RETIRO QUARESMAL PAROQUIAL. REFLEXÃO DIÁRIA. Quarta-feira da 5ª Semana da Quaresma: Dn 3,14-20.24.49a.91-92.95; Sl (Dn3); Jo 8,31-42.

- Quem vive o seguimento de Jesus, identificando-se com seu modo de ser e de viver, começa a viver na humildade, e isso já é “caminhar em verdade”. “E a verdade nos libertará” (8,31).

- A humanidade busca a verdade, mas também pode asfixiá-la. Costuma-se reprimir a verdade que incomoda.

• Aqui tocamos um ponto tão nuclear:  a verdade, em princípio, não é uma crença, ou conjunto de crenças, nem uma formulação ou doutrina... mas sim à transparência da nossa essência, do nosso ser verdadeiro.
• Para nós, a verdade é Jesus. Ele mesmo assim se autoproclama: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6) e, como diz Paulo, nos exortando no seguimento de Jesus, “para mim, o viver é Cristo ( Fl 1,21).

Pedido de graça da semana:

Senhor, inspirado em sua presença misericordiosa,

possa reacender em meu coração

uma “faísca” desta sua misericordiosa.

“Se, portanto, o Filho vos libertar ficareis realmente livres” (Jo 8,36)

- Aqueça o seu coração para entrar na “tenda do encontro com o Senhor”... Tome distância dos ruídos cotidianos... faça silêncio em seu interior... mobilize seu corpo, seus sentimentos, sua memória e vontade para escutar a Palavra de Deus...

- Como se explica que alguém, em nome da “verdade” cometa violência aos outros ou simplesmente os desqualifique?

• Quem faz isto, é claro que não está na verdade.

- Quando a verdade se identifica apenas com “crenças”, “formulações” ou “doutrinas”, acontecem efeitos estranhos, como o de confessar verbalmente uma coisa e estar vivendo o contrário.

- Seguir Jesus não significa ter determinadas crenças, mas estar dispostos a realizar a Verdade, ou seja, o que Ele viu, ensinou e viveu.

• Jesus não disse “tenho a verdade”, mas “sou a verdade”.
• Ele sempre foi verdadeiro, transparente, sem segundas intenções e falsidades.

- Agir conforme a verdade nos aproxima da luz.

• Sentimo-nos, por vezes, incomodados quando a luz penetra em nossa vida e nos “des-vela”.
• Preferimos, muitas vezes, continuar cegos, alimentando novos enganos e ilusões...

- A cada dia, somos convidados a despertar e a abrir os corações, a escutar o Espírito e a nos pormos a caminho, enquanto “a luz da vida” nos ilumina.

• Devemos estar abertos, como Jesus, abertos a todos, de um modo especial aos mais pobres, excluídos de todos os sistemas de “verdade(?)” do mundo.
• Somos “verdade” na medida que somos verdadeiros, transparentes, sem segundas intenções.

- Quem se descobre verdadeiro e sem máscara vive profundamente, alarga sua via a serviço dos sem vida.

• Esta é a via da humanização e quanto mais nos humanizamos, mais nos divinizamos.

Evangelho de Jesus Cristo segundo São João Joâo 8,31-42.

- Leia o Evangelho, sem pressa, procurando saborear as palavras de verdade proclamadas por Jesus. Deixe a luz do Evangelho revelar a verdade de seu ser, a sua essência...

• Guarde para a sua vida: quanto mais livre é uma pessoa por dentro, mais humana é, e é mais de Deus, como Jesus o é...

- Diante daqueles que se vangloriam de ser filhos de Abraão (v. 33), Jesus clarifica alguns importantes temas como o discipulado (v. 31), a liberdade e o gozo da intimidade familiar (vv. 32-36), da filiação e da paternidade (vv. 37-42).

- Prosseguindo, conforme ouvimos no Evangelho, Jesus termina revelando a sua divindade: “Eu sou” (v. 58).

• Os seus adversários, porém, endurecem posições e tentam apedrejá-lo (v. 59).
• Assim eles revelam ser escravos do pecado.

- Só a fé, que leva a confiar na Palavra, liberta do pecado, como aconteceu com Abraão.

• A fé no Filho leva os discípulos a permanecerem n'Ele (v. 31), Palavra do Pai, como filhos e filhas livres que permanecem na casa paterna (v. 35).
• Quem procede de outro modo, revela ter outra origem (v. 41), intenções perversas (v. 37) e escravidão (v. 34), ainda que não se dê conta disso ou não o queira admitir.

- Quais são os traços mais verdadeiros de sua personalidade? Há algo que o aprisiona, que o escraviza e limita a sua liberdade? Você tem procurado ser verdadeiro e transparente num mundo marcado por tantas mentiras, fake news e falsidades? A verdade que é Cristo tem iluminado a sua vida, o seu jeito de ser e de agir?...

- Converse com Deus... Deixe a graça de Deus “trabalhar” em você... Deixe-se iluminar pela luz que é Deus... Acolha, com abertura, as palavras do Evangelho deste dia... Reze confiante:

Senhor Jesus,

faz-me compreender que, para viver como filho do Pai,

não me basta ser batizado,

mas também preciso de fazer as suas obras,

e de crescer na escuta da sua voz,

deixando que a tua palavra lance raízes em mim,

e tome gradualmente posse de todo o meu ser.

