RETIRO QUARESMAL PAROQUIAL. REFLEXÃO DIÁRIA. 09 de março. 1º Domingo da Quaresma: Dt 26,4-10; Sl 90; Rm 10,8-13; Lc 4,1-13.

“Então Jesus foi conduzido pelo Espírito à parte alta do deserto...”  (Mt 9,14)

- No início desta Quaresma somos convidados a estar com Jesus no deserto.

• O “deserto” nos sacode e nos desnuda, porque desmascara nossas falsas seguranças.
• Somos movidos a buscar nossas raízes mais profundas.

- O deserto também esvazia nosso ego e nos faz mais sensíveis, solidários e comprometidos diante do flagelo da destruição do meio ambiente.

• Tudo está interligado, a vida humana e de toda criação, a vida do planeta, nossa casa comum. Somos parte do cosmos, seres interdependentes. Somos natureza...

- Sentir que somos Terra nos faz ter os pés no chão da vida e viver em comunhão com a comunidade das criaturas.

• No compasso da CF-2025, a hora é de somar em prol da vida e no cuidado de todos os seres da Terra.
• Buscar a conversão ecológica: da lógica da exploração, à exaustão, dos bens da terra, à lógica do cuidado.

Pedido de graça da semana:

Senhor, dá-nos um coração contemplativo, capaz de admiração,

assombro e gratidão diante da beleza e vastidão da Criação,

dom de Deus.

Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 4,1-13

- O primeiro domingo da Quaresma nos apresenta o relato das tentações de Jesus no deserto que ajudam a desvelar o sentido de sua missão, seu caminho, seu destino.

• É relevante o fato de que se vincule a ida de Jesus ao deserto após o batismo, sendo conduzido pelo Espírito.

- O deslocamento de Jesus ao deserto está em profunda sintonia com a experiência vivida pelo povo judeu.

• Foi no deserto que Israel aprendeu a descobrir e a confiar em Deus.
• Longe da segurança do Egito, emergiu o que havia no fundo do seu coração.
• Os profetas contaram o tempo do deserto como o tempo das obras maravilhosas de Deus.
• Foi no deserto que o povo de Israel sentiu profundamente sua pequenez e total dependência de Deus.

- No fundo, o Êxodo foi um tempo de profundo discernimento coletivo, que desembocou numa radical opção pela liberdade, porque um povo só é livre quando pode decidir o rumo de seu caminhar.

- Leia o Evangelho de hoje, sem pressa. Procure saborear o que ele diz... entrar na cena, registrada por São Lucas... antes de começar a contemplação, prepare-se e deixe-se conduzir pelo Espírito ao deserto de seu interior...  

- O Evangelho nos apresenta uma catequese sobre as opções de Jesus.

• Ele recusou sempre as propostas e os valores que punham em causa o Projeto de Deus para o mundo e para os homens.

- Para Jesus, os valores de Deus tiveram sempre primazia sobre os bens materiais, a sede de poder, a embriaguez oferecida pelo êxito fácil.

• Aos seus discípulos Jesus pede que sigam um caminho semelhante.

- Medite o texto... Deixe as palavras de Jesus, em resposta às tentações do diabo “ressoarem” no seu coração.

- Jesus, como todos os profetas, antes de assumir sua missão, foi conduzido pelo Espírito ao deserto.

• Frequentemente, Ele recorria a esta experiência em meio à sua vida ativa.
• Ele se afastava para lugares solitários, confrontava a sua missão com a vontade do Pai.

- Todos os personagens bíblicos, todos os santos passaram pela experiência de deserto: peregrinação interior, confronto com a própria vida, comunhão com o Senhor, descoberta da própria missão.

- O deserto é lugar da Aliança, escola da intimidade com o Senhor.

• O tempo do deserto foi, para Jesus, um tempo de discernimento sobre os melhores meios para viver seu messianismo.
• As tentações não diziam respeito ao “ser messias” de Jesus. Isto estava claro e foi confirmado pela experiência do seu batismo: “Tu és meu filho bem-amado” (Mc 1,11).

