O ano de 2020 foi marcado pelas ausências, distâncias e pelas nossas dores que tinham um motivo em comum: a pandemia do Coronavírus. Tudo que conhecíamos, de repente, transformou-se de uma forma inexplicável e tivemos que nos adaptar a um novo estilo de vida para proteger a nós e nossos irmãos em Cristo.
E com nossa fé não foi diferente, seguimos a professá-la, mas a distância. E isso doeu. Deu saudade. Preocupação. E quando chegou o mês de agosto, mês de Nossa Senhora da Lapa, tivemos o jubileu inteiramente online que foi emocionante e produzido com muito carinho, nele cada interação foi verdadeiramente celebrada.
E aí… 2020 passou … e chegou 2021. No novo ano, as cicatrizes permanecem conosco, não foi fácil. Mas com a esperança trazida pela vacina e a melhor compreensão de como nos proteger e proteger o outro nos reencontramos lá no Santuário de Nossa Senhora da Lapa. Parecia tão distante! Quando chegou o anúncio de que seguindo todos os protocolos, poderíamos estar de forma presencial, uma verdadeira alegria tomou conta.
A sensação é de que a Padroeira nos pegava no colo e dizia: “Tudo vai melhorar. Confia em mim. Estava com saudades!”. O jubileu de forma presencial foi a verdadeira materialização da palavra esperança, ainda que com o controle e a possibilidade de assistir online, revisitar o local é um grande presente.
No primeiro dia, os profissionais da saúde levaram a imagem de Nossa Senhora da Lapa até o altar. Mas sabemos que foi o contrário: a linha de frente, esses profissionais que tem participação direta na esperança de um mundo livre de covid, foi carregada nos braços por Ela, em cada dia que deixavam suas famílias e iam zelar por pessoas que nem conheciam.
A cada decisão, a cada desgaste, a cada retorno para casa depois de dias exaustivos, tanto na parte física quanto mental, Nossa Senhora estava lá. Quando falta, no horizonte, alguma coisa que nos deixa otimistas, basta olhar para um profissional da saúde: eles nunca deixaram a peteca cair, mesmo em meio a situação mais aterrorizante dos últimos 100 anos. Fé é isso.
Depois dessa linda homenagem chegou o momento. Aquele momento. Pelo qual esperei uma eternidade: cantar o povo de Deus reunido , com o povo de Deus realmente unido (com máscaras, álcool em gel e distanciamento). Não sabia quando isso aconteceria novamente. Quando aconteceu, foi uma sensação semelhante a de me teletransportar, junto ao arranjo singular dessa música, que traz algo como beber o primeiro gole de água quando se está com sede. Porque estávamos com sede: de nos ver, de estar e de sentir. De interagir.
Juntos, alegres cantamos! E com muito fôlego! Com alegria! O povo de Deus e de Nossa Senhora da Lapa estava realmente reunido !
O momento de fazer a oração a Nossa Senhora é sempre particular. Não sabemos das intenções pelas quais nossos irmãos rezam, mas torcemos muito para que as graças sejam alcançadas. E nesse ano, em que os folhetos não estão sendo distribuídos justamente para a proteção de todos, é possível perceber que a presença da Senhora da Lapa é tão forte, que todos sabem a letra da música e sabem rezar de “cór e salteado”, por motivo de fé, entrega e devoção.
A pandemia ainda não acabou. Mas melhores ventos sopram em nossa direção. Nada ainda está em seu devido lugar, falta um caminho a ser percorrido. Mas agora, ao saber que o retorno de nossas estimadas atividades religiosas é possível e que os reencontros também são, nos sentimos carregados, acolhidos e amados. A forma online de acompanhar também é uma forma de se fazer presente, com certeza! As interações, os pedidos de oração são acolhidos da mesma forma. Porém, no horizonte bem pertinho poderemos estar totalmente juntinhos, saudando com a “Paz de Cristo” e rezando o Pai Nosso de mãos dadas. Acredito nisso. Até lá seguiremos com a Fé que nos move e zelando pelo outro como os profissionais da saúde.
Nos dias festivos não foi diferente. Pessoas dos mais diversos locais sendo recebidos ao som de “Você que está chegando/ seja bem-vindo”, Vespasiano, Itabirito, Águas Claras, Mariana, Ouro Preto. E claro, a população do distrito de Antônio Pereira que fez-se presente e acolheu os romeiros com a alegria de rever um amigo que não se via há um tempo. Não sabemos o que, exatamente, vieram pedir, mas todos tinham algo a agradecer: A vida, a saúde e a possibilidade de um carinho, que se mostrou tão difícil nos últimos 1 ano e 5 meses. Parecia o infinito. Em um ano, passaram 10.
No dia 14, aconteceram duas missas ao longo do dia. Tudo pensado para que não acontecessem aglomerações. E à noite, um incontável número de automóveis levaram a imagem de Nossa Senhora da Lapa pelas ruas de Antônio Pereira, uma procissão motorizada fez com que a caminhada realizada anualmente antes dos tempos pandêmicos fosse relembrada. E causou emoção. Muita emoção. A medida que a imagem se aproximava do andor, o corpo se arrepiava, os olhos enchiam d'água, era um misto de sensações: De um lado, a admiração de o quanto a comunidade é unida e devota; do outro, a gratidão por ter nos permitido celebrar aquele momento, ainda que com os cuidados. Um ano ficamos longe, no outro um pouco mais perto e quem sabe, em 2022, estaremos finalmente grudadinhos como sempre amamos?
A imagem de Nossa Senhora da Lapa se confunde com a imagem do próprio distrito de Antônio Pereira. Os relatos são de que enquanto a imagem passava pelo andor, as pessoas se ajoelharam, rezaram, choraram. As graças alcançadas pelos milhares de fiéis são incontáveis e todos manifestam sua fé das mais diversas formas, e a comunidade de Antônio Pereira não mede esforços para que a festa seja linda, da maneira que for possível.
De maneira geral, o dia 14 foi marcado pela: união da comunidade; carreata motorizada; benção dos carros e dos objetos; fogos no céu (não de responsabilidade da paróquia); esperança nos olhos e fé no coração.
Dia 15. Dia festivo. Aleluia! Infinitos foram as histórias de cristãos que acompanharam todos os 15 dias em Graça a Nossa Senhora. Também aconteceram 3 missas e todos que vieram, cumpriram as regras de contenção sanitária e de proteção, álcool em gel aos montes, máscaras obrigatórias, sinalização de distanciamento. A Gruta se manteve fechada, para segurança e bem de todos, mas isso não impediu que a Fé na Senhora da Lapa fosse manifestada: Velas acesas, joelhos no chão, celebração e muita alegria! Para simbolizar a procissão que saía do Santuário e ia em direção a Igreja das Mercês, o andor passeou entre as pessoas, num gesto lindo e puro de amor e de partilha.
Bem, dos bastidores, eu conto à vocês que tivemos muita alegria de tudo estar dando certo. Das pessoas que estavam lá e das que acompanharam pelas redes sociais estarem felizes, cada música, palma, foto, bom dia, boa tarde, boa noite, nos deixava repletos de alegria. E esperamos que ano que vem seja melhor. E por falar em ano, no próximo serão 300: de graças milagres e Fé! Que se for da vontade de Deus comemoramos juntos o ano Jubilar, que terá programação mensal até agosto de 2022. Ano passado não sabíamos como iríamos nos rever, agora sabemos e está muito perto! Até ano que vem!
Texto e Foto: Hellen Perucci