- Na primeira leitura, Pedro e João, postos em liberdade, vão ter com os seus coirmãos apóstolos e alguns mais discípulos. A comunidade cristã reage à perseguição, não concertando estratégias humanas, mas com a oração que começa por invocar a Deus criador, menciona alguns dos seus atributos e, finalmente, apresenta o seu pedido. O ponto central da oração designa o propósito da salvação divina realizado na paixão, morte e ressurreição de Jesus. Não importa que os reis da terra, representados em Herodes, conspirem contra Jesus, o Messias, e que os príncipes, representados por Pôncio Pilatos, se aliem contra o Senhor. A ressurreição de Jesus torna inútil toda essa oposição. A comunidade sabe que tem de passar pela mesma sorte de Jesus. Por isso, pede a Deus, não o fim da perseguição, mas a liberdade e o poder anunciar com palavras e obras a Boa Nova de Cristo morto e ressuscitado. São Lucas termina fazendo referência a um estremecer do lugar onde estavam reunidos em oração. Era, segundo a mentalidade comum, um sinal de que a oração fora benignamente escutada por Deus. De fato, todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a anunciar com ardor e coragem a Palavra de Deus.
- No Evangelho vemos Jesus com Nicodemos. Ele era um dirigente judeu muito representativo. Tinha ficado impressionado com as palavras e as ações de Jesus, na sua primeira intervenção, em Jerusalém. Por isso, decidiu entrevistar-se com ele. E mostra-se disposto a aceitar o ponto de vista de Jesus. Trata-se, pois, de um homem de boa vontade, com inquietações e sem preconceitos. As suas perguntas andaram à volta do tema do Reino de Deus, como nos dá a entender o evangelista São João. Para entrar nele é preciso nascer de novo. Esta é a expressão central da narrativa. A interpretação literal que Nicodemos faz dela dá a Jesus ocasião para ulteriores explicações. Na Antiguidade, havia a ideia de que, para entrar numa nova religião ou num sistema filosófico, era preciso “renascer”. Hoje diríamos que é preciso mudar de mentalidade. Mas não é esse o sentido que Jesus dá à expressão. De fato, trata-se de um nascimento “do Alto” (v. 7) ou de Deus. Este nascimento tornou-se possível porque Aquele que vem do alto veio à terra (Jo 1, 12-13). O nascimento “da carne e do sangue” é inadequado em ordem à pertença ao Reino. É precisa a ação do Espírito que é oferecido gratuitamente ao ser humano por Deus. O Espírito torna o ser humano capaz de responder a Deus. Esse novo nascimento nos foi dado no Batismo, como alude Jesus: “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3, 5).
- Vivo, com frutos, a vida nova que me foi dada pelo Batismo? Oportuna e inoportunamente, dou testemunho da fé em Jesus crucificado-ressuscitado? Deixo-me conduzir pelo Espírito Santo, ou tenho sido resistente a ele? Uso das coisas que passam para abraçar as que não passam? ...
Senhor Jesus,
faz-me compreender que “renascer do Alto”
não é só ser batizado mas também acolher, cada dia,
o dom de Deus, que Ele o Pai nos dá pela tua Ressurreição.
Preciso renascer em cada etapa da minha vida.
Sei que nascer do Espírito
não acontece de uma vez para sempre,
e as dificuldades da nossa vida são um chamamento
a renascer mais uma vez.
Que eu me abra sempre ao teu Espírito
para ser capaz, a cada tempo, de renascer,
sem desanimar com as dores
que antecedem a cada renascimento.
Amém.
Pe. Marcelo Moreira Santiago