Iniciamos hoje a caminhada Quaresmal. Qual o sentido que a Quaresma nos traz seja na intimidade de nossos corações, seja no coração da Comunidade Eclesial?
Será a partir da resposta que dermos a esse questionamento que poderemos buscar viver a espiritualidade ativa presente na quaresma!
Ao tomarmos contato com os textos litúrgicos propostos para este dia encontramos um oscilante convite. Digo oscilante, não por ser inconsistente, mas por nos levar a um movimento de pertencimento à misericórdia de Deus que nos acolhe, mas que acolhe nossa liberdade de ação, fruto do ordenamento de nossas consciências e sentimentos.
Que isso quer dizer?
Ao olharmos a leitura da profecia de Joel e o belíssimo salmo 50, notadamente percebemos um pedido para que haja da parte do povo uma disposição para mudança e que essa mudança venha acompanhada de sinais que marquem esse arrependimento. Tais sinais externos devem refletir o interior de cada pessoa, aí pode haver a oscilação.
Os sinais podem ser meramente expressões vazias que passam pelo mero cumprimento de ritos dos quais o coração não participe, mas que se apresentam com ostentação e miserável vaidade, contudo, se o coração se rasga verdadeiramente, os atos de piedade são expressões externas, silenciosas e cheias de arrependimento que limpam a alma, aquecem o coração e nos permitem encontrar o perdão do Pai que nos acolhe e nos abraça.
É Ele mesmo que nos pede para voltarmos para ELE com todo nosso coração.
Interessante que o profeta nos apresenta Deus com aquela visão aparentemente distante e usando expressões “Vosso Deus”. Jesus, no Evangelho, apresenta “Vosso Pai”. Esta oscilação é marcada por uma graduação fantástica! Deus é sim Senhor de nossas vidas, de nossas histórias, mas está presente aí enquanto PAI e não um juiz que ao ver reto arrependimento do criminoso atenuará sua pena e condenação.
O Pai que ao assistir os atos de piedade sinceros e silenciosos, quais sejam: jejum, esmola e oração, com certeza compreenderá o que verdadeiramente significam respectivamente: controle de si dominando tudo que em nós provoca divisões internas e a busca daquilo que nos desordena. A busca pelo cumprimento do mandamento de amor ao próximo, principalmente por aqueles que sofrem à margem da sociedade, que nada possuem para seu sustento justo e humano e o grande desejo de estarmos imersos na presença de Deus!
Tudo isso é resposta àquela pergunta anterior sobre o sentido que a quaresma nos traz. Não se trata de um período de tortura, dores, sacrifícios estranhos e vazios de sentido como expressão de uma fé imatura. A quaresma que tem início hoje é a suma proposta de regresso ao abraço do Nosso Pai que é DEUS e que com tal misericórdia espera-nos em casa. ELE, o PAI de todas as consolações, encheu-se de zelo por sua família e perdoou os seus filhos e filhas que encontram o caminho de volta para casa.
Pe. Jean Lúcio de Souza
Vigário Paroquial – Paróquia Sagrado Coração de Jesus – Mariana/MG