Memória de Santa Maria no Sábado
Caros irmãos e irmãs, iniciamos com a graça de Deus o mês de fevereiro e com ele, o coração está repleto de esperança, o que inicia tem sempre o jeitinho da novidade. A vida de quem crê é assim, nos encaminha sempre para a esperança.
Não sei se vocês já se deram conta, mas o Evangelho é sempre repleto deste jeitinho de novidade, ele sempre está repleto de esperança porque nos comunica a graça de Deus no hoje de nossas vidas. O Evangelho é a esperança dos que se encontraram com Cristo e por Ele foram remidos.
A Liturgia da Palavra traz para nós, hoje, algo com jeitinho de novidade.
Olhem... em nossas vidas, se formos observar bem, vamos descobrir que temos nossos dias de barquinho bagunçado. Quem não teve seus momentos de tempestades, não é mesmo? Estou falando daqueles momentos esquisitos que a gente fica observando com susto e medo ao mesmo tempo.
Se por um lado a esperança que nasce do Evangelho nos impulsiona para frente, o medo é a desesperança que nos paralisa e faz com que, no linguajar popular, surtemos ante as dificuldades.
Hoje o texto de São Marcos quer falar sobre as tempestades da vida, sejam as tempestades em nossas vidas pessoais, na sociedade civil que, por vezes, se desorganiza ou na Igreja. Não somos muito bons em conviver com tempestades/dificuldades, a gente gosta mesmo é de calmaria, mas como diz o ditado popular: “mar calmo, nunca fez bom marinheiro!”, a gente vai se resolvendo nessa viagem.
Depois de um dia de ensinamentos, como qualquer outra pessoa, Jesus deve ter se esgotado, queria mesmo era tirar uma sonequinha... Bobo que não era, se ajeitou num cantinho com um travesseiro e repousou. Deveria ser um sono gostoso e restaurador, mas a tempestade de Jesus era lidar com seus medrosos discípulos.
Ventania e ondas altas e fortes. E os discípulos, com Deus dentro do barco, tomando-o por exemplo, deveriam descansar, mas, o que houve? Um rebuliço. Jesus não se importa conosco, vamos afundar e se afundarmos nesta tempestade pereceremos até a morte. E quem quer morrer? Eles não queriam, por isso, acordaram Jesus com uma “reprimenda” – não te importas? – as tempestades em nossas vidas e na Igreja surtam qualquer um, certo? Mas com Jesus no barco, não era para dar uma aliviada?
Dizemos sempre que cremos em Jesus e que Ele está conosco... Mas quando as tempestades chegam? Misericórdia!! O grito é inevitável: não te importas?
Em nossas vidas as tempestades podem ser inúmeras, podem ser de ordem financeira, saúde, morte, solidão, medo, desesperanças, problemas familiares diversos. Podem até ser tempestades ilusórias, aquelas que juramos piamente estarem acontecendo, mas não passa de um chuvisco de primavera. Podem ser tempestades que buscamos, afinal, por vezes, buscamos cada encrenca para nossas vidas que depois não sabemos como resolvê-las. E no final, mesmo que na quietude de nossos quartos, gritamos: não te importas?
Tempestades sociais que atingem a vida das comunidades: a criminalidade, as mortes, a falta de saúde e educação dignas, a corrupção deslavada, o egoísmo, a falta de responsabilidade com o meio ambiente que geram na vida da comunidade um desconforto global. A vida chega a ser caótica em todos os lados.
Tempestades na Igreja. Essas são interessantes! Sabem por quê? Porque é dentro da Igreja que o grito estranho do “não te importas?”, soa como um sino rachado.
A comunidade dos fiéis, a exemplo de nossos primeiros pais e mães na fé, deveria se lembrar que Jesus está na barca conosco, mas nos esquecemos! E nosso jeito de ser Igreja pode estar mais ligado aos nossos interesses que ao Evangelho e sua razão de ser. Corremos o risco de nos tornarmos "auto suficientes do sagrado".
Isto é um pouquinho (pra não dizer muito) cansativo. Sim, temos qualidades? Temos. Mas hoje é dia de vermos as tempestades.
Acho que por isso Jesus se “irrita”: porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?...
Oh barquinho difícil esse da existência!!!
É preciso aprender a confiar mais em Jesus, Ele está conosco e nos leva sempre para outras margens para mudarmos o caminhar, o pensar e o sentir. O convite que Ele nos faz é justamente esse, o convite de, em meio às dificuldades, nos reclinarmos ao Seu lado em oração e silêncio e repousemos com confiança, Ele cuidará de tudo. Ele é a melhor calmaria. Quando fazemos isso, fazemos a travessia em segurança e aprendemos a lidar com as intempéries vitais.
Bom, já que hoje a gente celebra a memória de Santa Maria no sábado, vou colocar aqui a oração de um desesperado na tempestade, o João Grilo, é, aquele mesmo do Alto da Compadecida, porque só ela mesmo para ajudar em nossas desesperanças dentro do barquinho da vida. Vou mudá-la um pouquinho para não perder sua beleza. A oração é simples, chega à beira da inocência, mas que prova a todos... no desespero da tempestade, ela também diz por nós...
“Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré! A vida é como a vaca no retiro, a mansa dá leite, a braba dá quando quer. A mansa dá sossegada, a braba levanta o pé, a vida pode ser vaca braba... Valha-me minha Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré porque nessa vida já fui barco, fui navio, mas hoje sou escaler, quase afundando na ventania. Olha que já fui menino, fui homem, e no desespero dessa tempestade, só me falta ser mulher, valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré”.
Pe. Jean Lúcio de Souza