Para compreendermos melhor o texto de hoje será necessário regressarmos alguns poucos capítulos no Evangelho de João, exatamente ao cap. 14,1-3, que nos diz o seguinte:
“Não fique perturbado o coração de vocês. Acreditem em Deus e acreditem também em mim. Existem muitas moradas na casa de meu Pai. Se não fosse assim, eu lhes teria dito, porque vou preparar um lugar para vocês. E quando eu for e lhes tiver preparado um lugar, voltarei e levarei vocês comigo, para que onde eu estiver, estejam vocês também”.
Ao trazermos à guisa do pensamento este fragmento do Evangelho, e sendo posto ao lado dos primeiros versículos trazidos pela liturgia da Palavra de hoje – pouco tempo ainda, e já não me vereis. E outra vez pouco tempo, e me vereis de novo – teremos um entendimento melhor, será mais fácil de se chegar em um ponto comum sobre o que o Evangelista quer dizer.
Existe a comum ideia com relação às aparições do Cristo Ressuscitado. O verbo ver, no texto grego altera em sua segunda forma “e me vereis de novo”, onde não fala mais de uma vinda iminente do Senhor, mas algo que deve ser esperado no tempo e no tempo certo, mas que também é posto no dia a dia da comunidade que se alegra continuamente com sua Palavra e com a dinâmica Eucarística, um compromisso de todos com todos no Cristo Vivo.
Contudo, existem variações entre a ausência causada pela morte/paixão e o reencontro com o Ressuscitado na história comum dos primeiros discípulos e a história que se segue ao longo da vida da Igreja. Um misto de esperança, não se pode negar. Para os primeiros o reencontro com Jesus Ressuscitado retira-lhes o medo e a fragilidade no ato do seguimento. De outro lado, o encontro com Jesus Ressuscitado na história e na vida da comunidade dos cristãos permanece na força do Espírito Santo que nos alegra na perspectiva de vermos o Senhor.
Desta forma a Paixão do Senhor que fora motivo de tristeza, dispersão e torpor para os Apóstolos e os primeiros discípulos se transformou em alegria para toda comunidade dos fiéis redimida por seu santo sacrifício e mais, a tristeza é dissipada com o anúncio da paz – a paz esteja convosco – no encontro com os discípulos presos em casa por medo, ou seja, vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria: vimos o Senhor, anunciam os discípulos a Tomé!
A ligação entre o texto no cap.14 e o texto do cap. 16 mostra uma variação na expectativa dos fiéis em relação ao mistério da vinda do Senhor e que será solucionada diante do Espírito que instrui a comunidade dos fiéis acerca daqueles grandes mistérios. Ele vai, volta para junto do Pai, mas nossa alegria se robustece na missão, dando continuidade à obra do Cristo no chão deste mundo e, tão logo, tudo se conclua, estaremos com Ele diante do Pai de toda Misericórdia.
Pe. Jean Lúcio de Souza