Na primeira leitura, Paulo retoma a reflexão sobre o binômio “sabedoria-loucura”. A sua atenção se concentra na loucura da pregação, na loucura da cruz, na loucura da fé. “Viver em Cristo” comporta assumir a novidade de vida que Cristo pregou e que a sua cruz anuncia, ainda que isso pareça paradoxal e escandaloso ao mundo em que vivemos. Tudo é vosso, diz Paulo, mas vós sois de Cristo, ou seja, pertencemos a Cristo por meio da fé. Ser de Cristo significa ter uma relação especial com Ele, por um chamamento recebido, pela Palavra escutada, pelo dom da graça acolhido. E mais, diz Paulo, Cristo é de Deus (v. 22 e 23), reafirmando o primado de Deus Pai, origem e fim de tudo e de todos. Somos convidados a ultrapassar os nossos estreitos limites humanos, para nos abrirmos à imensidade do amor de Deus.
No Evangelho, Lucas realça o modo como a multidão escutava “a Palavra de Deus”. Isto nos remete para a comunidade eclesial que vive a sua fé colocando no centro de si mesma “a Palavra de Deus”. Ao mostrar Jesus que se põe a ensinar a multidão, ele nos leva a considerar a narração evangélica como intimamente ligada à vida da primitiva comunidade cristã e assim o deve ser, aos nossos dias, por uma catequese permanente. Lucas também sublinha a autoridade da palavra de Jesus. À sua ordem, Pedro diz: “porque Tu o dizes, lançarei as redes” (v.5). Após a pesca milagrosa, Lucas registra que “depois de terem reconduzido as barcas para terra, deixaram tudo e seguiram-no” (v.11). Esta expressão alerta para o radicalidade do Evangelho. Lucas quer indicar que o seguimento de Jesus implica não só uma opção pessoal, mas também a decisão de se desapegar de tudo aquilo que, de algum modo, possa enfraquecer a adesão a Ele. “Não tenhas medo, de hoje em diante tu serás pescador de homens” (v. 10 e 11). Você está disposto a isso?
Sou atento à voz de Deus, à sua Palavra de vida, verdade e salvação? Ela tem encontrado acolhida em meu coração, em minha vida? Sou pronto em dizer sim a Deus, diante do chamado que me faz e da missão que me confia? Do que mais preciso me desapegar para seguir Jesus?
Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir. Procurava algo de significativo numa vida fácil e sem brilho, no tédio mortal de muitos dias sempre iguais. O teu amor me atemorizava e, por isso, resisti muito tempo. Agora, sinto-me rendido à tua irresistível sedução. Puseste-me em uma nova forma de existência, mostrando-me uma missão que, a partir de agora, dá consistência à minha vida, mesmo no meio das dificuldades e das contradições. Seguir-Te tornou-se uma maravilhosa oportunidade para Pedro e para mim, como para todos os que são chamados. Que eu saiba aproveitá-la, Senhor, para glória do teu Nome e bênção do teu povo. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago