“Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores”
Is 58,9b-14; Sl 85; Lc 5,27-32.
1. Preparo-me para ouvir o que Deus tem a me dizer:
- Faça silêncio, por alguns instantes, aquiete o seu coração.
• Você agora está na presença de Deus, para ouvir sua Palavra de vida, verdade e salvação. Coloque-se, confiante, em suas mãos. Invoque o Espírito Santo, pedindo que Ele lhe conceda suas luzes e dons.
• Leia, atentamente, os textos da sagrada Escritura, propostos para esse dia. Para isso, tome a sua Bíblia ou o livro da Liturgia da Palavra... Coloque-se nas cenas dos textos bíblicos, saboreando a presença de Deus... Se precisar, leia, novamente, os textos, detendo-se no que mais lhe chamou atenção.
2. Medito, nesse momento, a Palavra de Deus:
- Depois da forte denúncia dos pecados do povo (Is 58, 1), a pedido de Deus, o profeta Isaías passa à exortação.
- Ele exorta àquilo que hoje se poderia chamar caridade fraterna (vv. 9- 10a), motivada pela promessa da comunhão com Deus e da restauração do país (vv. 10b-12). Algo que a Campanha da Fraternidade nos propõe, ao nos convocar à vivência da fraternidade e da amizade social, pois “somos todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).
• Olha a promessa: “Se fizeres isso..., nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia. O Senhor te conduzirá sempre e saciará tua sede na aridez da vida e renovará o vigor do teu corpo...”
- Depois, o profeta exorta ao respeito pelo sábado, agora visto a partir dos direitos de Deus (v. 13) e a consequente promessa de felicidade no Senhor (v. 14). Com outras palavras:
• Primeiro Deus pede que seja afastado tudo o que divide o povo, como opressão, falsas acusações, difamação. Para quem cumpre a sua Palavra, Deus promete a comunhão com Ele e a prosperidade.
- Falando assim o profeta recorda que a reconstrução da justiça social é condição para que também sejam restauradas as antigas ruínas. Em tempos pós-exílios, de retorno à terra prometida, não basta a reconstrução externa, é preciso priorizar a reconstrução do coração.
• É o que o profeta Joel nos exortava na quarta-feira de cinzas: “rasgai não as vossas vestes, mas o vosso coração” (Joel 2,13). Conversão sincera, de verdade, a partir de dentro...
- Por fim, vem, nas palavras do profeta, a exigência de abandonar o eficientismo e retomar o sentido do repouso sabático, ou seja de “guardar o Dia do Senhor” com a consequente promessa de saborear a alegria do Senhor e dos seus bens.
• Esse olhar de contemplação, do “guardar o Dia do Senhor”, diante de todo o ativismo e agitação da vida moderna torna-se algo a ser buscando com toda intensidade... estamos, cada vez mais, precisados de “saborear” a alegria do Senhor e dos bens que Ele nos confiou.
- No Evangelho, a conversão de Levi (Mateus) concretiza a afirmação de Jesus: “Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores” (v. 32) e sintetiza toda a ação anterior de Jesus:
• A chamada dos primeiros discípulos, homens simples e rudes; a cura do leproso, do paralítico...
• Agora, Jesus convida ao seguimento um homem duplamente desprezível: ele era um explorador profissional, como cobrador de impostos, e era um colaboracionista do império romano, cobrava impostos para o império romano que dominava o povo de Israel.
- Jesus revela a liberdade total das suas escolhas. Trata-se de uma liberdade que liberta, porque nasce do amor. Levi, “deixando tudo, o seguiu” (v.28).
• A libertação e a vida nova estão orientadas para o seguimento de Jesus, para o discipulado.
- Levi, libertado e tornado discípulo, quer fazer da sua experiência um acontecimento de graça para outros. Por isso, organiza um banquete em sua casa (v. 29).
- Jesus veio ao mundo para chamar o homem pecador à conversão e à comunhão com Deus. Mas, para experimentarmos a Misericórdia, devemos reconhecer-nos doentes e pecadores.
• Não é fácil colocar-nos entre os pecadores, por vezes queremos resistir, nos julgar melhores, sem reconhecer nossas limitações e fragilidades. A resistência em nos considerarmos pecadores, já é sinal de orgulho e de egoísmo.
• Precisamos nos reconhecer nos doentes a quem Jesus cura e em Levi a quem Jesus perdoa. Só então poderemos experimentar a felicidade da Misericórdia que cura e perdoa.
• Lembre-se Jesus se fez solidário a você e se dispôs a carregar sobre Si o seu pecado...
- Reconheço que sou fraco e pecador, que preciso do perdão de Deus e de que Ele cure o meu coração? Guardo o “Dia do Senhor” ou tenho vivido num ativismo desenfreado, escravo das coisas do mundo? Que respostas venho dando ao chamado que Deus me faz, estou disposto a deixar tudo e segui-lo como fez Levi? Do que devo me desapegar? Testemunho o amor de Deus vivendo a caridade cristã, sendo sinal do cuidado de Deus para com a criatura humana e para com todo o criado?
3. Reze à luz dessa Palavra:
- Pela boca de Isaías, Deus nos exorta à solidariedade e à partilha com os irmãos e irmãs.
• Jesus é, para nós, o exemplo perfeito dessa solidariedade e dessa partilha. Ele partilhou a nossa vida e a nossa condição. Assumiu as nossas limitações e o nosso pecado. Passou fazendo o bem a todos e acolhendo a todos.
• Reconhecendo a misericórdia que usou para conosco, só a Ele devemos procurar, solidarizando-¬nos com Ele na obra da redenção do mundo.
- O Evangelho é realmente Boa Nova para todos quantos nos sentimos carecidos da misericórdia de Deus que nos cura e nos perdoa.
- É também Boa Nova para toda e qualquer pessoa humana, chamada a defender a dignidade do próximo, especialmente quando se trata de gente espezinhada pelos outros, os pobres, os marginalizados, os pecadores, os excluídos...
• "O sábado foi feito para o homem - diz Jesus - e não o homem para o sábado" (Mc 2, 27).
• Para realçar a dignidade da pessoa humana, Jesus realiza muitos milagres ao sábado (Mc 3, 1-6; Lc 14, 1-6; Jo 5, 1-14). Para Jesus, fazer bem ao ser humano é o melhor modo de santificar o sábado.
- Peça a Deus, em oração espontânea, a graça da conversão, da prontidão em dizer sim ao seu chamado e da alegria de servir e servir com amor, exercendo, em favor dos irmãos e irmãs, a caridade fraterna.
• Lembre-se da graça da semana: pedir a sua conversão integral para doar-se, livre e generosamente, a serviço da vida digna para todos como irmãos e irmãs.
4. Da contemplação para a ação:
- O tempo da Quaresma é propício para a conversão e a caridade.
- Levi estava na sua banca de impostos, junto do lago de Genesaré, quando Jesus o viu e lhe disse para o seguir. O publicano abandonou imediatamente o posto lucrativo que ocupava, para se ligar a Nosso Senhor. Depois, todo feliz e reconhecido pela sua vocação, convidou o divino Salvador e os seus discípulos para virem tomar uma refeição em sua casa.
• Convidou ao mesmo tempo vários publicanos, seus amigos, para os atrair a Jesus.
• Os fariseus ficaram escandalizados e disseram aos discípulos do Salvador: “Porque é que o vosso mestre come com os publicanos e os pecadores?”.
• Jesus, ouvindo as suas murmurações, deu esta bela resposta: “Os médicos são para os doentes, e não para aqueles que estão de boa saúde. Eu vim chamar, não os justos, mas os pecadores”.
- Esta é uma Palavra encorajadora caída do Coração de Jesus. Meu irmão, minha irmã, não perca a confiança, apesar de ser pecador/a, Ele renova o chamado feito a você. Aqui, você é Levi. Qual será a sua resposta?
Oração
Senhor, Tu podias separar-Te dos pecadores, porque não precisavas de penitência, nem de experimentar o sofrimento. Mas quiseste misturar-te com os pecadores e com os doentes para sobre todos derramares a tua misericórdia que salva e cura. Como Tu, quero colocar-me entre os pecadores, para sofrer e reparar pelos meus pecados, para sofrer e reparar pelos deles. Quero sentar-me à mesa dos pecadores para os ajudar a converter-se. Quero sentar-me à cabeceira dos doentes para os confortar. Quero estar junto de uns e de outros para ser sinal do teu amor e da tua misericórdia. Perdoa-me se, tantas vezes, fechei as mãos e o coração à indigência material e espiritual de quem me rodeia, por me julgar melhor que os outros. Quero abandonar as minhas falsas seguranças, e seguir-Te no caminho novo que abriste aos indigentes e pecadores, para, com eles, participar na festa da tua Misericórdia.
Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago