“Um de vós me entregará...”
Is 49, 1-6; Sl 70; Jo 13,21-33.36-38.
1. Coloco-me na presença de Deus, para ouvir o que Ele tem a me dizer:
- Faça silêncio, por alguns instantes, aquiete o seu coração.
• Prepare-se para entrar em oração, entregue as suas preocupações ao Senhor. Coloque-se, confiante, em suas mãos... afaste-se das redes sociais, alimente uma atitude interna de escuta e silêncio... para viver esses instantes últimos da vida de Jesus...
• Peça a graça desta semana. Invoque o Espírito Santo, pedindo que Ele lhe conceda suas luzes e dons.
• Leia, atentamente e sem pressa, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse dia.
• Coloque-se na cena destes textos bíblicos, não como expectador, mas de quem está ali junto, vivendo aquele momento...
2. Medito a Palavra de Deus: O que ela diz para mim?
- Segundo os relatos dos Evangelhos, durante sua vida pública, Jesus transitou por muitas refeições, participou de muitas mesas, especialmente com os pobres e pecadores.
• Para culminar, Ele organizou, com seus amigos mais próximos, uma ceia de despedida e de esperança.
• Ele deixou uma “mesa” como marca para os seus seguidores, e aqui, você também se inclui: Mesa da partilha do pão e da inclusão, mesa da festa e da comunhão.
- É em torno dessa mesa que os seguidores/as de Jesus se constituem como verdadeira comunidade fraterna.
• Ao recordar a vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus, os cristãos se comprometem a prolongar os seus gestos, atitudes, valores, compromissos...
- “Fazer memória” de Jesus junto à mesa é acolher o convite que Ele dirige a todos: “Vós sois todos irmãos e irmãs”.
• Ouça bem: Só a mesa eucarística reforça os laços entre os participantes, constrói a verdadeira comunidade cristã, comprometendo-a com a vida e com a causa do Reino.
• A transformação das relações humanas se dá através do partir o pão e do passar o cálice com vinho, como gesto que nos irmana a todos.
- A Eucaristia faz de todos nós Corpo de Cristo, alimentados n’Ele, para amar e servir...
• Daí o interesse da Igreja primitiva em que, na celebração eucarística, todos comungassem do mesmo pão partido, com a finalidade de fazer visível essa unidade de todos. Em torno da mesa, todos irmãos e irmãs...
- Tomar o pão e o vinho da Eucaristia é fazer memória de uma presença que nos compromete.
• Infelizmente, nem todos se sentem à vontade à mesa fraterna.
• Há muita traição que rompe a comunhão entre os convivas.
• Quando Jesus, na última Ceia anuncia que um deles vai lhe entregar, todos ficam “assustados”, “olham-se mutuamente”, mas não conseguem identificar o traidor.
- Os traidores não têm um rosto especial, qualquer rosto vale para dissimular a traição do coração, qualquer rosto vale para esconder um coração traidor...
• É o que acontece com Judas. Em nada, dava sinais de ser diferente do restante dos discípulos... parecia tão normal como qualquer outro do grupo...
• É triste a traição... ela vende vidas, vende dignidades... como vemos o que fez Judas, um dos discípulos, em relação a Jesus...
• Também nós estamos sujeitos a tantas traições... receber uma traição, também trair...
- Como me coloco como discípulo/a de Jesus? Tenho as mesmas atitudes de Judas? E em relação aos meus irmãos/as, nos espaços da vida em família, em comunidade e em sociedade, trago essas mesmas incoerências? O que esse episódio acontecido com Jesus e seus discípulos, me ensina, me pede, ao celebrar essa Semana Santa? O que vem preenchendo o meu coração: ódios, violências, traições... ou amor, fraternidade, doação, serviço...? Você que se colocou junto aos apóstolos para aquela ceia, ali sentado, que reação teve quando Jesus também lhe disse que um dos que ali estavam iria traí-lo?
3. Reze à luz dessa Palavra:
- Terminado o lava-pés, Jesus alude à traição de que está para ser vítima: “um de vós vai me entregar!” (v. 21).
• Estas palavras de Jesus, com a perturbação que lhe vem estampada no rosto, deixam os apóstolos espantados.
• Tentam identificar o traidor.
• Pedro reage por primeiro, manifestando a autoridade que lhe era reconhecida e o bom entendimento que havia entre ele e João.
