Esses dias, caminhando pelo centro de nossa cidade, fui surpreendido por uma situação complicada. Uma pessoa, idosa, deficiente, já calejada pela existência, que de alguma forma a feria segundo seu estado de vida, estaria provavelmente voltando para sua casa – assim quero acreditar – contudo, no meio do caminho havia um degrau e esta senhora caiu, bateu a cabeça no chão e não conseguia se manter de pé. As pessoas que estavam perto tentaram ajudar de alguma maneira até que alguém chamou a Guarda Municipal para que pudessem conduzir a senhora ao posto de saúde, porque pelo que se observava ela não estaria bem. Ficamos ali um pouco até que se resolvesse a situação, depois, segui para o escritório.
Um senhor que estava conosco veio conversando comigo e disse a seguinte frase: coitada, meu Deus, sozinha, sem família, sem segurança e saúde, o que será desta senhora? Não posso negar, esta pergunta ecoa no Evangelho de hoje. O que será desta senhora? Pobre e solitária. Frágil, debilitada, com uma pequena sacola de plástico nas mãos com um pão. Ela se fiava na sacola, sem muita consciência do que estava acontecendo ela segurava a sacola de pão. Onde está meu pão? Cadê o meu pão? Era a fome? Seria o pão sua única refeição? A fraqueza nas pernas também seria resultado da falta de alimento? Onde está meu pão?...
Felizes vós os pobres, porque vosso é o reino de Deus... onde está meu pão? Onde estaria agora o pão de tantos que agora não têm o que comer? Onde estariam as condições de dignidade humana de todos os que agora de alguma forma ou de outra tropeçam na exclusão social? Jesus, ao dizer dos “bem-aventurados”, os felizes os pobres, estaria enaltecendo a pobreza, a miserabilidade humana, as condições indignas dos tantos irmãos e irmãs que agora perguntam: onde está o meu pão? De modo algum, Jesus não está exaltando a pobreza/miséria que derrubam vidas, mas em sua pessoa está justamente o questionamento sobre a incapacidade de se edificar o Reino de Deus no ambiente das desigualdades sociais que criam hiatos, distâncias, dividindo a sociedade em classes nascentes da meritocracia...
Com o advento da presença de Jesus, Deus conosco, entre nós aprendemos com Ele a não desprezar os desprezados, Ele quer que nós, a seu exemplo, desçamos às margens da pobreza, da tristeza, do distanciamento e assumamos um contato sincero com os pobres em busca de sua justiça. À pergunta do homem que me acompanhava pela rua – o que será desta senhora? – só poderia ser respondida à medida em que saciarmos os pobres, à medida em que descobrimos que a dor dos que agora choram pelos caminhos da indiferença é também nossa dor e somos convidados e despertar o sorriso pelo acolhimento. Quando aprendermos a descer e a lutar por vida digna para todas as pessoas em nome do Evangelho, seremos perseguidos, vilipendiados, humilhados por não compactuar com o sistema de destruição dos mais pobres.
Ouviremos, de fato, os “ais” se nos distanciarmos do cuidado de todas as pessoas, os idosos, as crianças, mulheres, de todos os que de alguma maneira nos questionam, onde está meu pão? Jesus se dirige a nós neste texto de Lucas, estamos ou não do lado dos famintos, dos pobres e dos que choram?
Pe. Jean Lúcio de Souza