Irmãos e irmãs, para mim, sem sombra de dúvidas esse trecho do Evangelho do Discípulo amado é o compêndio Pascal de nossa Fé Cristã Católica, uma síntese da Lei Mosaica transformada e elevada ao seu absoluto, onde, sem a vivência irrenunciável destes ensinamentos jamais, repito, jamais seremos verdadeiramente conhecidos como discípulos e missionários de Jesus Cristo.
Para os cristãos católicos que procuram viver também a beleza da liturgia do Santo Sacrifício Eucarístico e que acompanham passo a passo a liturgia e a “chamada vocacional pascal” de cada domingo, pôde perceber que o texto do Evangelho de hoje é a continuação do capítulo 15 iniciado semana passada, ou seja, exatamente o texto da Videira Verdadeira e do Pai Agricultor.
A proposta do texto do Evangelho de hoje é uma resposta/complemento ao que experienciamos domingo passado, isto é, estarmos ligados à videira para darmos frutos. E que fruto é esse senão o amor vivo, real e operante?
Jesus nos fala abertamente, sem rodeios: “assim como o Pai me amou também eu vos amei”. A invectiva propositiva de Jesus explana claramente sobre o “como” e o “porque”. Este “como” estaria ligado à forma do amor. E o “porque” o motivo real da forma do amor, ou seja, o Pai ama Jesus, e o Pai, amando Jesus, cuida da Videira Verdadeira, que doa sua seiva, sua vida aos ramos. O Pai ama a Videira, porque a Videira se doa aos ramos da mesma forma que o Pai-Agricultor se doa cuidando, zelando, amando a Videira e por essa razão o Pai ama os ramos que estão ligados à Videira Verdadeira.
Há uma aparente estranheza no texto, como o amor pode se assemelhar a “mandamento” à “Lei”? Caríssimos, lembremos que a comunidade escrevente não se dirige a Cristãos num primeiro momento, mas se dirige a Judeus que estão começando a caminhar pelo caminho ao lado de Jesus. A ideia da “Lei”/Mandamento era muito cara para aqueles que nos precederam na fé, acostumados à Lei Mosaica. É Jesus mesmo quem dirá “não penseis que vim abolir a Lei e os profetas, mas vim dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5,17). A comunidade do Discípulo amado, sensível à nova estrutura, sabia e compreendia a Lei, mas era preciso abrir-se ao “pleno cumprimento” – o amor que se doa, um amor lealdade o amor do Pai que nos ama.
Compreendemos, assim, que a lição da Videira é uma abertura simbólica à compreensão da nova comunidade que se forma em torno do Ressuscitado e que recebe e tem diante de todos o “mandamento em plenitude”: amar no amor de Deus os irmãos e irmãs.
Deus é fonte de amor que se expressa no “como” e no “porque” do Deus Encarnado que caminha no meio dos seus. O Pai é todo amor afetivo e efetivo de modo pleno e sem equívocos. Jesus é o amor-amado encarnado plenamente afetivo e efetivo do Pai. O Pai ama o Filho, Videira Verdadeira, Jesus é incomparavelmente amado, por isso, só pode amar de modo incomparável doando-se a si mesmo: ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos amigos. Aqui, Jesus é modelo e fundamento do amor do Pai e a partir disso, nós não podemos nos furtar ao seu mandamento Eterno.
Se Ele nos ama o resultado deste amor é amar e deixar-se amar, procedendo desta maneira daremos uma resposta, que é fruto, ao amor de Deus. Mas não nos esqueçamos é Lei. A Lei suprema e pascal “amai-vos uns aos outros”. Temos amado?
Como diria o grande teólogo Konings: de fato, o amor é um presente. Ora, um presente não se devolve, mas reparte-se com os outros. É amando os irmãos que mostramos nossa gratidão ao Pai que se manifesta a nós em Jesus. E assim levamos esse amor ao seu destino. Tornamo-nos “aliados” de Deus e de Jesus, na expansão do seu amor, vivendo um amor fraterno que procure ter a qualidade e a intensidade do amor que levou Jesus a dar sua vida por nós, morrendo ou vivendo por todos.
Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: 1 "Eu sou a verdadeira videira (por isso seu caminho é verdade) e meu Pai é o agricultor. 2 Todo ramo que em mim não dá fruto (que não amar de verdade) ele o corta; e todo ramo que dá fruto (porque o amor produz frutos de vida, por isso o caminho de Jesus nos leva à vida em plenitude com o Pai), ele o poda, para que dê mais fruto ainda. 3 Vós já estais podados por causa da palavra que eu vos fiz ouvir. 4 Permanecei em mim e eu permanecerei em vós (porque estar em Jesus é permitir-se ser cuidado pelo Pai). Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim (se não vos permitirdes serdes cuidados e nutridos pelo amor do Pai em Jesus). 5 Eu sou a videira e vós os ramos (nada mais íntimo aos amigos de Jesus estarem no lugar do cuidado do Pai, o Pai cuida da videira e por isso os ramos, ligados à videira são amados como a videira é amada e cuidada). Aquele que permaneceu em mim, e eu nele, produz muito fruto (que é amar); porque sem mim nada podeis fazer (fora da videira jamais saberemos o que é o verdadeiro amar). 6 Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará (porque sem o amor de Deus secamos por dentro e nos tornamos egoístas, odiosos, e sem capacidade de perdão). Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e se queimam. 7 Se permanecerdes em mim (isto é, amando-me a mim nos irmãos e irmãs) e minhas palavras permanecerem em vós (amai-vos como Eu vos amei), pedi o que quiserdes e vós o tereis. 8 Meu Pai é glorificado quando produzis muito fruto e vos tornais meus discípulos (nas obras de amor deve transparecer o amor do Pai em Jesus Cristo – quem me vê Filipe, vê o Pai – e o fruto do amor é abundante, aqui não tem a medida 30, 60, 100 por um, aqui há a abundância no amor e o discípulo de Jesus só pode produzir esse fruto, nenhum outro...).
Pe. Jean Lúcio de Souza