Memória litúrgica festiva de São Mateus e de Santa Ifigênia.
Mateus era um cobrador de impostos, profissão pouco conceituada. Jesus o chamou para segui-lo. É o próprio Mateus que, de modo muito simples, nos conta a sua conversão (Mt 9, 1-9). Lucas evidencia o banquete oferecido por Mateus, em que Jesus está presente e revela o seu amor misericordioso pelos pecadores. Dotado de certa cultura, Mateus foi o primeiro a recolher por escrito os acontecimentos da vida de Jesus. O seu Evangelho, escrito entre os anos 62 e 70, é especialmente destinado aos seus compatriotas judeus. Apresenta Jesus como o novo Moisés, aquele que dá ao novo Povo de Deus a nova lei do amor. Mateus dá também grande atenção à Igreja que Jesus convoca, salva e institui. Seu exemplo nos motive a perseverar no seguimento de Jesus Cristo e na prática do amor fraterno.
Ifigênia era filha do rei etíope Égipo. Ela foi catequizada e consagrada a Deus por Mateus, apóstolo e evangelista. Quando Hírtaco sucedeu no poder ao pai da santa, o novo soberano prometeu que daria metade de seu reino ao apóstolo caso ele persuadisse Ifigênia a se casar com ele. Mateus lhe explicou que não poderia permitir, pois ela fôra consagrada ao Senhor. Enfurecido, Hírtaco mandou matar Mateus e fez com que Ifigênia e seu irmão, Efrônio, tivessem que enfrentar um grande incêndio, provocado por ele. Mas, graças à ajuda de Deus, sobreviveram, enquanto Hirtaco fugiu. O povo então proclamou Efrônio como o novo rei de Núbia e ele pode assim governar em paz, por dezenas de anos. Ifigênia, por sua vez, viveu, com santidade, sua vida consagrada, propagando a fé cristã e colocando dons e bens a serviço dos pobres e doentes. É considerada “Libertadora de Núbia” e é invocada como protetora contra os incêndios.
Na primeira leitura, Paulo exorta os cristãos a uma vida digna da sua vocação, formando "um só corpo" em Cristo Jesus. A condição, naquele momento, de prisioneiro lhe dava maior autoridade para fazer uma tal exigência. A harmonia e a paz são indispensáveis para viver em unidade. Esta unidade espiritual entre os cristãos é motivada pela vivência social e comunitária, próprias da vida cristã: a Igreja é "um só corpo" animado por "um só Espírito" e por "uma só esperança" na salvação eterna a que a fé em Cristo nos convida. "Um só" é o Senhor, Jesus, que derrubou o muro da separação e da inimizade, e deu a todos a fé e o batismo, como meios de salvação. Acima de tudo, está a única paternidade divina: há "um só Deus e Pai de todos" (v. 6). Como diz Paulo, o verdadeiro discípulo está cheio de humildade, de mansidão, de paciência, uma vez que experimentou em si mesmo a paciência, a mansidão e a humildade divina, que se inclina sobre os pecadores e assim os ergue. No seguimento de Jesus Cristo, caminhemos segundo a vocação que nos foi dada (v.2).
No Evangelho, Mateus recorda o seu chamamento feito por Jesus. Ele se reconhece como publicano, cobrador de impostos, ou seja, pertencente a um grupo de pessoas pouco honestas e desprezadas, colaboradores dos romanos que ocupavam as terras do povo de Deus àquele tempo e os exploravam. Mostra que Jesus o chamou, para escândalo de muitos. Ele, então, se apresenta como um publicano perdoado e chamado por Jesus. A vocação de apóstolo não se baseia em méritos pessoais, mas unicamente na misericórdia do Senhor. Só quem se dá conta da sua pobreza, da sua pequenez, aceitando-a como o "lugar" onde Deus derrama a sua misericórdia infinita, está em condições de se tornar apóstolo, de tocar as almas em profundidade, porque comunica o amor de Deus, o seu amor misericordioso: "Prefiro a misericórdia ao sacrifício, porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores." (v. 13). Palavra encorajadora caída do Coração de Jesus. Não percamos a confiança, embora sejamos pecadores. Em Mateus, devemos nos enxergar.
Vivo de acordo com o chamado, a vocação que Deus me deu? Sou manso e humilde de coração, atento em viver com paciência e amor, na convivência com meus irmãos e irmãs? Reconheço a misericórdia de Deus a meu favor e ajo com misericórdia em relação aos meus irmãos e irmãs?
Pai misericordioso, concede-me a graça de reconhecer em minha história pessoal o chamamento fundamental da vida, que o teu Filho e nosso Senhor dirige a mim com amor. Que eu te responda com um "sim" pronto e generoso, nas pequenas e grandes ocasiões da minha vida. Assim poderei concretizar a obra pessoal e comunitária que me confias a realizar na Igreja. Que o meu testemunho de cristão e de Igreja possa contribuir para a conversão do mundo ao teu amor misericordioso. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago