“Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão...”
Reunidos em Cachoeira do Campo – Retiro das Rosas, nós, presbíteros do Leste II da CNBB, Minas Gerais e Espírito Santo – para um tempo de formação permanente, estudo, oração e convivência fraterna, fixamos o nosso olhar para o povo e a cidade de Brumadinho. É um olhar de solidariedade, esperança, tristeza, indignação e denúncia.
Sentimos o dever humano e, acima de tudo, profético, de gritar e manifestar nossa indignação, de exigir um basta à ganância, à fúria do mercado e de seus representantes que visam apenas o ter em detrimento do ser. E isso com as cumplicidades de políticos e outras corporações da sociedade que usufruem das benesses de empresas como a Vale e, assim, sustentam seus interesses pessoais e corporativos. Temos consciência que a tragédia de Brumadinho não foi um acidente, mas sim um assassinato de centenas de pessoas, em nome do lucro desenfreado da mineradora Vale. A mesma Vale que, há um pouco mais de três anos, varreu cidades e vilas em Mariana, ceifando vidas, deixando marcas permanentes de sofrimento em milhares de famílias, especialmente as mais pobres. Esse primeiro acontecimento não despertou o coração dos monstros da ganância para o respeito à vida, ao humano, à natureza e ao meio ambiente, destruindo grande extensão do Rio Doce.
Dia 25 de janeiro do corrente ano, o crime se repete. A Vale transforma Brumadinho em um “vale de lama, de lágrimas e de desespero”. Esse crime anunciado não despertou o poder público em suas várias instâncias para a responsabilidade que lhe cabe de proteger a vida dos filhos e filhas da “mãe gentil”. As autoridades públicas são cumplices desse genocídio. Portanto, esperamos que os poderes públicos e a Vale sejam responsabilizados juridicamente por esses assassinatos. São centenas de famílias que perderam entes queridos, pobres, trabalhadores e trabalhadoras que tiveram suas vidas e seus sonhos interrompidos pela ganância do mercado. Manifestamos a nossa solidariedade às famílias e ao povo de Brumadinho, em meio à dor, às lágrimas e ao silêncio. Esse silêncio jamais pode calar o grito de indignação presente no coração de cada um de nós – presbíteros – a serviço do povo de Deus e da vida.
Confiamos cada pessoa atingida ao amor misericordioso do Deus da vida e ao olhar materno de Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais –, que cuidam de seus filhos e filhas. Acolham nossa oração e total solidariedade. Realimentemos a nossa confiança no Deus da vida, da história e da esperança.
Comissão Regional de Presbíteros – Leste II CNBB – MG e ES
Cachoeira do Campo, 30 de janeiro de 2019