A experiência que ora coloco-me a partilhar, aconteceu em um retiro espiritual em Itaici, São Paulo, no ano de 1998. Havia me distanciado do colo da Mãe por um período, e eis como ela me reconquistou. A dinâmica do dia girava em torno do amor de Deus por nós e das nossas resistências em compreender, aceitar e replicar este amor no convívio com as pessoas e em nossas ações cotidianas. Era uma sexta-feira e fazíamos, na hora da misericórdia, quinze horas, uma imersão na Palavra de Deus, através da Leitura Orante do Salmo 51 e da parábola do Filho Pródigo. Exercitávamos a contemplação da cena da parábola. Identifiquei-me com o filho pródigo e depois de percorrer com ele todas as etapas de sua existencial conversão, chegávamos próximos à casa do Pai. Neste momento, vi-me sozinho na contemplação. Estava amedrontado e receoso de reencontrar aquele que desprezei quando pedi a herança, magoando-o profundamente. Declarei-o morto, estando ainda plenamente vivo. Mas as pelotas dos porcos em plena fome e a intuição de que no coração daquele homem eu talvez ainda encontrasse algum eco de misericórdia, ao menos para ser tratado como um de seus empregados, fizeram-me regressar. Perdido em meus medos e ansiedades, pus-me a caminhar lentamente, com o olhar cabisbaixo, como quem quisesse postergar indefinidamente a chegada. Envolto em meus mil pensamentos, não percebi quando ele chegou de súbito, e não proferindo uma palavra sequer abraçou-me com seu abraço forte, seguro e quente, longamente. A impressão que tive é que não me soltaria jamais. Depois olhou para mim, inexplicavelmente, com profunda e penetrante misericórdia. Não pude desviar meu olhar de seu olhar, pois eu tinha o rosto envolvido por suas mãos, sempre firmes e ternas. Fiquei embaraçado, e quando ensaiei dizer uma e outra coisa, pedindo perdão pelo que havia feito, como eu havia planejado, sem tirar os olhos de mim, disse com voz trovejante aos seus servos: - Rápido, preparem o novilho gordo; preparai-o para festejarmos... e neste exato momento um leve sorriso esboçou-se em seu rosto. Vi seus olhos lacrimejarem e o ouvi, numa ternura inaudível, dizer-me, olhando fixamente para mim: “pois este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado” (Lucas, 15, 24). Suas palavras penetraram-me profundamente!! Depois ele continuou: - Estávamos à tua espera, com saudades de ti. E se virando para trás, segurando meus ombros com uma das mãos, estendeu a outra na direção... da Bendita Mãe que agora eu passava a ver! A Virgem também chorava e sorria. Estendendo também os braços para mim, envolvendo-me num maternal abraço, sussurrando ternamente em meu ouvido: FILHO!!!! Vamos para casa!!!!
Iniciamos o mês de maio em nossa Igreja, dedicando-o especial e carinhosamente à Mãe do filho de Deus e Senhor nosso, Jesus. Não há idolatria alguma em nosso carinho filial por essa mulher que nos foi dada como mãe pelo nosso irmão mais velho, Jesus, aos pés da cruz: “eis aí tua mãe!” Sabemos que o povo a chama de NOSSA SENHORA por causa de NOSSO SENHOR, como nos ensina as canções do padre Zezinho. Como é bonita uma religião que se lembra da Mãe de Jesus! Mais bonito é saber quem tu és: não és deusa, não és mais que Deus, mas depois de Jesus, o Senhor, neste mundo ninguém foi maior!” E foi ela mesma quem humildemente profetizou os afagos de nossa devoção quando expressou-se na Palavra: “Sim, doravante todas as gerações me proclamarão bem-aventurada”! (Lucas 1, 48b). Bem-aventurada... bendita... feliz... bem amada... Maria, a serva fiel!
Essa verdade atravessa os séculos da história da Igreja e se confirma em cada criança, jovem, adulto ou idoso que aprendeu, ainda em terna idade, a proclamar a Palavra de Deus pela AVE-MARIA e, humildemente, se colocar sob os cuidados dessa terna Mãe, que outra coisa não quer senão que amemos profundamente o seu Filho Jesus, sendo-lhe fiel, como ela mesma se expressou: “fazei tudo o que ele vos disser”... e os milagres acontecerão!! Esta evangélica oração da AVE-MARIA, sendo uma verdadeira proclamação do Evangelho em suas invocações iniciais, é também uma resposta humilde de nossa parte, colocando-nos sob os cuidados dessa Senhora: rogai por nós pecadores...
O respeito para com a Mãe do Senhor Jesus nunca deixou de existir na Igreja Católica, e nunca foi concebido como uma afronta ao amor de Deus e à nossa fidelidade a Ele. Deus mesmo quis valer-se desta Senhora para começar novamente a nossa redenção, recomeçando exatamente com uma mulher, como nos lembra o Papa Francisco. Desde os primeiros séculos cristãos, mais especificamente já no primeiro século de nossa era, uma breve oração já era dirigida à Maria, atribuindo-lhe o nome de TEOTOKÓS: a mãe de Deus. Logicamente, compreendemos a mãe de Deus filho. Nestes dias tão difíceis, dirijamos, sem medo, nosso olhar a ela e confiantes a peçamos: “Ao abrigo de vossa proteção e misericórdia, nos refugiamos, Santa Mãe de Deus! Não deixeis de socorrer-nos em nossas necessidades, mas livrai-nos, Mãe, de todos os perigos. Vós que sois única, casta e bendita. Amém!” (Oração do século I)
Diácono Robson Adriano