Os especialistas na área da saúde são unânimes em afirmar que o sedentarismo não foi feito para o ser humano! Ele coloca em xeque um de nossos maiores patrimônios: a saúde... física e mental! A falta de movimento, de atividade física e mental, prejudica seriamente a saúde e a qualidade de vida. Assim, como a água parada gera riscos sem fim e os músculos parados atrofiam, o ser humano precisa, física e mentalmente, estar em movimento!
Pois bem, numa analogia com os especialistas da espiritualidade cristã, o sedentarismo espiritual, pior ainda que o sedentarismo em seu aspecto físico, coloca em xeque-mate não só nossa saúde física e mental, mas nosso maior patrimônio espiritual: nossa alma, nosso espírito. Isso deveria amedrontar-nos, afinal, lemos na Palavra: “Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno”. (Mateus 10, 28). E se assim for, o sedentarismo espiritual pode, nos termos do Evangelho, matar nossa alma!
Ora, no campo dos especialistas da saúde, afirmam, com todas as letras, e letras maiúsculas: “a prática regular de atividade física traz bem estar físico e mental além de contribuir para o bom funcionamento do coração, da circulação sanguínea, da respiração e até dos hormônios”! Por todos os lados vemos hoje academias com propostas para todas as idades, personal trainer em atividades físicas, aplicativos que prometem ajudar a manter as pessoas na ativa etc e tal. É crescente o número dos adeptos das caminhadas, do Cooper, dos treinos e de uma vida menos sedentária. Parece que enfim despertam da preguiça!!
Mas o que isto tudo tem haver com nossa espiritualidade cristã? Ouso dizer que tudo!! Se contra o sedentarismo há o incentivo à atividade física, contra o sedentarismo espiritual temos que nos despertar para a atividade espiritual, para os exercícios espirituais, como dizia Santo Inácio de Loyola, fundador dos Jesuítas. Ele viveu entre os anos de 1491 e 1556. Para este santo, a única forma de acolhermos a íntima ação de Deus em nossa vida e compreender sua vontade seria nos exercitando espiritualmente. Somente os exercícios espirituais ordenariam para Deus e o seu Reino nossas afeições desordenadas, nos dando o maior bem que um cristão pode ter: a saúde espiritual, ou seja, a santidade. Para Santo Inácio, trata-se de “qualquer modo de examinar a consciência, meditar, contemplar, orar vocal ou mentalmente e outras atividades espirituais... Porque, assim como passear, caminhar e correr são exercícios corporais também se chamam exercícios espirituais os diferentes modos de a pessoa se preparar e dispor para tirar de si todas as afeições desordenadas e, tendo-as afastado, procurar e encontrar a vontade de Deus”.
Não resta dúvida: a prática dos exercícios espirituais ordena-nos, mental e espiritualmente, conectando-nos com Deus, conosco mesmos, com os outros e com o mundo, contribuindo para a ação do Espírito Santo que habita e age em nós. Ele, o Espírito, dispõe-nos assim para a missão, nos configurando a Cristo e permitindo-nos agir na dinâmica do Reino.
Desta forma, o tempo quaresmal passa a ser, mais particularmente que todos os demais tempos, um KAIRÓS, ou seja, um tempo de graça, tempo oportuno de conversão e de exercitar nosso espírito no amor de Deus. Neste tempo se destacam três exercícios espirituais singulares que ordenam todo o nosso ser para a descoberta de que não nascemos por acaso e que não faz sentido para nós, que cremos, viver a “esmo”! Não! Sabemos bem nosso caminho: Cristo Jesus.
Os três exercícios espirituais acima mencionados são as atitudes espirituais fundamentais do tempo quaresmal, quais sejam: a oração, o jejum e a esmola ou caridade! Têm o poder de nos descentralizar e de nos exercitar na prática da santidade de vida pelo diálogo amoroso com Deus, pelo domínio de si em relação às emoções, desejos e tentações para nos deixar mais livres para a esmola ou caridade, que samaritanamente faz de nós atentos às necessidades do próximo. D’outra forma, o diálogo com Deus, amorosa e afetuosamente, nos faz VER nossa pequenez e a necessidade de estarmos sempre praticando a COMPAIXÃO em relação ao outro, à natureza e a nós mesmos. Desse processo nasce o CUIDADO como a maior expressão de que somos de Deus e nossa maior vocação é o amor.
Abramos os corações a este tempo favorável. “Procuremos ao Senhor enquanto ele se deixa encontrar; chamai-o, pois ele está próximo. Que o mal abandone o seu caminho e o malfeitor seus pensamentos. Que ele retorne para o Senhor, o qual lhe manifestará sua ternura” (Isaías 55, 6-7).
Diácono Robson Adriano