Que pergunta interessante a de Pedro: quando posso me desobrigar de perdoar meu irmão ou minha irmã? Existe um limite Senhor? Quero saber para poder aplicar esse limite ou ensiná-lo aos outros.
Será que a vida de comerciante de pescados fez de Pedro um homem que calculava bem suas ações? Será que Pedro possuía algum desafeto? Será que alguém o havia questionado sobre tal matéria e como seu coração, semelhante ao da maioria de nós é mais providente em condenar que perdoar e muito pouco diligente quando o assunto é pedir perdão?
Vai saber!?
Ainda bem que temos Jesus! A resposta do Senhor é fabulosa... Não Pedro, não é até sete vezes, mas até setenta vezes sete (70x7).
Para os mais matemáticos o cálculo do verbo perdoar só chegaria a 490 vezes... Bom, por mais exato que alguém seja, a equação matemática de Jesus, forma de sua resposta a Pedro, não significa sobre o quantum, mas sobre a qualidade do perdão.
Seria possível alguém errar conosco 490 vezes num mesmo dia? Volto a dizer, não se trata da quantidade, mas da qualidade. Trata-se de associar o perdoar ao tolerar, suportar, mudar. Victor Hugo sabia bem disso quando escreveu o poema desejo, quando diz:
“Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.”
Às vezes, quando estamos feridos e machucados, a memória nos castiga fazendo com que o mal praticado contra nós seja infinitas vezes lembrado num mesmo dia, fazendo com que em nossos corações sobrevenha até desejos de vingança, desejos de que Deus castigue alguém.
Por isso, saber perdoar é uma via de mão dupla, uma tolerância que parte de dois lados. Preciso perdoar o outro e aprender a me perdoar por não ser capaz de perdoar e, com isso, necessariamente farei Deus participar da memória e, NELE, reconciliar em mim e fora de mim tudo o que precisa ser reconciliado. É também um tolerar de mão dupla, porque não terei como resolver isso de imediato, por isso, terei de tolerar a memória da ferida recebida ou causada e ao mesmo tempo tolerar, suportar e começar a mudança ao lado de Deus que está na memória comigo agora. Daí compreendemos que não se trata de quantidade, mas da qualidade, sobre o que “significa” ver-se livre do peso que oprime o peito, a alma e a vida.
Uma vida inteira não se compara a um momento na vida. O erro do outro não pode paralisar minha vida, minha história, meus sentimentos. É preciso seguir andando e reconstruindo nossa história nova, simples e essa reconstrução, esse refazer, tem um preço: abrir mão da raiva e da impossibilidade de perdoar que carregamos.
Deus nos perdoa todos os dias, perdoa todas as nossas ofensas cometidas contra sua infinita Majestade, sem reservas e ainda nos oferece as dádivas do SEU amor infinito todos os dias. ELE renova seu perdão e renovando seu perdão associa a esse renovar a grata esperança de que iremos aprender esse caminho, o caminho do perdão que renova a vida!
Pode parecer difícil para alguns, dada a ofensa, mas não há outro caminho, ou nos livramos do peso ou morreremos com ele atado em nossa história impedindo-nos de viver livremente nossa vida!
Pe. Jean Lúcio de Souza
Vigário Paroquial – Paróquia Sagrado Coração de Jesus – Mariana/MG