“Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos”
Is 50,4-7; Sl 21; Fl 2,6-11; Mt 21,1-11.
1. Preparo-me para ouvir o que Deus tem a me dizer:
- Faça um pequeno silêncio, para apaziguar, interna e externamente, o seu coração...
- Tome consciência de que você acolhe, de modo especial, com essa Palavra, a presença de Deus em sua vida. Coloque-se, confiante, em suas mãos.
- Invoque sobre você o Espírito Santo... Peça a graça desta semana:
Caminhar com Jesus na sua fidelidade até à cruz e despertar uma nova sensibilidade para com os crucificados da história.
- Leia, atentamente, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse dia... Procure saborear a Palavra de Deus, nesse tempo santo, início da Semana Santa...
- Depois de um longo percurso quaresmal, chegamos às portas das celebrações intensas e solenes do mistério pascal: a Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
- Nas celebrações da Semana Santa, muitas vezes, corremos o risco de nos deter no secundário e esquecer o essencial.
- As celebrações, procissões, via sacra, liturgias... devem nos aproximar, como irmãos e irmãs, e fazer crescer em nós a identificação com Jesus Cristo, nosso Deus e Salvador.
- Devem também nos fazer ver, na linha da CF-2024, que a paixão de Jesus continua na paixão dos excluídos, das vítimas e de todos os rejeitados de nossos ambientes... Recorde-se da graça a ser pedida essa semana...
2. Meditando a Palavra de Deus:
- Fazemos, nesse Domingo de Ramos e da Paixão, memória da Entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Os hebreus o acolhem, festivamente, aclamando-o com “Hosanas ao Filho de Davi”.
- Trata-se, na verdade, de um clamor do Povo: “Salva-nos”, Jesus.
- A liturgia deste Domingo, então, nos convida a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo de todos, deixou-Se imolar em morte de cruz, em obediência ao Pai e por amor a todos nós, para que o egoísmo, a maldade e o pecado fossem vencidos.
- Em Jesus, Deus nos ofereceu Vida nova e salvação.
- A primeira leitura traz-nos a palavra e o drama de um profeta anônimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação.
- Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de Deus.
- Os primeiros cristãos viram neste “servo de Deus”, o “servo sofredor” a figura de Jesus.
- A segunda leitura nos traz um belo hino onde ecoa a catequese primitiva sobre Jesus.
- Fiel ao Projeto do Pai, Jesus desceu ao encontro dos homens, viveu a vida dos homens e sofreu uma morte atroz por amor a todos nós, toda humanidade.
- Mas a sua vida não terminou na morte: Deus exaltou-O, mostrando que o caminho que Ele seguiu é o caminho que conduz à Vida.
- É esse mesmo caminho que somos desafiados a percorrer...
- O Evangelho nos relata a paixão e morte de Jesus.
- É o momento culminante de uma vida gasta para concretizar o projeto salvador de Deus: libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo, escravidão, sofrimento e morte.
- É na cruz onde Jesus ofereceu a sua vida até à última gota de sangue, que se revela o incomensurável amor de Deus por nós.
- Na cruz, Jesus nos disse que o amor até ao extremo gera Vida nova e eterna.
- A vida de Jesus foi uma grande subida a Jerusalém, e nessa subida, segundo os relatos dos evangelhos, Ele desconcertou a todos... e, em especial, os fariseus, escribas, sacerdotes, anciãos...
- Jesus desencadeou na história da humanidade um “modo de viver”que quebrou toda estrutura petrificada, sobretudo religiosa daquele momento.
- Aquele que movia multidões por todo o país, com suas pregações e milagres, não é um revolucionário violento, mas nem por isso, aos olhos das autoridades, deixou de ser perigoso...
- E tudo em nome da vida. Veio para que todos tenham vida de verdade, vida plena, vida em abundância (Jo 10,10).
- Todo o Israel via em Jerusalém a cidade da promessa de paz e plenitude futura, lugar onde deviam vir em procissão todos os povos da terra.
- A tradição profética havia anunciado uma “subida” dos povos que viriam a Jerusalém para iniciar um caminho de comunhão, de justiça e para adorar a Deus no Templo, que estaria aberto a todos.
- Toda a cidade se converteria num grande Templo, lugar onde se cumpriria a esperança dos povos.
- É Jesus quem realiza esta profecia; é ele quem vem trazer vida a esta cidade que carregava forças de morte em seu interior.
- Ele, obediente ao Projeto do Pai, saudado como esperança para o povo, quis pôr o coração de Deus no coração da grande cidade.
