Faço-me, sempre, duas perguntas, respectivamente: quanto amor cabe no olhar de Jesus? Quanto amor cabe em meu próprio olhar depois de olhar para Jesus e permitir que ele me olhe? E olhando para o olhar de Jesus, peço a ele que me dê a graça de um olhar “crístico”, ou seja, um olhar que vê o mundo e as pessoas com um olhar amoroso, a partir do coração de Deus!
Segundo o Evangelho de Marcos (bem como também os Evangelhos de Mateus e Lucas), alguém aproximou-se de Jesus, pôs-se de joelhos e perguntou com reverência o que deveria fazer para ganhar a vida eterna. Uma pergunta que colocava o aqui e agora de nossa vida numa relação direta com o depois desta nossa vida aqui. Ou seja, com a eternidade. O que devo fazer, perguntava aquele estranho para Jesus. Ou seja, como deve ser o meu modo de ser para que eu seja, um dia, vivente na eternidade? Como eu devo ser para que esta minha vida vivida na fé já seja uma certa antecipação do céu que desejo herdar?
Mas depois de ouvir do Senhor o que deveria fazer, na perspectiva da obediência aos mandamentos, e depois de ter confirmado para o Senhor que a fidelidade aos mandamentos, desde sua mocidade, era uma constância em seu agir, o estranho, em silêncio, ficou na companhia do olhar amoroso de Jesus, aguardando do Mestre o que deveria fazer, então, além do que já fazia! O Evangelho nos atesta (especialmente o Evangelho de Marcos), uma reação divina do Mestre: “Jesus fitou-o e começou a amá-lo!” (Marcos 10, 17). Que cena maravilhosa, às vezes incompreendida, creio, por nossa pressa na leitura do santo Evangelho e por não sermos capazes de contemplar com mais acuidade espiritual a Palavra Divina, ou ainda pelo receio de sermos vistos pelo olhar amoroso de Jesus, que exigirá de nós o mesmo que exigiu daquele desconhecido.
Aquele olhar que principiava amar aquele estranho, devia tê-lo penetrado o fundo da alma. Jesus certamente percebeu que não se tratava de arrogância, mas da confissão de uma pessoa que se esforçava para ser boa, uma vez que desde sua mocidade esse homem observava os mandamentos! Mas com uma sensibilidade à toda prova e uma intuição espiritual aguçada, ao mesmo tempo em que contemplava naquele homem o desejo profundo de ser bom, Jesus via também o quanto toda a sua confiança não estava ainda toda voltada para Deus. Sem tirar o olhar daquele estranho, e amando-o, disse-lhe: “Só te falta uma coisa; vai; o que tens, vende-o, dá aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem, e segue-me!”
Permanecendo com o olhar fixo naquele homem, Jesus vê seu semblante mudar. Vê que suas palavras, a exigirem dele desprendimento das coisas materiais e seguimento no discipulado, provoca-lhe acabrunhamento e tristeza, pois conforme nos atesta o Evangelho, “ele tinha muitos bens!” (Marcos 10, 22). Pelo que o Evangelho nos sugere, aquele homem queria ser bom, herdar a vida eterna, mas confiando mais em seus muitos bens materiais , fazendo o que preciso fosse... desde que sua riqueza não fosse colocada em xeque!!! Queria herdar o céu, mas sem deixar de confiar em suas posses. Parecia-lhe ser demais, esse algo a mais que lhe faltava fazer e que o Senhor lhe pedia naquele instante, com aquele olhar! Não sabemos se a tristeza daquele homem o levou depois a redescobrir o olhar amoroso de Jesus e a encontrar neste olhar o único tesouro que nos pode verdadeiramente enriquecer ou se ele deixou-se vencer pela tristeza e resistiu à conversão. Mas sinceramente isso importa pouco agora, hoje, para você que me lê e para mim!! Neste tempo que é para nós o último, o tempo do Espírito, o tempo da Igreja (da Igreja que também somos todos nós), o Senhor continua olhando-nos amorosamente e a todo instante principia a nos amar, intensamente como o primeiro amor, como o único, como o último!! A todo instante, o Senhor recomeça a nos amar, uma e outra vez, mais outra e tantas vezes quantas necessárias forem para seduzir-nos com seu amor e enfim convencer-nos de que nosso maior tesouro está no DESPREENDIMENTO de nós mesmos e do que temos.
Mas carregamos este tesouro em vasos de argila (2Cor 4, 7) e às vezes a sedução da garantia do ter, do fazer e do estar no centro nos faz abaixar o olhar do olhar amoroso de Jesus, e, desviando assim nosso olhar, preferimos os tesouros que a traça e o tempo corroem! O olhar de Deus permanece sempre voltado para nós, principiando a cada instante a nos amar! Que este olhar, nos vendo como somos e nos amando assim, permita-nos trocar a tristeza do muito ter pela alegria de, por amor, muito servir!
Maria, a terna mãe do serviço, nos anime com a santa alegria de sermos todos de Deus, sem reservas, completamente entregues! Assim, tudo o que temos e tudo o que fazemos, teremos e faremos para a maior glória de Deus, amém.
Diácono Robson Adriano