Conta-se, aqui e alhures, que um turista foi visitar um mosteiro incrustado em certa montanha nos Alpes. Entrou na rústica e simples capela para elevar a Deus suas orações. Um absoluto silêncio tomou conta do lugar!! Repentinamente ouviu fortes gargalhadas vindas de um monge que acabava de entrar na capela, sentando-se numa cadeira posta à frente do altar. Olhou para o turista e disse: - Veja: descobri o significado das bananas!!! E soltou mais outra escandalosa gargalhada. Ignorando completamente o espanto do turista, enfiou a mão dentro do embornal que trazia dependurado no ombro e tirou uma banana completamente podre. – Este é o tempo que passou e não foi aproveitado no momento certo! Disse. Livrando-se dela, tirou outra banana do embornal, só que desta vez completamente verde. – Este é o tempo que ainda não chegou. É sábio, então, saber esperar! E voltou com a banana para dentro do embornal. Pela terceira vez tirou a terceira banana perfeitamente madura. – Este sim é o tempo oportuno, o momento certo! Dividiu-a ao meio, deu outra gargalhada, dirigiu-se ao turista dando-lhe uma metade da banana a ele, dizendo mais uma vez: – Saibamos aproveitar o momento presente.
Comecemos pelo tempo que passou (e continua passando): a metade do mês de janeiro já se foi. De 2019, nem falamos mais. Depois do alvoroço de fim de ano, dos shows pirotécnicos e de todas as formas de crendices tão difíceis de se realizarem quanto acertar na mega da virada, o tempo continua passando. Esse movimento constante e ininterrupto que os gregos nos ensinaram a chamar de “chronos”, segundo eles, o deus primordial do tempo, do qual não temos domínio algum.
Melhor, talvez (temos por vezes essa impressão) é olhar para o tempo que virá, o tempo que ainda não chegou! Ele não carrega a decepção do fracasso nem a certeza das irrealizações nossas de cada dia. Não!!! Pelo contrário, ele é carregado de sonhos, projetos, expectativas. Entretanto, ele parece estar paradoxalmente muito próximo do tempo que passou: há pouco mais de 15 dias também olhávamos para essa porção de tempo chamado futuro e enchíamos o peito dizendo: agora, sim, vou emagrecer, vou mudar de vida, vou fazer isso e aquilo, fazer a diferença... e com a primeira quinzena de janeiro passam também todas as promessas que nos fizemos para o ano.
Bom, sendo assim, entre o tempo que se passou e o tempo que ainda não chegou, entre o passado e futuro, estamos exatamente agora abraçados pelo tempo presente! Entre um e outro, podemos sempre afirmar este momento, esta hora, esta semana, este mês etc. Mas como viver este tempo do agora sem que ele nos escape na efemeridade do passado? O que devemos fazer para que este efêmero presente, com todas as possibilidades abertas à sua frente, não seja engolido pelo tempo que já passou e não volta mais fazendo dos sonhos futuros uma grande decepção passada? Como superar o que parece ser tão trágico?
Gostaria de indicar aqui o que me parece ser o enigma ou o segredo do tempo presente. Deste tempo que pode ser favorável, desde que, penso eu, assumamos vivenciá-lo com três posturas existenciais fundamentais: 1ª: Deus nos deu o tempo para aprendermos o verdadeiro valor daquilo que não passa, da eternidade; precisamos saber diferenciar, então, entre as coisas e valores que são fundamentais daqueles que são relativos; 2ª: ao nos dar o tempo, Deus não se apartou de nós, mas no-lo deu vivendo conosco no tempo, permanecendo conosco: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 20)! Não estamos sós! O exato momento do agora está repleto da companhia amorosa de Deus em seu Espírito; é nele que podemos discernir entre as coisas perenes e as passageiras; 3ª: nossas decisões devem ser expressão de nossa liberdade, de nosso empenho na afirmação do melhor para nós, para os outros e para o mundo. E se precisarmos hierarquizar esta ordem, comecemos pelo bem do mundo, nossa casa comum. Tudo o que fizermos deve ecoar na eternidade. Por isso não vale viver no módulo de “piloto automático”! Nossas decisões nos formam e nos encaminham.
Essas 3 posturas nascem do tempo vivido como dádiva, como “Kairós”, que os teólogos definem como tempo oportuno, tempo favorável. Elas não são, ainda receitas ou fórmulas, pois assim como acontece com o amor, não há qualquer fórmula ou método: amar se aprende amando; viver se aprende vivendo! Prossigamos, dando um passo de cada vez, amando, persistindo, mudando o que pode ser mudado, vivendo intensamente o presente desta vida na companhia de quem é sempre por nós. Façamos do tempo nosso aliado e não nosso inimigo.
Diácono Robson Adriano