Iniciamos dezembro, no calendário civil! Aproximamo-nos do “marco zero” de todo Ano Novo! Mais um pouco de tempo e começarão as extravagâncias!!! Veremos superstições de todos os gostos: roupas com cores escolhidas minuciosamente para não alterar o equilíbrio cósmico-planetário ou para não atrair azares diversos para o novo ano; dobraduras de notas de dinheiro para garantir que ele te acompanhe o ano todo; sementes de romãs sendo minuciosamente contadas e guardadas como verdadeiros amuletos; para os que conhecem e estarão no mar, as sete ondas serão puladas; roda da fortuna, pau de baunilha, incenso de cravo e canela etc e tal, e tudo mais o que a criatividade ditar! Somam-se a tudo isso foguetes coloridos, muita bebida, comida nem sempre partilhada e a antiga canção da virada: adeus ano velho, feliz ano novo, que tudo se realize...
Nada contra tudo isso, mas creio que a fé, inspira-nos uma outra postura!
Sem fazer nenhum alarde, as flores recomeçam em cada nova estação primaveril: nunca as mesmas, mas sempre primaveris. Da mesma forma, sem fazer alarde, os frutos amadurecem em cada outono: nunca os mesmos, mas sempre outonais! Na objetividade do mundo da natureza, tudo se transforma e recomeça sempre, e quase sempre sem fazer alarde. Tudo está devidamente posto para compreendermos que há tempo certo para cada coisa debaixo do céu, sobre o calor do sol, ou mesmo dentro da escuridão da noite. Como nos diz a Palavra: “Há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu!!” (Ecle 3,1).
Vivemos um momento particularmente favorável dentro e mesmo fora da Igreja. Iniciamos mais um Ano Litúrgico que começou sem fazer alarde e proclamando um tempo (o tempo do Advento) carregado de toda a esperança: a de que entre a primeira vinda de Cristo (que marcou a companhia do amor entre nós) e a sua vinda definitiva (que marcará, em absoluto, o reinado do Amor), Ele possa chegar/Adventum ao mais profundo de nosso ser manifestando lá, no mais íntimo de nós, o amor de Deus. E, para nós, isso é muito importante que aconteça, pois cremos que tudo o que nos toca no mais profundo do coração, move o nosso ser, o nosso jeito de pensar, de agir, falar e de nos relacionarmos com as pessoas. Pois o amor, não cabendo em si, e transbordante, faz-nos amar. Essa é a verdadeira esperança deste tempo favorável: nascendo o Menino-Deus em nossos corações, ilumine com o amor todas as dimensões de nossa vida.
Trata-se, pois, para nós cristãos, de mais uma oportunidade de renovação espiritual. Deus age incessantemente em nós pelo seu Espírito e nos convida, a cada novo ciclo litúrgico, vivendo a fé, a esperança e a caridade, e em torno aos mistérios de seu Filho, a deixarmos que o Cristo chegue em nós com toda a força do amor.
Preparemos, pois, neste tempo favorável, os nossos corações e reavivemos a nossa fé no momento presente. Nossos corações, neste tempo de preparação para o natal, sejam por hora nossa coroa do Advento!! Que para os “quatro cantos” de nosso coração possamos acender uma vela, uma luz, que nos inspire a viver intensamente a chegada do senhor: a vela da gratidão (pela bondade do Senhor que sempre chega/adventum até nós); a vela da conversão (num sincero reconhecimento de que devemos caminhar sempre na direção da Luz); a vela da Santa Alegria (que é o contentamento por termos sido considerados dignos de ter a Cristo por irmão e a Deus por nosso Pai) e a vela da partilha (que nos faz chegar até os irmãos assim como Deus chegou até nós.
Só assim, diferentemente do que acontece quando mudamos de ano no calendário civil, recomeçaremos este novo ciclo litúrgico na certeza de que saber recomeçar é tão importante quanto saber viver.
Diácono Robson Adriano