Nossa reflexão de hoje inicia-se com aquelas historinhas que todos certamente já ouvimos em algum momento da vida. Não sabemos se são verídicas ou não, mas isso importa menos, dado o conteúdo que nos revela uma certa sabedoria do coração. E por falar em coração...
Pai e filho caminhavam tranquilamente em direção à igreja, numa manhã de domingo, como as primeiras comunidades cristãs costumavam fazer (cf. 1Cor 16,2; Atos20,7). Passando em frente a uma catedral dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, a criança entreteu-se com uma enorme imagem do Sagrado Coração bem acima da porta de entrada do templo. A imagem era mesmo enorme, uma verdadeira obra de arte. Forçando o Pai a diminuir seus passos, e olhando para a imagem, o filho, apontando com o indicador, perguntou: “Papai, por que o coração daquele homem saiu para fora do peito?” Detendo-se em seus passos, o Pai, um reverendo Luterano que ia para a celebração dominical de costume, parou em frente à imensa catedral, fitou a imagem com um semblante sério, depois ficou em silêncio por alguns segundos, buscando no coração de pai a sabedoria para responder ao filho o que o pequeno havia acabado de perguntar. Percebendo, então, que o filho precisava mais de afeto do que de doutrinação naquele instante, abaixou-se pacientemente, olhou para o filho, olhos nos olhos, colocou a mão no peito da criança, à altura de seu pequeno coração e disse, inspiradamente : “ aquela imagem representa Jesus, filho! Ele amou tanto a Deus, seu Pai, e ao próximo (seus irmãos), mas tanto, tanto mesmo, que seu coração não coube dentro do peito, filho! Por isso estamos indo à igreja! Pedir a Jesus que nos dê um coração manso e humilde como o coração dele.” E continuaram a dominical caminhada.
“Senhor, manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso”! Essa breve oração mental, chamada jaculatória, repetida incansavelmente por cristãos no mundo inteiro, é uma reação à Palavra de Jesus no Evangelho: “aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração!” (Mt 11, 28). Aprender do Senhor a ter um coração manso e humilde! Mansidão às inspirações do Espírito Santo não lhe opondo resistência e cooperando na construção do Reino de Deus; humildade no serviço, ao exemplo do próprio Senhor que nos afirmou ter vindo para servir e não para ser servido! Mansidão e humildade, frutos do Espírito em nós, agindo em nossos corações.
O mês de junho é marcado na Igreja Católica por um devocionário de ações em honra ao Sagrado Coração de Jesus. Compreendemos facilmente que não se trata do membro cardíaco de Jesus, mas metaforicamente de todo o seu ser: corpo, alma, mente e espírito. De toda a sua divindade e humanidade integradas em seus gestos, palavras e ações! Um coração sagrado, numa vida sagrada e consagrada ao amor, ao serviço, à doação. O coração de Jesus transborda de um amor filial. Provado em sua humanidade, tentado em solidariedade a nós, foi fiel ao “coração amoroso” do Pai e ao seu plano de nos criar por amor para nos amar e fazer-nos participar deste amor. Por isso, “Deus o exaltou soberanamente e lhe conferiu o Nome que está acima de todo nome”! (Filipenses 2, 9-10). Um transbordamento inesgotável de amor porque está unido à fonte de todo amor: o coração de Deus que ama com força eternal!
Da interação divina entre os corações amorosos do Pai e do Filho, brota toda fecundidade santificadora do Espírito, cujo “coração”, confirmando eternamente o amor do Pai e do Filho e vivificando-o, chega até nossos corações com a promessa de nos renovar: Dar-vos-ei um novo espírito e um novo coração! Tirarei de vosso peito esse coração de pedra e no lugar colocarei um novo coração de carne! Infundirei em vós o meu Espírito...” (Ezequiel 36, 26). Mais uma vez é inevitável dizermos: Senhor, manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso! E sabemos que isso é obra do Espírito Santo, cujo “coração amoroso” deseja ardentemente fazer-nos filhos no Filho! Essa é a obra do Espírito! Sua missão e missão de nosso ser Igreja! Por isso insistentes repetimos: “Criai em mim, Senhor, um coração puro, enraíza em mim um espírito novo”! (Salmo 51, 11).
A maior homenagem que podemos prestar aos divinos corações, que na verdade não são três, mas um só coração simbolizado pelo Coração Sagrado de Jesus, é pedir a Deus que nestes tempos difíceis nos conceda a sabedoria do coração que nos torna capazes de também nós sermos multiplicadores da multiforme graça amorosa de Deus. Por isso pedimos: “Ensinai-nos, Senhor, a contar os nossos dias, e dai ao nosso coração sabedoria. Sacia-nos de manhã com teu amor e exultaremos de alegria durante todo o dia”! (Salmo 90(89) 13-14).
Por isso, “Senhor, manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso”!
Diácono Robson Adriano