“... Vou celebrar a ceia pascal em tua casa, junto com meus discípulos”
Is 50,4-9; Sl 68; Mt 26,14-25.
1. Preparo-me para ouvir o que Deus tem a me dizer:
- Faça um pequeno silêncio, para apaziguar, interna e externamente, o seu coração.
• Acolha a presença de Deus, em sua Palavra. Coloque-se, confiante, em suas mãos. Invoque sobre você o Espírito Santo...
• Recorde-se da graça pedida nessa semana: Caminhar com Jesus na sua fidelidade até à cruz e despertar uma nova sensibilidade para com os crucificados da história...
• Leia agora, atentamente, os textos da Sagrada Escritura, propostos para esse dia... Procure saborear essa Palavra...
2. Meditando a Palavra de Deus:
- Jesus, no final de sua vida pública, quis cear com os seus amigos e por isso precisavam encontrar uma sala na qual houvesse espaço para estarem juntos.
• Chama-nos a atenção, no Evangelho de Mateus, a maneira como Jesus indicou aos discípulos o local onde queria que a ceia fosse celebrada.
• Ele mandou que seus discípulos seguissem um homem que encontrariam à entrada da cidade.
- Um homem desconhecido emprestou sua casa para que Jesus e seus discípulos pudessem celebrar a Páscoa.
• Ele serviu a Jesus, oferecendo a sua casa, sem perguntar quem viria celebrar a Páscoa, sem pedir garantias, sem cobrar aluguel pelo espaço.
• Enquanto os sacerdotes do templo e Judas conversavam discutindo o valor da vida de Jesus.
- Aquele desconhecido, por pura gratuidade, ofereceu sua casa para Jesus.
• Certamente, ele e sua família foram testemunhas desta ceia única e especial, e que será a marca de todo(a) seguidor(a) de Jesus.
- Aquele homem desconhecido, representa, ou deve representar, a todos nós.
• Cabe a nós mostrar o caminho do local da Ceia...
• Cabe a nós indicar o caminho, na estrada do cotidiano, indicar o rumo que leva à casa do Pai.
- E mais: devemos fazer com que outros nos sigam, vivendo o discipulado missionário, para que tudo se cumpra conforme a vontade de Deus...
• Devemos abrir as portas da “grande sala”, na ordem de mundo, para que se realize o imenso dom da Eucaristia - sinal da entrega, do amor, do serviço... alimento de vida e salvação...
• E não trazer “holofotes” para nós, mas tudo apontar pra Jesus... Como João Batista: “É preciso que eu diminua e Ele cresça...”.
- Queria ainda, nessa meditação, considerar a relação do Evangelho de ontem e o de hoje.
• Ontem, o Evangelho falou da traição de Judas e da negação de Pedro. Hoje, fala novamente da traição de Judas...
- Aqui temos duas dimensões da paixão de Jesus:
• Uma delas, se dá no nível interno, do grupo próprio dos apóstolos, discípulos de Jesus. Ali temos traição, negação, busca de poder, incompreensão da missão... isso provoca profundo sofrimento em Jesus...
• A outra paixão é provocada pela oposição que enfrenta das autoridades do povo, dos doutores da Lei, fariseus e outros, uma perseguição externa. Não o reconhecem como Messias, querem a todo tempo prendê-lo, matá-lo...
- Preste atenção: geralmente, na Semana Santa, ficamos impactados com os sofrimentos físicos cometidos contra Jesus pelas autoridades do povo. Mas esta não foi a dor maior de Jesus; foi, sim, o sofrimento interno - não visível, mas muito mais profundo...
- E você como se coloca diante da Paixão de Jesus?... Outra pergunta: e você como se coloca diante da Paixão de Jesus?...
3. Reze à luz dessa Palavra:
- A liberdade humana é capaz de tudo, até de se transcender na iniquidade, obra de Satanás (Lc 22, 3 e Jo 13, 2).
• Mateus nos dá assim entender, quando cita Zacarias: “Quanto me dareis, se eu o entregar?” Eles lhe garantiram trinta moedas de prata” (v. 15; cf. Zc 11, 12).
- Mais significativo é o uso teológico do verbo “entregar”.
• Trata-se de uma “entrega-traição”, da parte dos homens, e de uma “entrega-¬dom”, da parte do Pai, que entrega o Filho, e da parte do Filho que se entrega a Si mesmo até à morte na cruz (Jo 19, 30).
- Jesus sente que a sua “hora” se aproxima.
• Por isso, ordena que a celebração da Páscoa seja devidamente preparada.
• Deseja ardentemente come-la com os discípulos pois, nela, o antigo memorial dará lugar ao novo, deixando-nos o seu Corpo e o seu Sangue como alimento e bebida.
- A entrega de Si mesmo acontece num ambiente movido pelo anúncio da entrega-traição.
• Os discípulos mergulham num clima de insegurança e de desconfiança. Fazem perguntas a Jesus, chamando “Senhor” (Kyrios), enquanto Judas o chama simplesmente “Mestre” (Rabi).
• Mas Jesus é, de fato, Senhor. Por isso, conhece o traidor e reconhece que nele se cumprem as Escrituras.
• A insegurança dos discípulos representa a nossa própria insegurança perante a possibilidade de também nós virmos a trair e a negar Jesus.
- Em sua oração, peça a Deus essa graça de ser uma “entrega-dom”, imitando Jesus, jamais uma “entrega-traição, uma “entrega-negação”, d’Ele mesmo, Aquele que é o Senhor da história, nosso Deus e Salvador.
Oração
Senhor Jesus Cristo,
queremos, hoje, confessar-nos diante de Ti.
Para isso, pedimos-Te um coração arrependido, e palavras humildes e sinceras.
Também nós Ti vendemos, mais do que uma vez.
Todos os dias especulamos sobre a tua pessoa e vivemos desse miserável lucro.
Nós, que tu amas! Como podes suportar-nos ainda na tua casa, a comer o pão das tuas lágrimas e a beber o sangue do teu sofrimento?
Vendido por nós, por quase nada, compraste-nos com o preço infinito do teu sangue.
Que, através da ferida do teu Coração, possamos ser introduzidos e estabelecidos para sempre na comunhão do teu amor.
Amém.
4. Da contemplação para a ação:
- No Evangelho encontramos, de um lado, Judas que trai o Mestre e, do outro lado, Jesus que dá orientações para a ceia pascal.
• Como mandavam os ritos, Jesus devia explicar o significado dessa refeição singular e solene.
• Ele o fez dando-lhe um sentido novo, em que se destacam dois elementos importantes: Jesus torna os seus discípulos participantes da sua dignidade e do seu destino; o seu sangue será derramado para remissão dos pecados.
- Entre a preparação e a celebração da ceia, é descoberto o traidor.
• Judas entrega Jesus, e Jesus entrega-Se a Si mesmo.
• A traição torna-se ocasião para o dom voluntário e total de Jesus. A sua morte torna-se fonte de vida.
• O seu Coração vence a morte e transforma-a em vida para o mundo.
- A Páscoa estava desde sempre preparada em Deus...
• Mas, quando o Filho do homem veio realizá-la no meio de nós, abriu-se para todo ser humano um horizonte novo de ilimitada liberdade, a liberdade de amar dando a própria vida, para se reencontrar em plenitude no seio amante da Trindade.
- Esse é o caminho que você é chamado a trilhar... Faze isto e viverás!
Pe. Marcelo Moreira Santiago