Na primeira leitura, em mais esse momento, vemos que os bons recebem prêmios e os maus, castigos. Trata-se do princípio da retribuição que percorre toda a história no Antigo Testamento. Esse mesmo princípio serve para explicar, por exemplo, a destruição de Jerusalém, do templo e o exílio, que são consequências dos pecados coletivos e reiterados do povo. É à luz do princípio da retribuição que é lida aqui a queda de Samaria, em 721, prelúdio da queda de Jerusalém. Morto o sumo-sacerdote Joiada, o rei Joás, consagrado por ele, cedeu às tendências pagãs dos “chefes de Judá”, caindo na idolatria. Em vão o profeta Zacarias, filho de Joiada, tentou evitar esse crime. Ele foi apedrejado até à morte. Mas a justiça divina, segundo o princípio da retribuição, não se fez esperar: veio a invasão dos arameus e a morte do rei, na própria cama, às mãos dos seus homens, que conservavam grande respeito por Joiada, e não concordaram com a morte do seu filho, Zacarias. A leitura nos exorta à fidelidade da fé, a não abandonar a Deus, a não praticar a idolatria. No lugar de Deus não se coloca nada e ninguém. Longe de Deus, dados ao mal, as consequências são de morte e não de vida.
No Evangelho, Jesus denuncia a idolatria do dinheiro: “Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (v. 24). É verdade que não podemos viver sem dinheiro e que devemos trabalhar para ganhá-lo para nós, para a família, para partilhar com os outros. Mas o fim do nosso trabalho não pode ser só ganhar dinheiro. Há outros valores, como a nossa própria realização pessoal e o progresso do reino de Deus: “Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo” (Mt 6, 33). O cristão deve estar consciente de que, quando trabalha, está a servir. E deve servir com amor. O dinheiro deve permanecer no seu lugar de servidor, e não se tornar patrão, um ídolo. Para evitar essa idolatria, Jesus nos convida à confiança na Providência divina: “Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir... o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso.” (v.25.33). As nossas preocupações materiais não podem sufocar as espirituais, principalmente o crescimento no amor. Na medida em que estes valores forem penetrando na sociedade, vai progredindo a justiça e a paz, a liberdade e a fraternidade. O valor do homem não está em "ter" muito, mas no "ser", e o "ser" do homem é tanto mais perfeito quanto mais experimenta a intimidade de Deus: “Procurai primeiro o Reino dos Céus e tudo o resto vos será dado por acréscimo” (Mt 6, 33).
Cumpro o mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas? É à luz do amor de Deus, em seu Filho Jesus, que em resposta eu vivo com amor minha vida e missão? Os bens materiais de que disponho têm me levado a Deus e aos irmãos e irmãs, ou são fonte de egoísmo? Educo meu coração na virtude, na busca dos bens espirituais ou só preocupado com os bens materiais?
Senhor, ensina-me a buscar o verdadeiro tesouro, não na terra, mas no céu. Liberta-me do domínio e da servidão do mundo, do maligno, de modo que possa voltar o olhar para a contemplação das realidades celestes. Concede-me procurar primeiro o Reino de Deus e a sua justiça para que, depois de caminhar sereno e confiante sobre a terra, Ti encontre à minha espera no Reino celeste. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago