O texto de hoje é dividido em duas cenas: o anúncio da paixão e a querela sobre o imposto do templo.
Após os discípulos compreenderem o mistério revelado/comunicado da paixão de Jesus, dão seu assentimento à notícia/revelação com a tristeza que lhes assola o coração. Ter ciência que seu mestre e Senhor acolhe e abraça a entrega de Si ao mundo para que todos tenham vida, mesmo que seja na expectativa do amor, ainda sim é doloroso. Essa tristeza é manifestação também da possível compreensão de uma missão partilhada com Jesus que sendo Filho de Deus que nos insere naquela dignidade com sua encarnação. Jesus coloca-nos em Si para participarmos com Ele de todos os mistérios que competem à sua Pessoa.
Logo após a conversa com os discípulos há uma movimentação que nos dirige ao Templo e depois um retorno à intimidade com Jesus. No Templo Pedro é questionado sobre o pagamento da didracma, que era o imposto anual e pessoal para cobrir as necessidades do Templo. Vosso mestre não paga a didracma, não paga o imposto? Primeiro a exclusão – vosso – aqui a comunidade, que ainda não aderiu a Jesus, não compreende quem é Ele. Para as autoridades, Jesus é apenas um mero filho de carpinteiro. Esta exclusão ou recusa coloca Jesus em um lugar comum no entendimento daqueles que não vivem a intimidade com o Senhor. Segundo, já deviam ter percebido a “ausência” do pagamento de Jesus, havia uma possível dívida social. Por que Ele não paga? Pedro, querendo escusar-se ou defender Jesus afirma que Ele paga o imposto, que Ele é coerente com os aspectos legais da religião judaica.
Chegando em casa Jesus toma a decisão de inquirir Pedro sobre uma realidade que os judeus ainda não haviam compreendido e que, na cena anterior, os discípulos haviam recebido com reto entendimento, pois eles sabem quem é o Filho do Homem, Pedro já havia declarado que Jesus é o Filho do Deus Vivo.
Jesus insere Pedro numa dinâmica nova – por mim e por ti – Pedro também está “isento”, é filho no Filho, é herdeiro e sabe que o sangue do Cristo haveria de “pagar” pelo resgate de todos, Pedro já sabia sobre a realidade do Templo que é o próprio Jesus – destruí este Templo e eu o levantarei em três dias (Jo 2,19 ss.) – uma nova realidade é posta. O Filho de Deus é tão Templo quanto o templo. É mais Templo que se possa imaginar, Ele é o Filho, o Herdeiro e não um estranho. Pedro é colocado neste lugar com o Cristo, somos colocados neste lugar com o Cristo. Somos filhos(as) no Filho.
A partir deste momento o imposto passa a ser pago para se evitar o escândalo e não como obrigação legal. Neste ambiente somos levados a compreender na realidade que brota do Evangelho que o resgate dos filhos e filhas é feito em Jesus Cristo como sacrifício agradável ao Pai na doação pura de Jesus. É através deste sacrifício que a ressurreição nos é garantida e mantida na esperança dos filhos(as) que são peregrinos em busca da casa do Pai. O Reino de Jesus de fato não é deste mundo, mas enquanto por aqui estivermos, abramos a boca dos peixes de nossos trabalhos e lutas cotidianas para pagarmos os impostos aos reis deste mundo, pois o nosso Reino, em nossa Casa Paterna, somos filhos e não estranhos...
Pe. Jean Lúcio de Souza