Retornamos, irmãos e irmãs, ao Tempo Comum com suas reflexões acerca da fé que se dá “no Caminhar com o Senhor”, na escola do Cristo que nos chama a todos para a edificação contínua e cotidiana do Reino de Deus.
Neste dia o cenário que Marcos nos mostra é o cenário do ensinamento. Jesus ensina aos seus discípulos, através de seu discurso, as realidades futuras que permeiam a história de seu encontro com nossa humanidade. O encontro de Jesus conosco terá um fim, entre nós, não muito agradável aos olhos do mundo (vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão), sim, Ele irá morrer e morrerá de modo trágico, fora dos muros da cidade como um não pertencente à nação, Ele que veio “para os seus mas os seus não o receberam”, Ele é expulso do meio do povo para sofrer uma morte infame: a cruz.
Contudo, após os tormentos da Paixão anunciada, Jesus comunica a realidade da vida em Deus a partir da ressurreição (Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará). O mistério da ressurreição é colocado ao lado do mistério da paixão. A reconciliação com o gênero humano significa a entrega da vida (morte/sacrifício de si) aos seus, mas que também é, igualmente, a retomada da vida em favor dos seus. A morte não é um “ponto final”, a morte é o fechamento das portas ao antigo inimigo e a abertura para a vida em plenitude aos amados de Deus.
As realidades do primeiro discurso não são compreendidas pelos discípulos e, como aquilo que não é compreendido não é aceito e o que não é aceito e reconhecido como necessário à escola da vida de fé se perde, o medo de perguntar para poder compreender melhor os afasta da realidade profunda daquela catequese de Jesus e os discípulos se afastam do essencial e se perdem no periférico.
O que seria periférico? O periférico é o interesse por saber quem é o maior entre eles. Isto, verdadeiramente, deve ter causado em Jesus grande espanto e angústia. Como poderiam ser possuidores de um coração tão endurecido pela vaidade, mesmo após o anúncio da paixão, da entrega de si aos seus?
Desejar o poder e o domínio, a frente, o cabedal de quem manda é muito covarde no seio da Igreja. A busca pelo poder, pelo carreirismo, pelos primeiros lugares e elogios, pelos brilhos e pompas é o periférico, não é o essencial. Isto tudo nos afasta do Mistério da Paixão e Ressurreição, ou seja, o mistério de um Deus encarnado que se doa a todos no serviço e acolhimento.
A escola de Jesus muda o foco naquele segundo discurso no meio do caminho. É preciso parar e instruir os discípulos sobre a realidade profunda da fé que Jesus quer apresentá-los: servir e acolher. Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos, quem, realmente, nos dias de hoje deseja esse caminho? Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: 37 "Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas aquele que me enviou, e hoje, quem realmente deseja acolher os pequeninos?
O mundo em que vivemos hoje desconsidera e muito o serviço dos últimos lugares e o acolhimento dos pequeninos. Trata-se de uma inversão dos valores cristãos para se viver os valores periféricos e fugazes da vida. Ter coisas, subjugar o outro, demonstrar o poder e a autoridade por argumentos tão nojentos e nefastos – você sabe com quem você está falando? – nos afasta do Evangelho, aumentando preconceitos e cisões dentro da sociedade e da Igreja.
Para muitos, até mesmo entre nós cristãos o serviço e o acolhimento dos mais frágeis e pobres é desnecessário, tornando o exercício da fé uma vergonha viva no meio do mundo.
Pe. Jean Lúcio de Souza