- Ele desejava recriar, no coração da capital, e assim o faz, com sua morte e ressurreição, o ícone da nova Jerusalém - a cidade cheia de humanidade, comunhão; o lugar da justiça e da fraternidade...
- O gesto profético de Jesus de “entrar em Jerusalém” nos convida a contemplar nossas cidades e nos desafia a sermos presença cristã, dos evangelhos, portadora de vida nos nossos centros urbanos...
- Com tantos muros sociais, religiosos, políticos, culturais... é impossível estabelecer relações de fraternidade e reconciliação...
- O que é mais desumano em sua cidade e como você reage diante disso? Com passividade? Suporta? Denuncia? Atua?... Você tem sido uma presença de Deus, que aponta para a nova Jerusalém, onde O coloca: na família, na comunidade e na sociedade? O que essa Semana Santa está pedindo para você?
3. Reze à luz dessa Palavra:
- O relato da Paixão e Morte de Jesus, inegavelmente fundamentado em acontecimentos concretos, não é uma simples reportagem jornalística da condenação à morte de um inocente.
- Ele é, sobretudo, uma catequese destinada a apresentar Jesus como o Filho de Deus que aceita cumprir o Projeto do Pai, mesmo quando esse projeto passa por um destino de cruz.
- Marcos pretende que os que creem em Jesus, concluam como o centurião romano. Ele, junto da cruz, vê como Jesus cumpriu o plano do Pai até à última gota de sangue: “na verdade, este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39).
- Fica assim demonstrado o que Marcos, desde o início do Evangelho (Mc 1,1), se propôs apresentar: Jesus, o Messias que anunciou o Reino de Deus e que os homens mataram na cruz, é o Filho de Deus.
- Peça, em sua oração, esta graça de crer em Jesus e de conformar sua vida ao seu ensinamento, no seguimento a Ele, como discípulo missionário.
Oração
Deus eterno e todo poderoso,
para dar a todos nós um exemplo de humanidade,
quisestes que o nosso Salvador, o vosso Filho, assumisse a condição humana
e morresse na cruz.
Concedei-nos aprender com os ensinamentos de sua paixão,
a sermos obedientes à tua Palavra, a fazer a tua santa vontade, a amar e servir,
doando-nos, inteiramente, como Ele assim o fez,
e participar de sua ressurreição.
Amém.
4. Da contemplação para a ação:
- O relato da paixão e morte de Jesus é uma história de uma violência inaudita, perpetrada contra um homem que, na perspectiva daqueles que o conheceram bem e que o acompanharam desde a Galileia até Jerusalém, não fez nada para merecer a condenação decretada contra Ele.
- Como é que se chegou a este desfecho?
- A morte de Jesus tem de ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida.
- Desde cedo, Jesus tem presente a missão que o Pai lhe confiou: anunciar um mundo novo, de justiça, de paz e de amor para todos os homens.
- Ele chamava a esse mundo novo “o Reino de Deus”.
- Para concretizar este projeto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade do Reino de Deus.
- Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham um coração mais disponível para acolher o “Reino”; e avisou os “ricos” (os poderosos, os prepotentes) de que o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência e o fechamento só podiam conduzir à morte.
- O projeto libertador de Jesus entrou em choque – como era inevitável – com a atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava o mundo.
- As autoridades políticas e religiosas judaicas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios;
- Não estavam dispostas a arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus.
- Por isso, decidiram calar Jesus: prenderam-no, julgaram-no, condenaram-no e o pregaram numa cruz.
- A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do “Reino”: resultou das tensões e resistências que a proposta do “Reino” provocou entre os que dominavam o mundo.
- Podemos também dizer que a morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, porém mais radical e mais verdadeira, daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço simples e humilde.
- Foi por amor que Jesus lutou contra a injustiça, a prepotência, a opressão, a maldade nas suas mil e uma formas;
- Foi por amor que Jesus Se deixou prender, condenar e matar; foi por amor que Jesus morreu na cruz.
- Quem olha para aquela cruz erguida numa colina fora das muralhas de Jerusalém e vê o testemunho que Jesus deixou, percebe como é que a vida deve ser vivida. O que eu fiz, vão e façam...
- Na cruz, vemos aparecer o Homem Novo, o protótipo do homem que ama radicalmente e que faz da sua vida um dom para todos.
- Assim, a cruz encerra e propõe o dinamismo de um mundo novo, de um mundo transformado pelo amor – o dinamismo do “Reino de Deus”.
- A cruz, instrumento vil de sofrimento e de morte, se torna assim uma fonte de Vida e de esperança.
- E o que estamos a celebrar... Renove seus propósitos de seguir Jesus...
Pe. Marcelo Moreira Santiago