RETIRO QUARESMAL PAROQUIAL. REFLEXÃO DIÁRIA. 20 de março. Quinta-feira da 2ª Semana da Quaresma: Jr 17,5-10; Sl 1; Lc 16,19-31.

- A parábola do homem rico e do pobre Lázaro é um exemplo do que estamos a rezar, nesse retiro.

- Quem é o rico?

• É o homem que busca a riqueza humana, que confia em seu dinheiro e em suas forças e não a coloca a serviço do próximo, mas a serviço do seu luxo e de suas festas.

- o homem rico conseguiu o que os filhos de Zebedeu pediam ao Senhor: uma lugar de destaque na sociedade, onde não faltaria poder e riqueza.

• Jesus desaprovou o pedido dos dois irmãos e o profeta Jeremias faz eco dessa desaprovação na leitura de hoje: “Maldito o homem que confia no homem e que faz consistir sua força na carne humana” (Jr 17,5).

- Lázaro, ao contrário, não tem nada a que se apegar e sua confiança é na piedade alheia, que lhe foi negada pelo rico, mas não por Deus no dia da ressurreição.

- A parábola não pretende esclarecer o pós-morte, mas advertir sobre as opções a serem feitas no mundo.

• Aquele que põe sua confiança nos bens deste mundo fará um projeto de vida em que o Evangelho não terá lugar.
• Os que colocam o Reino de Deus em seus projetos de vida serão “como árvore plantada à beira d’água... suas folhagens permanecem verdes” (Jr 17,8).

Pedido de graça da semana:

Senhor, que eu possa ordenar minha vida e minhas práticas

evitando todo pecado e me tornando seu servidor e do próximo

cumprindo, de todo coração, seu mandamento de Amor.

“É feliz quem a Deus se confia” (Sl 39)

- Ao renunciar a Deus, a humanidade moderna quer se autoafirmar. Mas isso a deixa incompleta, pois tira a ressurreição do horizonte e converte a vida num caminhar para a morte.

• “Maldito o homem que confia no homem” (Jr 17,5).
• Mas Deus foi o primeiro que acreditou no ser humano e enviou Jesus Cristo para ensinar como a vida humana se torna possível e vale a pena ser vivida.

- Quem confia numa humanidade sem Deus é maldito, mas quem crê numa humanidade que segue o Senhor torna-se uma pessoa otimista e que se empenha por viver servindo aos irmãos e irmãs e ajudando-os a encontrar o Senhor.

• Nisto está o verdadeiro sentido da vida...

Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 16,19-31

- Leia o Evangelho, sem pressa. Procure saborear o que ele diz... entrar na cena, registrada por São Lucas... Deixe-se conduzir pelo Espírito ao deserto de seu interior... Contemple a cena em que Jesus conta uma Parábola nos falando de um rico e do pobre Lázaro ...

- São Lucas recolhe, no capítulo 16 do seu Evangelho, os ensinamentos de Jesus sobre as riquezas.

- A parábola, que hoje escutamos, nos ensina a considerar a nossa condição atual à luz da condição eterna. A sorte pode se inverter.

• Jesus nos fala de um homem rico que “fazia, todos os dias, esplêndidos banquetes” e de um pobre significativamente chamado Lázaro (termo que significa Deus ajuda).
• Atormentado pela fome e pela doença, ele permanece à porta do rico, à espera de alguma migalha. Os cães comovem-se com Lázaro; mas o rico permanece indiferente.
• Chega porém o dia da morte, a que ninguém escapa. E inverte-se a situação...

- Jesus levanta um pouco o véu do tempo para nos fazer entrever o banquete eterno, anunciado pelos profetas.

• Lázaro é conduzido pelos anjos a um lugar de honra, nesse banquete, enquanto o rico é sepultado no inferno.
• Do lugar dos tormentos, o rico vê Lázaro e atreve-se a pedir, por meio dele, um mínimo gesto de conforto (v. 24).

- Contudo, as opções desta vida tornam definitiva e imutável a condição eterna (v. 26).

• Nem o milagre da ressurreição de um morto, diz Jesus, aludindo a Si mesmo, podem sacudir um coração endurecido que se recusa a escutar o que o Senhor permanentemente ensina por meio das Escrituras (w. 27-31).

- Sou atento às necessidades de meus irmãos e irmãs? Sei partilhar o que sou e o que tenho? Em quem ou em que deposito minha confiança? Em que me pareço com o rico e em que me pareço com Lázaro? Que é ou quem são os “Lázaros” que batem à minha porta, enquanto estou “banqueteando”? O que me falta ainda?...

- Converse com Deus... Deixe a graça de Deus “trabalhar” em você, despertando-o para passos e horizontes ainda maiores de vida... Acolha, com abertura, as palavras do Evangelho deste dia...

Senhor Jesus,

que sendo rico Te fizeste pobre por nosso amor,

para nos tornar participantes da tua riqueza,

dá-nos um coração de pobre que confie apenas em Ti

e saiba ser solidário com todos os lázaros

desta pobre humanidade.

