Na primeira leitura, Paulo, falando à comunidade de Corinto, lembra às pessoas virgens, não casadas, uma verdade fundamental: “o tempo é breve” (v. 29), ou seja, qualquer que seja o tempo que falta para o regresso glorioso do Senhor, o mundo futuro já está presente no meio de nós, graças ao Ressuscitado. De fato, pela morte e ressurreição de Jesus, Deus já inaugurou em nós, e no meio de nós, a novidade do seu reino. A esta luz, a virgindade, livre e alegremente escolhida pelo Reino (Mt 19, 12), longe de ser um desprezo pelo matrimônio, constitui um sinal escatológico que tende a orientar a nossa esperança para a alegria definitiva. Assim se deve entender as suas exortações. Paulo pretende propor à nossa liberdade, na forma de conselho, aquilo que ele, por experiência pessoal e pelo que o liga a Cristo, está convencido de que é o melhor a desejar e a realizar. Concretamente: quando alguém chega à fé em Cristo, continue a viver como casado ou como virgem, não casado, na situação em que se encontra. Mas o mais importante é a consciência de que fomos “comprados por um alto preço” (7, 23), por Cristo Jesus, pela sua morte e ressurreição. É sempre o mistério pascal que projeta luz sobre a nossa vida.
No Evangelho, narrado por Lucas, as bem-aventuranças são reduzidas a quatro, acrescentando quatro “ai de vós”. Elas podem se reduzir a uma só: a bem-aventurança de quem acolhe a Palavra de Deus na pregação de Jesus e procuraadequar a vida a essa palavra. O verdadeiro discípulo de Jesus é, ao mesmo tempo, pobre, manso, misericordioso, promove a paz, é puro de coração, etc. Pelo contrário, quem não acolhe a novidade do Evangelho, a ele se aplicam as profecias de tristeza e de infelicidade. Aqui temos presente a contraposição ente o “já” e o “ainda não”, entre o presente histórico e o futuro escatológico. É um alerta para todos nós, para a necessidade de traduzir a fé em gestos de caridade e manter viva a esperança, com total adesão e radicalidade cristã, vivendo as bem-aventuranças evangélicas.
Tenho vivido, com frutos, a minha vocação, segundo o estado de vida em que me encontro? Reconheço a necessidade de viver com mais caridade e esperança, à luz das bem-aventuranças, esse tempo que é breve e me ordena, desde já, para a vida de plenitude junto de Deus? Meu coração se assemelha ao de Jesus – pobre, manso, misericordioso, puro e promotor da paz? Em que posso melhorar?
Senhor Jesus, obrigado por me teres escolhido e chamado a viver a fé a partir de meu estado de vida. Seguindo o espírito das Bem-aventuranças, renovo a Ti minha consagração de mente e coração, de alma e de corpo. Dá-me o teu Espírito para que vivendo a condição de redimido e de chamado a partilhar o teu estilo de vida e a tua missão, eu seja teu cooperador na construção do mundo novo. Amém
Pe. Marcelo Moreira Santiago