- Jesus revela a infinita delicadeza que O distingue: enquanto indica o traidor, oferece-lhe um pedaço de pão envolvido em molho, sinal de honra e distinção entre comensais.
• Era uma última e amorosa provocação de Jesus, mas Judas se nega a corresponder a esse gesto, mostrando que a sorte de Jesus estava traçada.
• Ele recebe aquele alimento, mas recusa o Amigo que lhe oferecia.
- Não sei se você compartilha comigo, mas João é “cirúrgico”. Ele assim anotou: Judas saiu logo e “Fazia-se noite”... (v. 30b).
• Judas já não podia ficar no grupo dos amigos de Jesus. Deixara-se envolver pela noite da mentira, do ódio, pelo reino do maligno (satanás).
- Sugiro a você que, na oração, peça o que peço para mim: Senhor, não me deixe traí-lo, especialmente junto aos meus irmãos e irmãs, a começar dos mais precisados, daqueles que o Senhor vem colocando à minha porta...
Oração
Senhor Jesus,
Tu conheces todas as possibilidades das nossas traições, das nossas repentinas reviravoltas,
das dissimuladas e insinuantes afirmações, que ferem o coração da comunidade e ferem o teu coração,
sempre em agonia, até o fim do mundo.
Judas, traidor, continuou a ser, para Ti, um amigo, a quem ofereceste um último gesto de delicada predileção.
O Amor, que és Tu, não retira o que ofereceu, não renega o que é.
Mas prefere consumir-se no sofrimento e na morte!
Todos levamos em nós as trevas de Judas, a impulsividade de Pedro, o amor de João.
E por todos Te ofereces, porque nos amaste até à morte.
O seu amor eternamente fiel, revela-se no teu rosto desfigurado pelo sofrimento.
A Ti a vitória! Ao Pai, a glória para sempre!
Amém.
4. Da contemplação para a ação:
- Nesse mundo que nos enche de angústias, somos tentados ao pessimismo, porque nos parece que "tudo ... jaz sob o poder do maligno” (1 Jo 5, 19).
• Cristo, "Homem novo” (Ef 4, 24) nos dá coragem, nos ilumina, pacifica o nosso coração e nos dá alegria (Jo 20, 20-21), porque nos mostra o poder do Pai em transformar, para sua glória e nosso bem, todas as situações, mesmo as mais difíceis.
- Contemplando a Cristo, e unidos a Ele, verificamos que "apesar do pecado, dos fracassos e da injustiça, a redenção é possível e, em verdade, ela já nos foi oferecida, se faz presente à luz do mistério Pascal.
• Mesmo nas situações mais dramáticas, a ação poderosa de Deus que tudo transforma.
• Os maiores sofrimentos, aceitos na fidelidade a Deus, para realizar os seus projetos, transformam-se em glória.
- Ao aceitar a Paixão, para redenção do mundo, Jesus realiza a profecia de Isaías, conforme a primeira leitura, para glória do Pai.
- Situações semelhantes podem surgir em nossa vida de cristãos. Somos seus discípulos e discípulas, não maiores que o Mestre...
• A Paixão de Jesus irradia uma luz poderosa para lermos essas situações e reagirmos à maneira do Senhor, acolhendo-as como ocasiões para glorificar a Deus.
- Este acolhimento confiante não depende unicamente da nossa boa vontade, da nossa generosidade. É o que Jesus declara a Pedro: “para onde eu vou, tu não me podes seguir por agora, mas me seguirás mais tarde” (v. 36).
• É preciso ser chamado por Ele, e receber a força do seu Espírito.
• Pela vocação e pelo carisma, somos unidos a Cristo e tornados capazes de participar na sua missão, mesmo no meio das maiores hostilidades e sofrimentos.
• Unidos a Cristo, podemos participar no seu mistério pascal, para nos transformarmos a nós mesmos e transformarmos o mundo.
- O tempo da Quaresma e esses dias da Semana Santa são o tempo propício para renovar nosso compromisso de seguimento a Jesus e de participação na sua missão...
• Deus não falta, mas a gente tem que colaborar...
- Concluindo, dê graças por poder participar deste momento... Registre depois, no “caderno da vida” os sentimentos presentes nessa oração, o que está passando em seu coração...
• Podendo, não deixe de participar das celebrações desta Semana Santa em sua comunidade.
Pe. Marcelo Moreira Santiago