Esta Festa, embora tão “oculta” no calendário litúrgico, é de fundamental importância na catequese eclesial e na vivência de nossa fé cristã.
Alguns poderiam nos questionar sobre tamanha importância e nossa resposta não poderia ser outra, senão que a notícia da encarnação do Verbo de Deus enche nossos corações de reta esperança, uma esperança edificante e libertadora.
De fato, nossa esperança ganha novo sentido ao ser introduzido o Verbo Eterno entre nós de tal modo que ao entrar não somente em intenção, mas de fato em nossa história, o Senhor Jesus traz consigo a confirmação belíssima de sua vontade, qual seja, ser-conosco e estando em nosso meio, nascido em nossa carne e em nosso tempo consagra a humanidade inteira a uma vocação eternal de salvação por meio do resgate daquilo que somos assumido pelo Cristo.
Lucas aumenta nossa esperança, pois dado um antecedente de reis frágeis, este que é anunciado e gerado vem para reinar de modo diferente. Ele reinará hoje, sem se esquecer do resgate da humanidade pretérita e apontando para um resgate futuro no sempre da eternidade por Ele assumida, dado que “Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim”.
Maria ao dizer sim a tal realidade soma-se a nós nesta esperança. Ela não foge da proposta do PAI, fazendo-se serva do Eterno e com isso construtora da esperança que a fé lha comunicara.
O papa Bento XVI quando escreve sobre a esperança cristã na encíclica Spes Salvi, ao que transcrevo uma parte daquela bela encíclica:
Para compreender mais profundamente (...)devemos refletir ainda brevemente sobre duas palavras referentes ao assunto, que se encontram no décimo capítulo da Carta aos Hebreus. Trata-se das palavras hypomone (10,36) e hypostole (10,39). Hypomone traduz-se normalmente por « paciência », perseverança, constância. Este saber esperar, suportando pacientemente as provas é necessário para o crente poder « obter as coisas prometidas » (cf. 10,36). Na religiosidade do antigo judaísmo, esta palavra era usada expressamente para a espera de Deus, característica de Israel, para este perseverar na fidelidade a Deus, na base da certeza da Aliança, num mundo que contradiz a Deus. Sendo assim, a palavra indica uma esperança vivida, uma vida baseada na certeza da esperança. No Novo Testamento, esta espera de Deus, este estar da parte de Deus assume um novo significado: é que em Cristo, Deus manifestou-Se. Comunicou-nos já a « substância » das coisas futuras, e assim a espera de Deus adquire uma nova certeza. É espera das coisas futuras a partir de um dom já presente. É espera – na presença de Cristo, isto é, com Cristo presente – que se completa no seu Corpo, na perspectiva da sua vinda definitiva.
Posto isso, caríssimos e caríssimas, estarmos assentados nessa esperança que se torna concretamente viva no seio da Bem-aventurada Virgem Maria, é localizarmo-nos no corpo místico do Cristo que sempre aberto, pela caridade, toma para si nós mesmos, mais uma vez, num “outro ato criacional”,ou seja, Ele, no ventre de Maria recria a humanidade em forma de esperança de que a Ele voltássemos nossos olhares e nossa ação se configurasse junto a Maria na mesma categoria de um sim que acolhe Deus mesmo na totalidade de nosso ser, sempre genuflexos para cantarmos o Magnificat de uma alma que sempre se alegra no Senhor.
O ato do anúncio do Verbo que seria formado no ventre de Maria é esperança, mas igualmente é um ato de amor que em Jesus Cristo se esvazia para nos preencher da dignidade filial. Sermos nutridos pela esperança cristã é resposto ao amor de Deus por nós, manifesto na Anunciação de um Deus Absoluto que nos ama se doando de modo igualmente absoluto e que quis se fazer presente em nossa história. Deus está em nosso meio totalmente pessoal.
Assim o Papa Bento nos ensina:
O homem é redimido pelo amor. Isto vale já no âmbito deste mundo. Quando alguém experimenta na sua vida um grande amor, conhece um momento de « redenção » que dá um sentido novo à sua vida. Mas, rapidamente se dará conta também de que o amor que lhe foi dado não resolve, por si só, o problema da sua vida. É um amor que permanece frágil. Pode ser destruído pela morte. O ser humano necessita do amor incondicionado. Precisa daquela certeza que o faz exclamar: « Nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor » (Rom 8,38-39). Se existe este amor absoluto com a sua certeza absoluta, então – e somente então – o homem está « redimido », independentemente do que lhe possa acontecer naquela circunstância. É isto o que se entende, quando afirmamos: Jesus Cristo « redimiu-nos ». Através d'Ele tornamo-nos seguros de Deus – de um Deus que não constitui uma remota « causa primeira » do mundo, porque o seu Filho unigênito fez-Se homem e d'Ele pode cada um dizer: « Vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou a Si mesmo por mim » (Gal 2,20).
Caríssimos no amor e na esperança cristãos que alcançaram o coração da bem-aventura Mãe do Senhor e nossa, sejamos corajosos anunciadores do amor de Deus que nos veio visitar em Jesus Cristo!
Pe. Jean Lúcio de Souza
Vigário Paroquial – Paróquia Sagrado Coração de Jesus – Mariana/MG