Faz-me também compreender que me tornas livre

apenas na medida em que abro à tua palavra,

não só a minha inteligência, mas também a minha vida.

Só quando ela for totalmente guiada por Ti,

serei realmente livre: livre do pecado que me escraviza,

livre da inveja que me separa dos outros,

livre da preguiça e do orgulho que me paralisam.

Então, mesmo no meio dos sofrimentos da vida,

também quando tiver de sofrer para ser fiel ao teu amor,

serei livre e, como os jovens da fornalha ardente,

cantarei os teus louvores,

celebrarei a tua vitória.

A tua gloriosa Paixão nos faz vitoriosos contra o pecado,

contra todas as dificuldades,

contra o sofrimento.

Faz-nos livres! Obrigado, Senhor!

Amém.

- Pergunte-se: Em que a Palavra de Deus hoje me ajuda a viver? Que respostas de vida, Ele me pede?

- A liberdade é um valor de que todos desejamos usufruir. Mas nem sempre a procuramos onde a podemos encontrar.

• Os três jovens, de que nos fala a primeira leitura, são um maravilhoso exemplo de liberdade.
• Recusam corajosamente adorar o poder real, mesmo sendo condenados à fornalha ardente.
• Nabucodonosor pergunta: “Qual o deus que poderá vos libertar da minha mão?” Os jovens respondem: “Não vale a pena ti responder a propósito disto. O Deus que nós servimos pode nos livrar da fornalha incandescente e até mesmo, ó rei, da tua mão”.

- Este gesto de liberdade os condenou ao suplício. Aparentemente perderam a liberdade: foram amarrados e lançados ao fogo. Mas o Deus, em quem eles confiam, intervém para os libertar. O rei verifica o fato. E converte-se à fé.

- Quando Deus deixa de ser apenas uma ideia mais ou menos abstrata, quando a fé em Jesus Cristo se torna vida, podemos experimentar a liberdade cristã.

• Não é que a vida se torne mais fácil.
• A verdadeira fé em Deus, e uma relação pessoal com Jesus, seu Filho, na fé e no amor, revelam exigências até aí desconhecidas.
• Estas exigências estabelecem novos laços, que não escravizam, mas dilatam os corações e fazem avançar os que se guardam na fé pela via dos mandamentos divinos.

- Como os Judeus, que se diziam filhos de Abraão, talvez também nós nos digamos cristãos apenas porque somos fiéis a umas tantas observâncias.

• Mas isso não é suficiente para fazer de nós filhos de Deus, nem filhos da Igreja.
• Ser filhos é, em primeiro lugar, ser livres. Jesus, o Filho, revela-nos a verdadeira liberdade.
• Contemplando-o, verificamos que essa liberdade consiste na renúncia a nós mesmos para afirmarmos o Outro, os outros.
• O pecado é exatamente o contrário: faz-nos ver tudo a partir de nós mesmos e dos nossos interesses, coloca-nos no centro do universo. É a escravidão de que fala Jesus.

- Podemos permanecer na escravidão, mesmo falando muito de liberdade e de libertação.

• Não podemos libertar-nos por nós mesmos. Seremos livres na medida em que abrirmos o coração à Palavra, que é presença de Cristo no meio de nós, e à sua poderosa salvação.
• Só ela nos arrancará da idolatria e, sobretudo, da egolatria, para nos guiar até à liberdade do amor.

- A liberdade é um dom do Espírito Santo:

• “O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, benevolência, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio... contra estas coisas não há lei” (Gal 5, 22).  

- A liberdade é um fruto do mistério pascal de Cristo: "Pela Sua morte e ressurreição (Cristo) abriu-nos ao dom do Espírito e à liberdade dos filhos de Deus” (Rom 8, 21).

- Termine sua oração com preces espontâneas e dando graças a Deus por esse momento... louve, suplique, agradeça...

- Reze a oração do Pai-Nosso, peça a graça de viver na liberdade dos filhos e filhas de Deus... e, a seguir, reze a oração da CF-2025:                

Ó Deus, nosso Pai,

ao contemplar o trabalho de tuas mãos, viste que tudo era muito bom!

O nosso pecado, porém, feriu a beleza de tua obra,

e hoje experimentamos suas consequências.

Por Jesus, teu Filho e nosso irmão, humildemente te pedimos:

dá-nos, nesta Quaresma, a graça do sincero arrependimento

e da conversão de nossas atitudes.

Que o teu Espírito Santo reacenda em nós a consciência da missão 

que de ti recebemos: cultivar e guardar a Criação,

no cuidado e no respeito à vida.

Faz de nós, ó Deus, promotores da solidariedade e da justiça.

Enquanto peregrinos, habitamos e construímos nossa Casa Comum,

na esperança de um dia sermos acolhidos na Casa que preparaste

para nós no Céu. 

Amém!

- Não esqueça, registre no seu “caderno de vida” os sentimentos despertados pelo encontro de hoje com o Senhor: alegrias, conforto, resistências, medos, libertação... novos propósitos...

Pe. Marcelo Moreira Santiago