Meus irmãos e irmãs!
O contexto que temos diante de nós hoje quase nos aponta para a dimensão e a perspectiva sobre o que ainda meditávamos no sábado. Existe um movimento no interior desta Liturgia que exige de nós um olhar cada vez mais amadurecido com as realidades do Reino de Deus.
Vamos lá?
O relato das bem-aventuranças que nos é proposto hoje vem acompanhado de um alerta, os “ais” que Jesus aplica em forma de lamentos sobre o povo. São quatro bem-aventuranças e são quatro “ais” equivalentes. Podemos chamar isso de contraditório, ou beligerante ético.
Esses polos controversos no texto de Lucas sugerem os desafortunados e os afortunados sociais, os sem consolo e os consolados. Que há nisso tudo? Se formos analisar com olhares sinceros os bem-aventurados são os desconsolados de hoje: a pobreza, a fome, o choro pelas dores que assola nosso povo e criam classes sociais cada vez mais distantes e com isso a separação inevitável entre as pessoas, sem que haja compaixão verdadeira entre todos os seres humanos faz com que, na urgência da misericórdia, algumas vozes se levantem para combater o mal que gera a pobreza e a fome, essas vozes serão odiadas.
Mas, por qual motivo serão odiadas essas vozes? Porque aqueles que se sentem confortados, saciados, gostam desta distância. Não é bom negócio que a sociedade tenha acesso à educação de qualidade, porque os analfabetos servem para o servil que os doutores não desejam aplicar-se em exercer. É bom que haja fome, para que os mais pobres se apliquem a empregos humilhantes com salários baixíssimos, porque com medo de se desempregar e os seus não tenham o que comer os submeta ao submundo da pobreza... E muitas vezes a sociedade chancela esse mal.
Sendo assim, Lucas aplica aos “ais” em relação aos que hoje são consolados e que se distanciam do compromisso e do exercício da compaixão (vejam a reflexão de sábado) e assim se distanciando a humanidade em sua inteireza fica prejudicada em sua forma de ser à semelhança de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Humano.
Devemos aprender o caminho do CONFIAR. Confiar é “tecer a vida juntos”, tecer a vida ao lado de Deus em Jesus Cristo, para sermos consolados nas dificuldades da vida, apoiando-nos uns aos outros. Confiar na carne, ou seja, em nossa capacidade separatista e individualista, gera condutas vazias e isoladas do reto sentido de viver em Deus e no exercício da compaixão. Quando confiamos em Deus, ou melhor, quando con-fiamos com Deus, produzimos os frutos da bem-aventurança aos que desesperançados encontram consolo por nossas laboriosas mãos com Jesus.
Agindo assim, o balido dos maus não poderá nos atingir. Nossas raízes estão fortes porque buscam a fonte da água viva que é Jesus e Nele nos saciamos. Não teremos medo das perseguições e das fragilidades que surgem com a missão. Não haverá míngua.
Lembremos que confiar não é um “apenas esperar” por algo que chegará como que em um “passe de mágica”. Confiar é CONSTRUIR JUNTO, é tecer a vida com Jesus em favor do bem de todos. Quem tece a vida com Jesus frutifica na história da humanidade, frutifica construindo pontes e buscando possibilidades melhores para aqueles que hoje choram por causa da fome e da pobreza, fazendo com que as realidades sociais e políticas concedam trabalho e salários dignos, concedam oportunidades para que todos se alimentem com fartura e sem desperdício, para que todos os que hoje choram com medo do amanhã, possam deitar em suas camas e em seus lares e amanhecer com a certeza do pão nosso de cada dia.
A luta é grande irmãos e irmãs! Não se iludam, seremos perseguidos se lutarmos por todos os que estão à margem, seremos taxados de comunistas, que estaremos protegendo e fomentando a pobreza e ou a criminalidade, seremos achincalhados pelas ruas, irão torcer os narizes quando nos virem ao lado dos pobres e dos que choram, mas quando estes estiverem novamente de pé, nossa alegria e nossa recompensa serão as mesas e as casas felizes para os que hoje choram!
Coragem!
Deus é Bom e Ele cuida de nós!
Pe. Jean Lúcio de Souza