgem Maria decidiu visitar um mosteiro famoso incrustado no alto de uma montanha. Chegou sem aviso prévio e colocou-se na sala de visitas onde comumente os monges atendiam as pessoas em busca de sábios conselhos. Carregava o Menino-Deus em seus braços. Foi um alvoroço naquele mosteiro! A notícia se espalhou mais rapidamente. Em pouco tempo a sala estava cheia com os poucos monges que ali viviam. O abade já havia se antecipado e pedido aos irmãos que preparassem homenagens à virgem-Mãe e ao menino-Deus. “Escolhidos a dedo,” para não macular a imagem daquele vetusto mosteiro, os monges “mais sábios” começaram suas apresentações, todas muito bem elaboradas e carregadas de boas intenções. A Virgem-Mãe acolheu todas as manifestações, mas inquietou-se com o fato de que tentaram terminá-las antes que um dos monges, que não havia sido escolhido, claro, pediu para manifestar-se, o que foi negado. Era simples, de família muito humilde, recém chegado ao mosteiro. Não sabiam o que o “neo-confrade” poderia aprontar. Depois de autorizado pela Virgem-Mãe, sem levantar os olhos para ela e o Menino, desculpou-se que não tinha nada de muito significativo para apresentar, mas queria fazer para ela e o menino o que aprendera com seus pais, durante toda a sua vida. Tirando, então, três laranjas dos bolsos do surrado hábito, começou a fazer malabarismos!! Foi neste instante que o Menino-Deus enchendo-se de alegria, deu gargalhadas de entusiasmo jogando-se nos braços daquele monge, o que a Virgem-Mãe consentiu prontamente. Aquele monge foi o único que, com simplicidade, agradou o coração de Deus, e pôde estreitar o Menino-Deus em seus braços.
Como poderia ser diferente? Como poderíamos supor que algo diferente da descomplicada simplicidade fosse a atitude que agradasse o coração de Deus? Deus é simples e com simplicidade se manifesta a nós e conosco age. Sem dúvida alguma, tudo aquilo que se deixa envolver pela qualidade do que é simples, fugindo a qualquer complicação, está repleto do sentido da vida; tem o poder de cativar e de ser, por todos, compreendido, a não ser pelos de soberbo coração que ignoram a simplicidade.
Ora, na simplicidade de um amor eterno, Deus prometeu-nos o céu criando-nos à sua imagem e semelhança, conduzindo o tempo para a plenitude da manifestação de seu amor; na simplicidade de um diálogo, Deus se propõe àquela jovem virgem, que não duvidando do poder de Deus, pergunta pelo “como”, e recebendo a sombra do Espírito, entregou-se toda inteira: “eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua vontade” (Lc 1, 38); assim, pôde o Verbo tornar-se carne na simplicidade de um ventre materno; na simplicidade de um sonho, Deus aquieta o coração de José e lhe faz entender que seu nome e de sua estirpe serão lembrados para sempre como o justo; na simplicidade de uma manjedoura a Virgem-Mãe e seu fiel esposo verão nascer um Deus-Menino: toda onipotência divina “esvaziada” na pequenez de um bebê.
Não há dúvida: no caminho da simplicidade habita a alegria do coração de Deus. Tem razão o Mestre que exultou no Espírito: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas dos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos” (Lc 10, 21). Certamente está na simplicidade do coração um convite para prepararmos o natal: na simplicidade de uma família que ama o Senhor; na simplicidade do falar que respeita e edifica os irmãos; na simplicidade da ceia partilhada com quem tem menos condições; na simplicidade do carinho para com quem convivemos; na simplicidade da humildade que vence a arrogância; na simplicidade da fé que ignora a impiedade; na simplicidade da mansidão que se impõe contra a violência; na simplicidade de amar como Deus nos amou, nos ama e sempre amará! Deus salve o caminho da simplicidade!
Diácono Robson Adriano