Hoje acordei com minha infância aflorada, lembranças saudáveis e resolvi compartilhar um pouquinho com vocês.
Lembrei-me da fábula dos três porquinhos. Vocês se lembram dela? Vou contar rapidamente...
Havia três porquinhos. Diz a história que um dos três era sábio e esperto e não tinha preguiça, porém os outros dois, em bom mineirês “vixi Maria, tudomornapreguis”, ou seja, “tudo morto na preguiça”, mesmo assim, todos tinham seu valor.
Um lobo, que era mau, os considerou apetitosos e resolveu fazer com o primeiro um belo feijão tropeiro, com o segundo uma rica feijoada e com o terceiro um bom leitão à pururuca.
Odiosamente procurou devorá-los tentando derrubar suas casinhas, uma de palha, outra de madeira e a última de forte alvenaria. O jargão do lobo, frente cada casinha já conhecemos: “vou inchar e vou soprar e sua casa irá voar”...
Aqueles dois porquinhos desavisados que cantavam despreocupadamente, quase que provocando o lobo com suas simples proteções: “quem tem medo do lobo mau?”. Tadinhos...
No final a casa dos desavisados fora derrubada pelo odioso lobo mau que os perseguiu até encontrarem abrigo e proteção na casa do irmão que soube se proteger do lobo em sua forte casinha.
O lobo, doido de ódio, queria devorá-los e agindo sem pensar subiu no telhado da casinha de alvenaria e desceu pela chaminé, e tendo ali uma boa caldeirada de óleo fervente saiu chamuscado em seu próprio ódio.
Acho que muitos de vocês se lembraram da fábula, não é mesmo? Mas, qual a ligação dessa história com a liturgia da Palavra? Acredito que muita coisa.
Existe um lobo mau que rodeia nossas vidas, todos os dias, através do relacionamento humano. Esse lobo pode soprar e nossas casas derrubar e sem que percebêssemos e se não soubermos onde nos abrigar, seremos por ele devorados, vagarosa e silenciosamente.
Um dos piores sentimentos (lobo) que podemos deixar nascer e crescer em nossos corações é a cólera. Pensem em um “cupim” silencioso que corrói nossa alma e destrói nossa paz! Quando a gente assustar toda casa estará comprometida.
Pensem num lobo que destrói tudo e retira nós mesmos de nós. A raiva, a cólera, o ódio são lobos...
Jesus sabia desse lobo mau e sabia muito bem que se não soubéssemos nos abrigar sob o pálio da Palavra da Verdade e de seu Amor Misericordioso que tudo perdoa e reconcilia seríamos devorados por esse lobo e agiríamos mal. Nosso comportamento seria na força do ódio e por causa disso poderíamos destruir o outro através das ações cheias de cólera, por isso Jesus nos adverte: “Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo”.
O ódio, a raiva e a cólera destroem nossas casas, transformam-nos em pessoas de más condutas fazendo-nos réus por destruirmos a casa do outro por causa de nossas ações, ou seja, por esses sentimentos podemos nos transformar em lobos socais, devorando-nos uns aos outros.
O ódio nos impele às más palavras, antecipamo-nos às críticas, aos maus juízos. Chamamos nossos irmãos e irmãs de patifes e somos condenados pelo tribunal de nossas consciências à prisão do isolamento, do fracasso. Consideramos o outro um tolo e nos aninhamos daquela ventania da arrogância que derruba nossas casas e nos leva ao inferno da falta de paz e da vingança.
É preciso, pois, edificar uma casa de boa alvenaria que nos proteja do lobo e que não sejamos associados à sua matilha. Analisar nossas consciências sob a ótica do forte perdão, base de nossas relações humanas. Viver uma vida no Espírito sempre prontos em servir e amar e lentos para a cólera. É preciso, por vezes, ofertar outro dom diante do altar do Senhor: aquele coração contrito que nos leva a reconciliar com nossos irmãos e irmãs independente do mal que fizeram.
Reconcilia-te... não deixe o lobo derrubar sua casa!
Paz e bênçãos!
Pe. Jean Lúcio de Souza - Vigário Paroquial da Paróquia Sagrado Coração de Jesus.