Vivemos tempos sombrios em que o mundo se vê invadido por tantos vírus, como o coronavírus que vem ceifando milhares de vidas. No Brasil, em pouco mais de um ano do registro de sua presença, são mais de 260.000 pessoas que vieram a óbito. Mais do que o número, que assusta a todos nós, são vidas, são histórias, são sonhos interrompidos, são famílias que perdem seus entes queridos e que, em razão disso, mudam toda a sua perspectiva de vida e de futuro.
Contudo, tão grave como os vírus das doenças endêmicas, temos outros, como o da indiferença, do ódio, do preconceito, das violências... esses também continuam matando as relações humanas, desumanizando pessoas, criando conflitos e polarizações... construindo muros que separam, em vez de pontes que unem pessoas e povos.
A quaresma é tempo próprio de conversão, de penitência e caridade; tempo de avaliarmos nossa conduta, tempo de mudança, com passos largos, renovando os bons propósitos de vida cristã de viver a fraternidade, o diálogo, o compromisso de amar e servir.
Jesus nos recomenda assumir, com espírito renovado, as obras indicadas para o cumprimento da aliança com Deus, em conformidade ao que prescrevia a lei mosaica, especialmente a oração, o jejum e a esmola. Elas marcam, respectivamente, nosso relacionamento com Deus, conosco mesmo, com o próximo e com as coisas criadas e os bens de que dispomos.
Somos chamados, no exercício dessas obras, a amar a Deus, acima de tudo; a sermos obedientes à sua Palavra, solícitos aos seus apelos, empenhando o melhor de nossas forças pra fazer a sua vontade e não a nossa; a trazer, em nosso coração, os mesmos sentimentos do coração de Deus.
Neste tempo, a Igreja no Brasil nos propõe a Campanha da Fraternidade. Este ano, celebrada em comunhão com outras Igrejas cristãs. Ela nos exorta a buscar a unidade, a nos comprometer com a vida de nossos irmãos sofridos, a somar forças em vista de um mundo mais inclusivo, justo e fraterno que evidencie a presença do Reino de Deus entre nós.
Como se vê, temos um longo caminho a percorrer. A tentação é nos acomodar; é dar por justa a realidade social e econômica em nosso Brasil; é viver a fé, de modo privado, sem nenhuma incidência na vida social; é culpar os outros pelas realidades injustas e violentas, sem nos darmos conta de nossas omissões e desmandos.
Precisamos fazer diferente. Temos que vencer estas tentações. Rasgar, como diz o profeta Joel, “não as nossas vestes, mas o nosso coração” (Jl 2,13), com mortificações e sacrifícios que, verdadeiramente, agradem a Deus e nos transformem em pessoas melhores.
O tempo é agora. Quaresma é tempo de conversão.
Pe. Marcelo Moreira Santiago