Na primeira leitura, ao interrogar-se sobre o sentido da vida, o Livro do Eclesiastes responde: “Tudo é vaidade” (v. 2), ou seja, inconsistente, pois ao longe pode encantar, mas, perto, desilude. Tal é a vida do ser humano: realidade enganosa, caduca, absurda. “Uma geração passa, outra vem; e a terra permanece sempre” (v. 4). Se olharmos para além das aparências, verificamos que tudo se move, mas tudo continua igual. Tudo volta ao ponto de partida, tal como o sol no seu movimento diurno, tal como o vento ou a água dos rios. Também o afadigar-se do ser humano é como que um rodopiar à volta de si mesmo, fazendo e desfazendo, sem jamais chegar à meta definitiva. O mundo novo que ele procura construir escapa-lhe continuamente das mãos, como areia por entre os dedos. Ele jamais se saciará de ver, de ouvir, vendo escapar o verdadeiro sentido da vida quando posto nas coisas efêmeras, passageiras. Cheio de si mesmo e apegado às coisas passageiras, o ser humano vive embalado pela “vaidade das vaidades”. Tudo, então, é vaidade? O Novo Testamento irá nos esclarecer afirmando que tudo é vaidade, exceto a caridade. Ela permanece, pois Deus caritas est – Deus é amor. Cristo Ressuscitado, prova inconteste do amor de Deus, o Pai, é a novidade maravilhosa que dá sentido e novo gosto à vida e enche o coração de otimismo, de alegria e de confiança.
No Evangelho, vemos Herodes perplexo, interrogando-se sobre quem é Jesus de quem todos falam? Alguns diziam que é João ressuscitado, é Elias, é um profeta. O povo percebe a grandeza de Jesus. Mas erra ao compará-lo com figuras do passado. Jesus é uma novidade absoluta. Para compreendê-lo é preciso olhar para Ele, e mais ninguém. Lucas diz que Herodes quer encontrar Jesus e dar-se, pessoalmente, conta da sua identidade. Se fosse movido por boas intenções, como no caso de Zaqueu (Lc 19, 3), seria uma atitude positiva. Mas não era esse o caso. Ele confessa ter matado João Batista, para calar a sua voz incômoda, mostrando assim que a sua vontade de ver Jesus era apenas curiosidade superficial, não para uma conversão de vida. Tudo isso ficará claro na narrativa da paixão (Lc 23, 8-10). Herodes representa o homem curioso que não quer tornar-se discípulo de Jesus, mas apenas quer ver fenômenos extraordinários. Ele estava cego em seus propósitos. O mesmo não aconteça conosco, libertemos o nosso coração de tudo o que nos impede de ver Jesus.
Vivo, olhando só para mim e apegado às coisas passageiras? De que “vaidades” ainda me sinto preso? Busco ver Jesus, aprofundando minha fé e minha espiritualidade no seguimento de Jesus? O que me impede de buscar, na vida, ver Jesus? De que libertação preciso?
Senhor, são muitas as ocasiões que pões ao meu dispor para meditar na "infinita vaidade de todas as coisas". Não queres que me agarre a nada porque, fora de Ti, tudo é inconsistente. Quero louvar-te e te dar graças por tudo quanto me ofereces na natureza e nos irmãos. Quero louvar-te e te dar graças por tudo quanto de bom pões ao meu dispor. Só Tu, Senhor, és a minha verdadeira e definitiva riqueza, a minha verdadeira e única felicidade. Faz-me sentir o teu amor eterno, para que não me detenha em nada deste mundo, e mantenha o olhar fixo em Ti, origem e fim de todas as coisas. Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago