O Evangelho de João é grandioso quanto à forma de manifestar o Cristo Senhor ao mundo. É um Evangelho orante, Jesus está sempre em postura de intimidade constante com o Pai. No capítulo 17 há um diálogo profundo de Jesus com o Pai, um diálogo encantador, suplicante, confiante, cheio de esperança, um diálogo que é também despedida em forma de prece em favor dos seus.
Entre tantos mistérios contidos neste pequeno fragmento do cap. 17 alguns pontos merecem nossa atenção, esses pontos serão expressos em vivência atual e futura, serão expressos com desejo de permanência em Cristo e súplica contra a dispersão.
Dentre tantos mistérios ali contidos, está presente uma graduação simbólica com relação ao “mundo” presente no miolo do texto, mas que merece uma atenção anterior. A oração de Jesus é ao mesmo tempo uma oração de despedida [agora vou para junto de Ti], mas é também uma oração de pedido esperançoso [que sejam um] na verdade em que foram consagrados. E que verdade seria essa? Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim, ninguém pode ser um com o Pai, senão em mim, senão ligados à Videira Verdadeira.
É a partir desta unidade verdadeira com o Pai, no Filho, que nos movimentamos no mundo na força do Espírito Santo. Por isso Jesus orante suplica ao Pai por aqueles que como Ele estão no mundo, mas não são do mundo.
O mundo é o lugar de estar, lugar do exercício da missão, mas não pode se tornar o lugar de ser, de identificação e de intimidade. O lugar de ser e viver a intimidade é na verdade onde todos, pelo batismo, na força do Espírito foram consagrados. Ser consagrado é “pertencer a...” é “estar separado para...”. `Pertencemos ao Senhor porque somos seus amigos e ouvimos o que Ele tem a nos dizer e nos alegramos com sua Palavra e o novo mandamento do Amor. Sabemos que o “amai-vos” só pode se dar na concretude do mundo, no encontro com os irmãos de todas as classes e línguas, imersos no coração de Jesus e ali vivendo a intimidade com a Videira Verdadeira dando bons frutos no mundo, mas nunca seremos do mundo, porque somos de Deus: não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi, elegi e consagrei na Verdade do meu amor.
Jesus tendo consciência que o servo não é maior que o seu Senhor, recorre ao Pai, pois sabendo Ele que a Palavra Eterna fora entregue aos consagrados na Verdade (Palavra), para ser anunciada e vivida, assim como Ele foi perseguido e tentado todos nós, ainda neste mundo, por causa da Verdade da Palavra (Jesus Cristo) seremos perseguidos e tentados. Por isso pede, suplica e confia: Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno. Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo. Não seremos tirados do mundo (missão) mas, por sermos de Deus, seremos no Pai guardados contra o maligno.
A este mundo fomos enviados na mesma missão de unidade com o Pai e os irmãos, que Jesus foi enviado, para que todos conheçam o amor de Deus em Jesus Cristo que transborda em toda humanidade, para que todos, na unidade sejam um.
Pe. Jean Lúcio de Souza