Que jamais caiamos na tentação de cortar relações

com eles nesta vida terrena, para que possamos os ter,

com eles e Contigo, na vida eterna.

Durante esta Quaresma,

queremos nos colocar entre os pobres e pecadores,

não para sermos coniventes e cúmplices no pecado,

mas para sentirmos verdadeira necessidade da tua graça,

e caminharmos para Ti

certos de que seremos libertados das nossas culpas.

Confiamos em Ti, Senhor,

 jamais seremos confundidos.

Amém.

- Pergunte-se: Em que a Palavra de Deus hoje me ajuda a viver? Que respostas de vida, Ele me pede?

- Hoje, tanto a primeira leitura como o evangelho, com imagens muito simples mas pintadas a cores fortes, nos colocam perante o fato de que é nesta vida que decidimos o nosso destino eterno, a vida ou a morte, sem outras possibilidades.

• Aquele que, nesta vida, põe a sua confiança nos meios humanos e nas coisas materiais e, sobretudo, aquele que se afasta do Senhor e organiza a própria existência independentemente de Deus, é “maldito”.

- O apego a uma felicidade egoísta leva à cegueira, que não permite ver para além do imediato, do material.

• Não permite ver a Deus, nem a caducidade da nossa condição atual, como não permite ver as necessidades dos pobres que jazem à nossa porta.

- Aquele que confia no Senhor, reconhecendo a sua condição de criatura, dependente e amada por Ele, é “bendito”.

• Este ou esta leva no coração uma semente de eternidade que florescerá em felicidade e paz eternas.

- Por outro lado, a verdadeira confiança em Deus é sempre acompanhada pela solidariedade com os pobres, com pobres que o são materialmente, com os que o são espiritualmente, mas também com os doentes, com vítimas de contrariedades e opressões de qualquer espécie.

• Tanto Jeremias como Jesus nos ensinam tudo isto, não de modo abstrato, mas com imagens expressivas como a da árvore plantada no deserto ou junto de um rio ou como o pobre Lázaro.

- O pobre Lázaro se caracteriza pelo silêncio, tanto diante das provações da vida como diante da falta de atenção daqueles de quem esperava ajuda.

• Não grita contra Deus nem contra os homens. Permanece silencioso e paciente no seu sofrimento físico, psicológico e espiritual, confiando em Deus.

- Finalmente surge a morte e tudo se transforma. Levado pelos anjos para o seio de Abraão, continua em silêncio. No seu rosto, primeiro sereno e confiante e agora glorioso, transparece outro Rosto, o de Jesus, que se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza.

• Ele, nosso Salvador, sendo de condição divina, por nosso amor, assumiu a condição humana, para que pudéssemos participar da sua condição divina.
• Sendo rico se fez pobre, homem pobre, para que todos pudéssemos participar da sua riqueza.

- A nossa confiança em Deus nos leva a nos solidarizar com o amor de Jesus por todos os homens e mulheres, um "amor que salva".

• Como Ele, são chamados a estar presentes e atuantes junto de todos os lázaros desta humanidade de que somos parte.
• Chamados a viver e atuar unidos no seu amor pelo Pai e pelos homens, especialmente pelos pequenos e pelos pobres, porque "Cristo se identificou" com eles (Mt 25, 40).

- Esta é a primeira, “boa nova” porque os quer libertar da sua opressão, sofrimento, pobreza. Porque os quer felizes.

• É para eles a primeira bem-aventurança: "Bem-aventurados os pobres, porque deles é o Reino de Deus' (Lc 6, 20)... Ele, em seu Reino, quer elevar todos "os pequenos ... "pobres em espírito' (Mt 5, 3).

- Termine sua oração com preces espontâneas e dando graças a Deus por esse momento... agradeça por poder contemplar essa cena relatada por Jesus a Parábola do Homem rico e do pobre Lázaro, exortando ao amor ao próximo, a partilhar dons e bens...

Reze a oração do Pai-Nosso e, a seguir a da CF-2025:           

Ó Deus, nosso Pai,

ao contemplar o trabalho de tuas mãos, viste que tudo era muito bom!

O nosso pecado, porém, feriu a beleza de tua obra,

e hoje experimentamos suas consequências.

Por Jesus, teu Filho e nosso irmão, humildemente te pedimos:

dá-nos, nesta Quaresma, a graça do sincero arrependimento

e da conversão de nossas atitudes.

Que o teu Espírito Santo reacenda em nós a consciência da missão 

que de ti recebemos: cultivar e guardar a Criação,

no cuidado e no respeito à vida.

Faz de nós, ó Deus, promotores da solidariedade e da justiça.

Enquanto peregrinos, habitamos e construímos nossa Casa Comum,

na esperança de um dia sermos acolhidos na Casa que preparaste

para nós no Céu. 

Amém!

- Não esqueça, registre no seu “caderno de vida” os sentimentos despertados pelo encontro de hoje com o Senhor: alegrias, conforto, resistências, medos, libertação... novos propósitos...

Pe. Marcelo Moreira Santiago