Às vezes, pode ser um pouco complexo viver nossa fé, e por qual motivo? Jesus pode estar querendo nos dizer uma coisa e nós, por outro lado, podemos compreender outra e isso parece frustrante.
Encontrar-se com Jesus exige de nós uma entrada na dimensão sempre viva de sua Palavra e ao que nos parece aquela exigência implica noutra atitude: saber ver e saber ouvir. Não se pode viver como quem aparentemente ouve a Palavra e não consegue perceber as realidades da vida fazendo olhos de mercador.
O compromisso é: ouvindo o que Jesus diz e vendo as realidades humanas, a Palavra pede que as contemplemos e ali optemos seriamente pelo Evangelho e sua proposta absurdamente ousada e comprometedora.
Naquela travessia com os discípulos surge uma nova tempestade, a tempestade de não saber compreender Jesus a tal ponto que o Senhor precisa questionar os ventos que são contrários no coração de cada um dos que caminham com Ele – Vós tendes o coração endurecido? – essa dureza de coração é uma fenda aberta para recepção do fermento dos fariseus.
O fermento dos fariseus obriga os discípulos de ontem e os de hoje a olhar a realidade mediana da vida, obriga-nos a preocupar-nos com aquilo que não coopera para a transformação da vida humana. Esse fermento leva-nos à hipocrisia e encerra-nos numa prisão chamada cegueira, indiferença e o mais terrível, a chave da porta da prisão está em nossas mãos.
O fermento dos fariseus não nos permite ver a ação de Jesus, não nos permite perceber como Jesus vive expressando a compaixão, exercendo a misericórdia, acolhendo e resgatando aqueles que estão à margem da vida. Jesus não dá atenção ao periférico da vida, Jesus vai à essência do existir, Ele, sendo Palavra viva do Pai tem a consciência divina de que seu ser sacerdotal é ser servindo e se doando.
O fermento dos fariseus vira lema nacional, mas não nos insere na dinâmica do cuidado com a vida. O fermento dos fariseus apresenta um discurso próspero, mas tão individualista, que as dimensões da misericórdia e da compaixão esfumaçam diante do ensimesmamento que fermenta a massa da indiferença e da invisibilidade social.
Jesus alerta-nos para que tendo ouvidos, ouçamos a Palavra e tendo olhos e vendo como Jesus age, possamos agir nesta mesma dimensão, assim, repetiremos na vida o que no ensina o salmista: assim como os olhos dos escravos, estão fitos nas mãos do seu Senhor, e como os olhos da escrava estão fixos nas mãos de sua senhora, assim estão os nossos olhos fixos no Senhor até que se compadeça de nós (Sl 123 [122], 2). Nossos olhos estão fixos nas mãos de Jesus para aprendermos, ouvindo, o que Ele faz e sua compaixão venha a nós e nós a levemos aos outros...
Pe. Jean Lúcio de Souza