Um lar amigo...
Relendo o texto do Eclesiástico e o texto do Evangelho comecei a pensar naquele lugar benfazejo que se chama família que, às vezes, tratamos pelo costumeiro “minha casa”. Uma das coisas mais lindas é que em quase sua totalidade, todas as famílias começaram do desejo de um homem e de uma mulher, que, segundo a fé, quiseram construir um lar amigo, recebendo os seus frutos numa só carne...
Os fariseus falam em divórcio, ou seja, falam sobre uma família, uma casa, que deixou de ser amiga em algum momento de sua vida. Ali as pessoas já não se reconhecem mais, passaram, quem sabe, até um tempo felizes, segundo suas possibilidades, mas depois, a chuva veio e deu contra a casa e ela caiu. O lar? O lar ficou, mas não é tão amigo...
Dentro de casa, ou dentro da família, o lar deve ser amigo. Que significa isso? Ninguém tem bola de cristal e nem faz uso de telepatia para entender os pensamentos e os sentimentos uns dos outros, é preciso estar atento às dores, limites, fragilidades do lar amigo, para que não surjam rachaduras e trincas que venham a destruir tudo. Portanto, muita coisa precisa ser eficiente, por exemplo, em um lar amigo, tem que ter espaço para aquele bom bate-papo amigo, sem reservas, com palavras respeitosas e repletas de boa sinceridade, sem agressões e pré-julgamentos. Quando o lar é amigo as pessoas conversam, se entreolham nos olhos, um faz parte da vida do outro com a beleza do saber dizer e refazer.
Saber dizer é também saber perdoar. Saber perdoar é abrir-se à novidade de não se entregar ao egoísmo do fechamento em si e buscar novos caminhos. O ditado: manda quem pode e obedece quem tem juízo, acredito já não ser tão funcional. Bom, pode até funcionar por um tempo, depois, cada um seguirá seu caminho com aquela sensação de algo inacabado no lar amigo, que ficou tão desconhecido...
Pensemos bem, um marido que é um bom conselheiro para sua esposa e uma esposa que é boa conselheira para o seu marido, são dádivas familiares, porque, de certo, ambos deverão se aconselhar com o grande Amigo que está sempre lá, no seu lar amigo, Jesus. Os filhos e filhas não terão medo de ter em seus pais os seus verdadeiros conselheiros de suas vidas.
No lar amigo todos são companheiros uns dos outros na graça da compaixão na mesma mesa onde se partilham o pão e a vida e, nas necessidades, cada um segundo o que é dentro do lar. O casal é um casal, pais são pais, filhos são filhos, irmãos são irmãos, cada qual segundo sua capacidade de ser em seu limite de ser e sem romper esse limite, cooperam para o bem, uns dos outros. Na humilhação a família amiga será apoio nas tormentas das travessias. O lar amigo, expulsa os inimigos.
No lar amigo, a vida é de uma fidelidade linda, todos de mãos dadas, isto é, capaz de separar toda e qualquer capacidade de isolamento e separação.
Jesus é questionado sobre o divórcio, uma situação complexa na vida da comunidade até os dias de hoje, que ocorre quando o coração se separa da realidade do lar amigo e será aí que as realidades começam a ser adulteradas. Um lar que deixa de ser amigo e descobre a discórdia que adultera a concórdia. Um lar que deixa de ser amigo não há mais o diálogo de onde nasce a beleza do entendimento e da reconciliação e a realidade do lar fica alterada pelo mau silêncio que não faz bem. Há uma partida que se anuncia em vista do distanciamento e o lar amigo, fica triste, sombrio.
O lar amigo deixa de ser casa, deixa de ser família... no lar amigo, assim esfacelado, onde cada um segue seu caminho, busca-se verdadeiramente o que?
Se seu lar ainda não é um lar amigo? Ajude-o a ser! Se seu lar deixou de ser um lar amigo, com Jesus, refaça sua casa e ali dentro seja tudo feito em benefício da renovação do lar amigo. Se seu lar é um lar amigo, não se perca, continue fazendo com que ele seja aconchegante na misericórdia e compaixão.
Que nossos lares sejam amigos, cálidos e repletos de esperança...
Coragem!
Deus é Bom e Ele cuida de nós!!!
Boa Quaresma e feliz Páscoa a todos!!!
Pe. Jean Lúcio de Souza