Naquele tempo, quando a multidão viu que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, subiram às barcas e foram à procura de Jesus, em Cafarnaum. Quando o encontraram no outro lado do mar, perguntaram-lhe: "Rabi, quando chegaste aqui?' Jesus respondeu: "Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo". Então perguntaram: "Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?" Jesus respondeu: "A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou". Eles perguntaram: "Que sinal realizas, para que possamos ver e crer em ti? Que obra fazes? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está na Escritura: 'Pão do céu deu-lhes a comer'". Jesus respondeu: "Em verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão que veio do céu. É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo". Então pediram: "Senhor, dá-nos sempre desse pão". Jesus lhes disse: "Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede".
Caríssimos,
Neste domingo damos continuidade ao discurso de Jesus sobre o pão da vida, inserido no cap. 6 de João, uma virada na dimensão pascal eucarística presente no seio da comunidade cristã. O texto é perfeito e complexo, com muitos detalhes e pontos importantes a se destacar, porém, neste espaço, não é possível apresentá-lo totalmente, assim, conversaremos apenas sobre alguns pontos, que não diminuem a beleza do texto, mas ao contrário, abre nossos corações a outras pontes de nossa espiritualidade e reflexão pessoais.
Domingo passado havia um sentimento interessante com relação à busca de Jesus e dos discípulos. As pessoas percebiam como Jesus curava e falava. Existia algo que, embora ainda não se tivesse compreendido plenamente, chamava a atenção da comunidade. Quem é Jesus que se compadece do povo que está como ovelhas sem pastor. Quem é Jesus que olha para o povo e instiga o momento de aprendizagem dos discípulos com a multiplicação dos pães e o recolhimento dos cestos, simbólico do ministério eucarístico partilhado com os seus e a mudança para outra margem, o vem?...
Todos se encantam, portanto, vão ao encontro de Jesus e partilham da novidade que é o Cristo.
Neste domingo não há um “compadecer” da parte de Jesus – dar de comer à multidão – o que encontramos é uma espécie de reprimenda: “em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo”. O procurar Jesus não possui o conteúdo da esperança messiânica, há apenas uma curiosidade inserida no texto para identificar a saciabilidade material.
O povo, neste sentido, assemelha-se ao revoltado povo que outrora esteve com Moisés no deserto, querem apenas as panelas cheias, não querem a liberdade, um novo estado de ser, onde passam a ser cuidadores de suas vidas zelados pelo amor de Deus Pai. Esta chamada de atenção provoca aqueles que foram atrás de Jesus. Mas e pão material? Não é importante? Claro que sim! Ele deve ser encontrado e distribuído a todos através da luta na busca pela justiça social. Contudo, neste momento Jesus quer que o povo acorde para uma outra realidade. E qual seria?
Jesus deseja que o povo entenda que o verdadeiro pão do céu não foi dado por Moisés. O verdadeiro pão do céu é dado pelo Pai em Jesus Cristo. Ele é o verdadeiro pão que sacia para a vida eterna – pão vivo descido do céu! O verdadeiro alimento agora é crer em Jesus e alimentar-se da verdade que Ele nos comunica, que é a vontade do Pai. Jesus é o pão que o Pai nos oferece e que nos dá força para chegarmos, em unidade com Jesus no Pai, pelo Espírito Santo até a vida eterna. O Filho de Deus é alimento completo Pão Palavra, Pão Sacrifício de si, escolhido e selado pelo Pai.
Que sinal nos mostras? Mas já não basta o sinal estupendo da multiplicação dos pães no deserto da existência? Era preciso mais? Eles não conseguem compreender que Jesus é o SINAL e Nele há o fortalecimento da comunidade dos fiéis, que alimenta todo mundo e não um grupo de privilegiados. Ele ama a todos, se dá a todos que estão no mundo, até o fim.
Lembremos, quem vai a Jesus, como quem crê viverá plenamente porque a vida em plenitude lhe será comunicada na intimidade, na mesa com o Pão vivo, partilhado e doado como ação de graças a todos.
Pe. Jean Lúcio de Souza