- As tentações de Jesus aconteceram no campo das mediações:

• Entre pensar em seu próprio interesse ou deixar-se conduzir pela vontade do Pai;
• Entre impor seu poder como Messias ou colocar-se a serviço daqueles que mais precisam;
• Entre buscar a própria glória e prestígio ou manifestar a compaixão de Deus para com aqueles que sofriam;
• Entre evitar riscos para fugir da perseguição ou entregar-se fielmente à sua missão, confiando somente no Pai.

- De fato, os meios apresentados pelo “tentador” humanamente falando, são os mais eficazes que se poderiam imaginar:

• Vão da possibilidade de transformar as pedras em pão ao prestígio indiscutível de quem salta do alto do templo, sustentado pelos anjos, culminando na entrega de todo o mundo a seus pés.

- Quem resistiria a um homem com tais meios?

• Todos seriam atraídos porque teria em suas mãos o poder total e o domínio absoluto.

- Eis aqui a intuição e a genial proposta do tentador:  salvar e libertar toda a humanidade, mas mediante o poder, o prestígio, a dominação e a riqueza.

• São estas mesmas “tentações” que têm grande impacto destruidor em nós...

- A Quaresma, nesse sentido, apresenta-se como um caminho para aprender a esvaziar nosso ego de toda pretensão de poder, de toda vaidade, de todo autocentramento...

- O que mais me atrai, fazer a vontade de Deus ou a do mundo? Deixo-me conduzir pela Palavra de Deus no discernimento dos passos a seguir? Sou de buscar o “caminho mais fácil”, ou pautar-me pela ética, pela verdade? Você é de privilegiar os seus interesses pessoais, ou o projeto de Deus?

- Converse com Deus... Deixe a graça de Deus “trabalhar” em você, despertando-o para passos e horizontes ainda maiores de vida... Acolha, com abertura, as palavras do Evangelho deste dia, exortando-o a vencer as “tentações” do mundo...

Senhor, meu Deus,

concede-me que através dos exercícios quaresmais,

eu possa progredir no conhecimento do mistério de Cristo

e corresponder-lhe por uma vida justa e santa,

superando as tentações do mundo,

na fidelidade à tua santa vontade,

Amém.

- Pergunte-se: Em que a Palavra de Deus hoje me ajuda a viver? Que respostas de vida, Ele me pede?

- O tempo que passou no deserto, refletindo sobre a missão que o esperava, foi para Jesus um tempo de prova, de decisões, talvez de purificação dos razões que o moviam.

• A figura do “diabo” corporiza, nesse contexto de escolhas, os caminhos errados que também estão à disposição de Jesus.
• O cenário é montado à volta de um diálogo em que Jesus e o “diabo” debatem as diversas possibilidades que se apresentam, numa luta entre eles feita a partir de citações das escrituras sagradas.

- Fica claro qual é o caminho que Jesus, desde o início, se propõe seguir.

• Ele venceu o combate contra o mal. Não quer viver para acumular bens, dominar sobre pessoas, exibir em seu proveito a grandeza de Deus.

- Jesus se propõe a servir o Projeto de Deus, sem se desviar um milímetro da vontade do Pai.

• O que eu fiz, vão e façam...

- Termine sua oração com preces espontâneas e dando graças a Deus por esse momento... Não deixe de participar da missa dominical, celebrando o “Dia do Senhor”. Reze a oração do Pai-Nosso e, a seguir a da CF-2025:

Ó Deus, nosso Pai,

ao contemplar o trabalho de tuas mãos, viste que tudo era muito bom!

O nosso pecado, porém, feriu a beleza de tua obra,

e hoje experimentamos suas consequências.

Por Jesus, teu Filho e nosso irmão, humildemente te pedimos:

dá-nos, nesta Quaresma, a graça do sincero arrependimento

e da conversão de nossas atitudes.

Que o teu Espírito Santo reacenda em nós a consciência da missão 

que de ti recebemos: cultivar e guardar a Criação,

no cuidado e no respeito à vida.

Faz de nós, ó Deus, promotores da solidariedade e da justiça.

Enquanto peregrinos, habitamos e construímos nossa Casa Comum,

na esperança de um dia sermos acolhidos na Casa que preparaste

para nós no Céu. 

Amém!

- Não esqueça, registre no seu “caderno de vida” os sentimentos despertados pelo encontro de hoje com o Senhor: alegrias, conforto, resistências, medos, libertação... novos propósitos...

Pe. Marcelo Moreira Santiago