Quando medito este trecho do Evangelho, muitas coisas chegam-me ao coração, muitos sentimentos, dentre eles destaco dois, a angústia e a esperança. São paradoxais? Claro que são! Nunca tive dúvidas.
Jesus observa a cidade sagrada, sua gente, sua parentela, o povo eleito e a reação é de “tristeza”. O choro e o lamento de quem tem tudo a oferecer, que pode resgatar e cuidar, que pode promover a paz e conduzir qual pastor o povo à uma terra onde mana leite e mel. Ele é o portador da alegria e da luz eterna. Ele é a vida que doada resplandece na vida de cada um que com Ele se encontra com ânimo.
O olhar de Jesus é angustiante. Não gostaria de estar próximo aos apóstolos naquele dia. Ver o Senhor chorar e se lamentar, de um lado, por querer oferecer o amor e a libertação e de outro lado, uma turba de gente que não reconhece esse amor e o persegue, fere e quer destruir. Pode alguém chegar ao cúmulo de perseguir o amor, de não querer ser amado na inteireza do amor de Deus que oferecendo-se a si, oferece tudo o que, na realidade de nossas existência, nos seria mais que necessário? É angustiante querer oferecer o bem, a verdade e a justiça, e ter de reconhecer que não querem esses dons.
Essa mesma angústia, de certo, atinge-me em cheio por dois motivos: seria eu também alguém que recusa em excelência o amor terníssimo de Deus? Por que ainda somos tão duros em aceitar esse amor de Deus no meio do mundo? Esses questionamentos conseguem tirar minha paz. Não adiantaria dizer que “tentamos” buscar, às vezes, o “tentar” soa mais como um “não quero” que como um sim. Se olharmos o mundo, as guerras, a luta pelo poder mundial. Se olharmos nosso país, estados e cidades, se olharmos bem nossas famílias e comunidades, vamos nos angustiar também percebendo que somos mais indiferentes a essa Amor que podemos imaginar.
Porém o outro sentimento que me toma é a esperança. E por qual motivo? Um Deus que se importa conosco ao ponto de verter lágrimas de tanto amar, um Deus que se importa conosco ao ponto de se deixar abaixar para lavar-nos os pés, se deixar crucificar entregando sua vida por aqueles que ama, um Deus que vence as barreiras da morte para nos dar a vida, mesmo sem percebermos a profundidade destes dons, só poderia ser chamado de “Amor”.
O grande teólogo Leonardo Boff já havia declarado sobre Jesus: “de tão humano, Jesus de Nazaré só poderia ser Deus”. O amor de Deus é a plenitude do humano. Fio-me aí, sempre irei confiar nestas realidades, apesar de nossas infidelidades e egoísmos, sempre irei confiar no amor de Deus por mim e por todos nós. É aí que finco minha esperança, porque sei, porque sabemos que Deus nos veio visitar, sei que Ele é nossa paz e alegria e espero com confiança que não seremos abandonados à sorte pilhagem.
Por isso, renovo a oração da confiança. Preciso confiar que podemos ser melhores e que as lágrimas do Filho de Deus Humanado não foram em vão. Elas são angustiantes, mas também refletem sua esperança, porque, dali, vendo toda aquela indiferença de um povo que não queria ser amado, poderia ter desistido e voltado atrás, mas Ele não desistiu, continuou seu caminho até a entrega total de seu amor a todos nós. Somos todos receptáculos do amor de Deus em Jesus Cristo. Na esperança, devemos corresponder, dia e noite a este amor.
Deus abençoe nossas vidas.
Coragem!
Pe. Jean Lúcio de Souza