“O sinal de Jonas”
Jn 3,1-10; Sl 50; Lc 11,29-32.
1. Preparo-me para ouvir o que Deus tem a me dizer:
- Faça um pequeno silêncio, para apaziguar o seu coração, para acolher a Palavra de Deus.
- Coloque-se em suas mãos... e invoque sobre você o Espírito Santo, pedindo seus dons e suas luzes...
- Leia, atentamente, sem pressa, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse dia. Procure saborear a Palavra de Deus e ruminá-la.
- Cante louvores ao Senhor.
2. Meditando a Palavra de Deus:
- No Evangelho de hoje, Jesus recusa um sinal que satisfaça a curiosidade e a sede do maravilhoso e, na sua resposta, deixa intuir a sua verdadeira identidade: “aqui está quem é maior do que Jonas” (v. 32). É ele o Sinal que Deus lhes envia. É Ele o Messias desejado, mas não reconhecido, porque se apresenta de modo diferente àquele que Israel esperava. Vamos à história:
- No Antigo Testamento, Deus fizera uma promessa de, no futuro, enviar um profeta (Messias) como Moisés (Dt 18,15-19). Os israelitas viviam na expectativa da vinda desse profeta.
- Deus se revelara ao povo em meio a sinais extraordinários e portentosos como a libertação da escravidão do Egito, a travessia do mar vermelho, a aliança no monte Horeb em meio a trovões e fogo, o maná, a água brotando da rocha... Outros sinais extraordinários aconteciam pela invocação dos profetas, como Elias, que fazia o fogo baixar do céu...
- Depois do reinado de Davi, que exerceu a realeza de acordo com os desígnios de Deus, a expectativa do messias centrou-se na figura de um rei, descendente de Davi, de extraordinário poder e majestade que, na força de Deus, eliminaria do mundo os pecadores, os malvados e os ímpios e instauraria com os justos o Reino de Deus na terra.
- Além disso, os apocalipses do Antigo Testamento acrescentavam que a chegada do messias seria marcada por sinais prodigiosos nos astros e nas estrelas e comoções na terra e, mesmo segundo alguns, que ele cairia do céu e ninguém saberia sua origem.
- A gente pode então imaginar, quanta frustração daquela gente diante de Jesus. Pois, enquanto Messias, Ele vem de uma maneira desconcertante:
- Encarna-se no seio de uma jovem humilde e desconhecida do mundo, que vive numa pequena aldeia, Nazaré, nas periferias do grande império romano.
- Nasce em extrema pobreza, num curral (estrebaria), entre animais, porque não havia lugar para Ele nas hospedarias...
- Passa trinta anos trabalhando como um operário, carpinteiro, para sustentar a si e sua mãe.
- Nunca frequentou as escolas dos rabinos que davam cursos sobre as Sagradas Escrituras.
- Jesus, quando sai para sua vida pública, permanece entre os pobres e sofredores da Galileia, sem nenhum poder econômico, político ou religioso. Ele não pertence às elites religiosas do templo de Jerusalém.
- Os sinais que Jesus dará encontram-se na sua nova maneira de viver a vida e nos seus ensinamentos:
- Vive como um pobre, num amor extremado por todos, numa compaixão imensa para com todos os que sofrem: os doentes, os pecadores, os endemoninhados, os excluídos da convivência humana e das sinagogas (casas de oração do povo) ...
- Jesus irradia vida, amor, paz, perdão, compaixão, convocando a todos para uma conversão, para uma nova maneira de viver a vida.
- Ele ensina com autoridade e seus ensinamentos são novos, profundos e, ao mesmo tempo, acessíveis a todos. Ele vive o que ensina e ensina o que vive: ninguém pode acusá-lo de hipocrisia.
- O povo simples, pobre e sofrido da Galileia acolhe Jesus e se põe a escutá-lo e segui-lo. Por outro lado, os doutores da lei, os fariseus e saduceus, os rabinos e sacerdotes do templo, para acreditar que Jesus é o messias prometido por Deus, exigem que Ele opere sinais extraordinários.
- Que Ele, como Elias, faça descer o fogo do céu ou coisas semelhantes...
- Jesus, porém, se recusa: pelo seu modo de viver a vida e pelos seus ensinamentos, Ele é o sinal... ou seja, a imagem do Deus invisível, revelando-nos que o Pai é amor, compaixão.
- Ele se mostra um Deus modesto, humilde que se coloca a nosso serviço, lavando nossos pés.
- Que não é ameaça nenhuma para nós e que não vem para eliminar ninguém, mas para remir e salvar.
3. Reze à luz dessa Palavra:
- Jesus, porém, refere-se a um sinal, o sinal do profeta Jonas: assim como Jonas passou três dias e três noites no ventre de uma baleia e sobreviveu para cumprir sua missão em Nínive, assim Jesus passará três dias no ventre da terra, para ressuscitar no terceiro dia e continuar para sempre sua missão salvadora da humanidade.
- A ressurreição de Jesus, de fato, é o sinal mais extraordinário, maravilhoso e sublime que Deus poderia dar-nos, porque Ele é o que dá sentido pleno à nossa vida.
- Sou como aqueles que vivem à cata de sinais para acreditar? Como enxergo Jesus, um taumaturgo (milagreiro), um “popstar”, ou o Filho de Deus, “Servo sofredor” que, obediente ao Pai e por amor a mim, inocente e justo, entregou-se em imolação de cruz para a minha salvação? Que experiência de Deus tenho feito em minha vida? Que sinal em minha vida revela Deus hoje para o mundo?
- Peça a Deus, em oração espontânea, a graça de acreditar no amor de Deus, para além de buscar, avidamente, fenômenos e milagres para comprovar que Ele, realmente, é o Messias. Faça como o centurião, um soldado pagão do império romano, no calvário, que ao ver o crucificado, não se conteve: “Verdadeiramente este era o Filho de Deus”... De fato, tão humano assim, só podia ser Deus.
- Veja e sinta, com os olhos da fé e do amor, Ele ao seu lado, agindo em você e através de você.
- Seja você hoje um “sinal” de Jesus. Quem o vê, sente a presença de Jesus? (responda para você mesmo, seja sincero... ninguém está ouvindo ou está vendo você, só Deus...).
- Seria muito triste se alguém nos dissesse: acho que Deus não se parece nada com você, porque a sua vida é o oposto das bem-aventuranças, do sermão da montanha...
4. Da contemplação para a ação:
- Os apelos à conversão repetem-se durante este tempo da Quaresma. Devemos escutá-los e acolhê-los, deixando-nos tocar e iluminar pela Palavra.
- Jonas dirigiu esse apelo aos ninivitas. A nós é o próprio Jesus, bem “maior do que Jonas” que o dirige. Por isso, devemos perguntar-nos se já começamos a converter-nos, a lutar decididamente contra o mal que está em nós e fora de nós, no nosso mundo, com as armas da oração, da caridade e do Jejum.
- Não podemos estar à espera de confirmações extraordinárias, de milagres ou de sinais convincentes... o tempo é agora... Diante d’Ele ninguém pode ficar indiferente.
- Proponha-se, nesse dia, a trabalhar-se para ter maior disponibilidade para acolher o dom da misericórdia, que o Pai nos faz em Jesus Cristo, morto e ressuscitado; maior disponibilidade para tornar-se dom para Deus e dom para os irmãos e irmãs. Será esse um belo “sinal” a dizer ao mundo que Jesus é o Senhor.
Oração
Pai santo, justo e misericordioso, que nunca Te cansas de me chamar à conversão,
para que possa experimentar a alegria da comunhão Contigo,
perdoa-me se teimo em não me abrir ao teu apelo.
Perdoa-me se hesito em abandonar-me a Ti, pedindo sinais extraordinários e garantias seguras,
a Ti que, para me salvar, perdeste tudo na cruz.
Purifica-me, purifica o meu medo, a minha mesquinhez, a dureza do meu coração.
Infunde em mim o teu Espírito, que me faça ver a medida infinita da tua misericórdia, a profundidade insondável da tua sabedoria.
Então, alegre e sereno, caminharei mais decididamente ao teu encontro, com fé e amor,
testemunhadas na caridade e na amizade social.
Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago