Tempus Fugit!! O tempo voa!! E às vezes parece que suas asas o permitem ultrapassar a barreira do som. Mais fugidio que um instante ele é!! E tenho a impressão de que voa, escoa, proporcionalmente à quantidade de coisas que fazemos, no afã de tudo resolver exatamente agora. Uma, mais outra, outra mais e, sucessivamente, vamos preenchendo nosso tempo de muitas coisas como se quiséssemos que todo o peso delas diminuísse o ritmo do tempo nos fincando mais no chão. Parece não haver dúvidas: no horizonte das coisas e do muito fazer, fugit irreparabile tempus... foge o tempo irreparavelmente!
Mas, então, certo pai relatou-me uma observação intrigante feita por sua filha: “o senhor ficou na minha bochecha um tempão papai, afirmava ela sorrindo meigamente para o pai!” Por um instante ele tentou decifrar o enigma, mas sem entender perguntou à pequena: - como assim, filha? É que o senhor me acordou com um beijo molhado e ele ficou grudado aqui, pondo a mãozinha na bochecha, um tempão, papai! – E agora não está aí mais não filha, questionou o pai? Mais não! Já secou... acho que foi para o coração agora!!!!
Eureka!!!! Na irreparável fuga do tempo, não são as coisas e os muitos afazeres que delimitam sua constante e irrefreável cadência. Aliás, desde que o Big-Bang (para alguns) ou o Fiat Lux (para outros) são o que são, a matriz espaço-temporal é a mesma. Constância tangível na movimentação objetiva dos astros!!! Somente uma coisa tem o poder de eternizar o tempo, na dádiva do agora: o afeto... que habita na morada da psique!!! Inconstância intangível na existência real da afetividade.
Suspeito que assim como o inconsciente, os afetos são intemporais e atemporais, embora só possam ser expressos na ordem do tempo, conjugados à nossa carne e sentidos, alegrias e tristezas, medos e desbravamentos. E no exato momento em que se efetivam, todo o tempo parece desaparecer. Parecem existir fora do tempo e por isso mesmo não sujeitos a ele. E se o beijo de Eros tem verdadeiramente o poder, segundo a mitologia grega, de reanimar a psiqué, o beijo do afeto, pela força do afago, tem o poder de nunca deixar morrer a afetividade com a qual ansiamos, desde o ventre de nossas mães, o “derradeiro aconchego”.
Mas creio que estamos longe de nos convencermos desta verdade, salvo pequenas manifestações em contrário aqui e ali. Nossa louca civilização nos “(des)educou” demasiadamente na lógica do muito pensar e do muito ter, de uma tal forma que sempre suspeitamos do “fruir” e do ser. Dificilmente ficaríamos impressionados com quem se doutorasse, por exemplo, em “abraços quentinhos”, “carícias essenciais”, “palavras de afirmação” ou “qualidade de tempo”! Não sem razão somos uma civilização existencialmente adoecida e adoecendo vertiginosamente!! Não nos causa estranheza, por exemplo, conjugar o verbo sofrer, mas estranhamos quando tentamos criar um verbo para a felicidade, como nos lembrou em sua prosopoética arte de “FELIÇAR”, O Arthur da Thávola!
Essa atitude de “feliçar” somada à decisão de não querermos apressar o rio que corre sozinho pode ser a “chave psicológica” para um fitoterápico, mas eficaz cuidado d’alma. Afinal, dar tempo ao tempo é permitir que Deus visite nossos jardins existenciais na viração de cada dia e se alegre com e em nossa alegria (Gn 3,8). Vamos lá: “eu feliço, tu feliças, ele feliça, nós feliçamos, vós feliçais, eles feliçam...” e, de fugidio, o tempo seja sempre um tempus beneficiis, um tempo favorável!!
Diácono Robson Adriano