Hoje, celebramos a memória da Beata Francisca de Paula de Jesus (Nhá Chica). Ela nasceu em Santo Antônio do Rio das Mortes, distrito de São João del-Rei, no ano de 1808. Filha de escravos, foi morar em Baependi, no sul do Estado de Minas Gerais. Ali cresceu sob os cuidados de Nossa Senhora, de quem foi grande devota. Escolheu viver uma vida casta, dedicada a Deus e ao próximo. Ficou conhecida como a “mãe dos pobres”, aos quais distribuía comida e dava esmolas que recebia. Sem discriminar ninguém, tinha para todos uma palavra de conforto, um conselho ou uma promessa de oração. Faleceu em 1895 e foi beatificada em 2013.
Na primeira leitura, do primeiro livro dos Reis, Acab e Jezabel tinham sido testemunhas dos prodígios realizados por Elias. Mas, enquanto Acab se converteu, Jezabel ameaçava de morte o profeta. Elias teve de fugir para o Sul, refugiando-se no deserto de Judá. E, completamente esgotado, pediu a Deus a morte. Mas o Senhor faz-lhe encontrar, por duas vezes, pães cozidos sob a cinza e uma bilha de água, convidando-o a comer e a prosseguir viagem. Assim, chegou ao Horeb, isto é, ao Sinai, lugar tradicional das revelações divinas. E entrou na gruta para passar a noite. Aí, Elias manifesta-se angustiado por causa da perversão do seu povo. Só ele ficara a defender a religião dos pais. Mas Deus lhe confirma a vocação, numa teofania bem diferente das clássicas. Não há trovões, nem tremores de terra, mas apenas “o murmúrio de uma brisa suave” (v. 12). Elias é reconduzido à sua interioridade, para encontrar, na “gruta do coração”, o Senhor que lhe dará força para prosseguir a caminhada. O profeta retoma a missão e repara que, afinal, não está só, pois o esperam “sete mil homens”, que não dobraram o joelho diante de Baal (v. 18). E o Senhor indica-lhe algumas importantes tarefas a realizar (vv. 15-16). A presença misteriosa de Deus trouxe força e paz ao coração de Elias. Quantas vezes experimentamos algo semelhante, depois de uma intensa e esgotante atividade, em que não vemos os frutos esperados, ou que nos traz incompreensões, calúnias e más vontades. Mas, também para nós, o Senhor está presente, para nos confortar e reconfirmar na missão.
No Evangelho, Mateus nos apresenta Jesus que, falando a respeito do adultério, acaba com a distinção, própria dos fariseus, entre a intenção e a ação, e declara o princípio da unidade: adultérios do coração, dos olhos, das mãos, são igualmente proibidos. As palavras de Jesus não nos dão hipótese para escapar. O preço da felicidade é amputar, eliminar o que, em nós, é ocasião de mal, de pecado. Não é que Deus nos queira fisicamente deficientes. Mas exige a “circuncisão do coração” (Jr 4, 4), isto é, tudo o que desfaz o vínculo sagrado do amor, que nos impede de viver de modo coerente o Projeto de Deus. Estejamos atentos. “É do interior do coração dos homens que saem os maus pensamentos, as prostituições, roubos, assassínios, adultérios, ambições, perversidade, má fé, devassidão, inveja, maledicência, orgulho, desvarios.” (Mc 7, 21-22).
Sinto a presença misteriosa e eficaz de Deus em minha vida e na missão a mim confiada? Encontro, a cada dia, tempo para me “recolher” em oração e na escuta de Deus? Vivo em coerência com o Projeto de Deus, dedicando-me aos meus em família? Alimento as tentações, sucumbindo ao pecado, ou me esforço para extirpar do meu coração toda maldade?
Senhor, meu Deus, ainda que a minha consciência não me acuse de adultério do corpo, reconheço-me adúltero do olhar, da imaginação, do sentimento, do pensamento. E mesmo que de nada disso me acuse o coração, não posso considerar-me imune do adultério espiritual, que cometo todas as vezes que não Te coloco em primeiro lugar, na hierarquia dos meus afetos, dos meus interesses, do meu desejo de amor. Confesso diante de Ti, Senhor, que, enquanto cuido da integridade do corpo, estando atento para que nenhum dos membros sofra, não cuido, igualmente, da integridade do espírito, mas o abandono às paixões e aos instintos. Purifica, Senhor o meu coração, e todo o meu interior, para que Ti glorifique nos pensamentos, nas palavras e nas obras. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago